A REPERCUSSÃO DO PROTESTO CONTRA NOVA SCHIN
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A REPERCUSSÃO DO PROTESTO CONTRA NOVA SCHIN


Ontem publiquei um post sobre cultura de estupro, falando do caso da Prudence e, mais especificamente, do comercial hediondo da Nova Schin. Queria só comentar um pouquinho sobre a repercussão do post. O mais divertido até agora foi alguém escrever num vídeo do YouTube: "this video was linked in a popular brazilian communist-feminist blog".
O comercial me lembrou de uma frase de Barbara Kruger que vi aqui: "Toda violência é a ilustração de um estereótipo patético".
Faz todo sentido. O comercial da Nova Schin é uma violência contra a mulher, já que mostra abuso sexual como algo divertido e digno de confraternização entre amigo. E também é a ilustração de um estereótipo patético -- o de que homens são seres incontroláveis e brincalhões que não conseguem ver mulher sem pular em cima dela. Outro estereótipo, bem lembrado pelo Werner nos comentários (tem muito comentário excelente no post, só deixei alguns estúpidos pra provar o meu ponto de que a reação a textos sobre estupro é sempre a mesma), é o de que ver mulher nua em vestiário é brincadeira de menino. 
Ele faz uma pergunta interessante: "A fantasia de poder se tornar invisível e assim poder entrar no banheiro feminino é ideia de moleque. Num comercial de produto com alcool, ou seja direcionado a um público supostamente adulto. Pergunto, esse conteúdo decorre de uma infantilização do público adulto ou é indicativo de um direcionamento disfarçado a menores de idade no apelo publicitário?"
Os dois, certo? Infantilizar, ou melhor, imbecilizar os homens, é comum na mídia -- e, só pra deixar claro, isso nada tem de feminista. A última coisa que a maior parte das mulheres quer é ter que cuidar do parceiro como se ele fosse um bebezão. Mas também é comum da propaganda chamar a atenção das crianças, tentando assim fidelizar o consumidor. Quando é comercial de bebida alcoólica que faz isso, pior ainda.
Uma moça no Twitter (não vou identificá-la pra não expô-la e também porque não sei quem é) disse considerar falsa minha afirmação que o comercial faz apologia ao estupro. Segundo ela, o comercial objetifica as mulheres e "glorifica o assédio de rua". Mas, como os protagonistas não são modelos a ser seguidos e são apresentados como losers, "a 'apologia' se encerra no assédio de rua". E ela me critica por eu não saber diferenciar assédio de abuso. Nesse ponto eu fiquei confusa: ela estava falando do mesmo comercial do que eu?
Pra começar, eu não acho que a peça necessariamente objetifica as mulheres (prometo falar sobre objetificação em breve, noutro post), mas, se objetifica, este nem de longe é seu maior defeito. Segundo, o comercial não glorifica o assédio. Pelo contrário, ele mostra que assédio -- que só acontece no final, quando um dos amigos vai falar com duas jovens, que ignoram sua presença -- não funciona, e que o único jeito desses caras pegar mulher (pegar literalmente) é sem o consentimento delas, possivelmente através de violência (afinal, não vemos o que ocorre dentro do vestiário; vemos apenas as mulheres saindo correndo, aterrorizadas). 
Os amigos, ou pelo menos um deles, é pintado como fracassado. Mas não por querer ficar invisível e atacar mulheres. A parte em que eles se tornam invisíveis não é criticada pelo comercial. É o oposto: essa fantasia é elogiada e vista como o desejo de todos os homens (não de mulheres -- mulher não sonha em ter superpoderes. Pô, mulher nem bebe cerveja, a julgar pelos comerciais de cerveja). 
A leitora ainda escreveu: "vamos consultar o houaiss antes de encher a boca. Assédio é uma coisa, abuso é outra. Grata". É meio pedante mandar galera ler dicionário, principalmente quando a pessoa não faz ideia dos termos que quer definir. O comercial da Nova Schin só trata de assédio no fim. No resto do tempo, é abuso mesmo. Ou a leitora acha que bolinar mulheres (no mínimo! Não sabemos o que os homens invisíveis fazem dentro do vestiário) é assédio? Pela lei de 2009, é estupro.
Percebo que muita gente não entende bem o que é incentivo à violência ou apologia ao estupro. Desconfio que seja o mesmo pessoal que ache que racismo não é chamar um negro de macaco -- racismo seria apenas quando se espanca ou lincha um negro (tipo Ku Klux Klan). É o mesmo pessoal que acha que homofobia não é expulsar um casal gay que troca carinhos numa lanchonete -- homofobia seria apenas espancar esse casal. É o mesmo pessoal que acha que piada de "estuprador não merece cadeia, merece um abraço" não é misoginia -- misoginia seria matar uma mulher (nem espancar nem estuprar mulher conta como misoginia nos livros dessa gente). 
Por essa lógica, pro comercial da Nova Schin fazer apologia ao estupro, ele teria que tornar os caras invisíveis e fazê-los sair por aí violentando mulheres. Só beijar e apalpar corpos que não lhe pertencem não configura estupro, de acordo com o senso comum -- e dane-se o que diz a lei! Bom, gente, desculpe, mas tenho más novas pra vocês. Apologia ao estupro não é (só) motivar um cara a cometer estupro. É contribuir com a cultura de estupro de forma geral. É representar bolinar mulheres como uma grande diversão. É negar que isso seja estupro. É incentivar que um monte de cretinos deixe comentários dizendo "Se eu fosse invisível, faria isso também, êêê!". É banalizar o estupro como se fosse uma brincadeira de garotos pra cima de mocinhas mal humoradas que só estão fazendo charminho. 
Fico feliz que meu post esteja animando tanta gente a protestar. A UOL já noticiou a movimentação em sua primeira página. Estamos usando a hashtag #NovaSchinIncentivaEstupro no Twitter. O órgão que auto-regulamenta a propaganda no Brasil, o Conar, já havia recusado pedido contra o comercial. Mas acho que vale a pena continuar tentando (se bem que o Conar é corporativista e raramente acha alguma propaganda ofensiva). Podemos também escrever para [email protected] , e enviar mensagens para o twitter e facebook da marca. Tem uma página no FB pra dar munição. O fato é que já estamos mostrando nossa força e visibilidade. E vamos boicotar a Nova Schin. Mas aí temos um probleminha:
De todo modo... Retroceder nunca, render-se jamais. Quem tem que se render é a propaganda preconceituosa. 


 




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