Por Mauro Santayana, em seu blog:Até pouco tempo atrás se acreditava que o xadrez surgiu na Índia, mas novas evidências indicam que foi inventado possivelmente na China, no século III antes de Cristo.
Os russos gostam de xadrez, e a ida do ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, a Pequim, onde se encontrou com seu colega chinês, Wang Yang, e com o próprio Presidente Xi Jinping, em momento decisivo para a questão ucraniana, equivale a atravessar com um peão o tabuleiro e transformá-lo em uma segunda rainha.
Na Ucrânia, a OTAN e os EUA cometeram vários erros:
– Derrubaram – ou ajudaram a derrubar – um governo eleito, que, com todos seus defeitos, mantinha o país unido e funcionando.
– Subestimaram a reação russa, acreditando que Moscou permitiria passivamente que Kiev se transformasse em um novo enclave da OTAN em suas fronteiras, e que se jogasse no lixo os acordos assinados quando da saída do país da URSS, no final dos anos 1980.
– Não se prepararam para oferecer – até porque não têm condições para isso – apoio financeiro para manter em pé um país que deve quase 200 bilhões de euros.
– Não conseguiram estabelecer qualquer alternativa viável para substituir o gás russo do qual os ucranianos dependem como sangue para continuar vivendo.
– Acharam que a população ucraniana era, em sua maioria, contra a Rússia, quando, na verdade, o país tem milhões de habitantes que falam russo, descendem de antepassados russos, vivem em cidades “russas”, e não aceitam ser governados por neonazistas, estes sim, uma minoria virulentamente anti-russa e anti-comunista, o que não é apenas ridículo, como anacrônico, quando se considera que o governo Putin não é, nem nunca foi, um governo comunista.
– Subestimaram a posição da Alemanha, achando que ela iria comprar briga com Moscou, quando depende fortemente do mercado russo para suas exportações, e do gás russo para manter em funcionamento sua economia.
A soma de todos esses equívocos explica porque, enquanto a OTAN e os EUA continuam sendo atropelados pelos acontecimentos, Putin segue avançando, a cada movimento, fortalecendo-se e estreitando seus laços com outros países, e especialmente com a China.
Ao enviar Lavrov a Pequim antes das reuniões com a UE, EUA e Ucrânia e advertir que qualquer ataque ucraniano aos civis pró-russos pode abortar as negociações, Moscou deixa claro ao Ocidente que está longe de se sentir isolada diplomaticamente, e que conta com poderoso aliado, caso a situação se complique.
Os chineses têm um ditado que não tem nada a ver com xadrez, mas que serve de alerta para a gula da OTAN em sua expansão rumo às antigas repúblicas soviéticas e ao espaço euroasiático compartilhado por russos, chineses e indianos: “quando o rato cresce até ficar do tamanho do gato, já está passando da hora de empunhar a vassoura”.
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