A última missão do capitão Ronaldo - ELIO GASPARI
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A última missão do capitão Ronaldo - ELIO GASPARI


O GLOBO - 09/02

Passados 43 anos, o capitão Ronaldo Campos desfez a farsa do caso Rubens Paiva, para o bem do Exército


Na madrugada de 20 de janeiro de 1971, o capitão Ronaldo tinha 30 anos e servia no DOI do Rio de Janeiro quando recebeu a missão de ir ao Alto da Boa Vista para simular que um preso fora sequestrado por militantes de esquerda, depois de um tiroteio. Em depoimentos prestados à Comissão Estadual da Verdade do Rio, revelado agora pelo repórter Pedro Bassan, o capitão Raymundo Ronaldo Campos, hoje um coronel reformado, contou que o tiroteio e o sequestro foram uma farsa destinada a encobrir a morte de um preso. Era Rubens Paiva, que havia sido deputado federal e tinha 41 anos. Morrera de pancada no DOI da Barão de Mesquita.

A farsa foi desmascarada já em 1978 pelos repórteres Fritz Utzeri e Heraldo Dias. Eles demonstraram que Paiva, um homem corpulento, não poderia ter saído do banco de trás de um Volkswagen onde estava escoltado por dois sargentos e um capitão, atravessando um fogo cruzado até chegar ao carro dos sequestradores.

Com seu testemunho, já que foi ele quem encenou, relatou e assinou a narrativa do "cineminha", o coronel rompeu um silêncio de 43 anos. Ainda nos primeiros anos da ditadura, dois chefes militares denunciaram as torturas praticadas contra presos políticos: os generais Pery Bevilaqua e Olympio Mourão Filho. Ele mesmo, o que disparou a rebelião militar que depôs João Goulart.

Pery foi cassado em 1968 e Mourão morreu em 1972. Desde então, os comandantes militares vivem aprisionados num pacto de silêncio. Jamais reconheceram a tortura e aferram-se às versões segundo as quais Rubens Paiva fugiu (e sumiu), Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho suicidaram-se e cerca de 40 guerrilheiros do Araguaia simplesmente desapareceram. Militares da velha "tigrada" diziam ao coronel que ele não devia falar, porque "o Exército não vai ajudar em nada." Engano. É o coronel quem está ajudando o Exército.

A farsa do sequestro e o assassinato de Rubens Paiva são dois dos três vértices de um triângulo. Admita-se que foram esclarecidos dois. Um deles foi coisa de um capitão, a mando de um major. Outro poderia ter sido coisa de um tenente. Resta o terceiro: Como o corpo de Paiva foi retirado do DOI? Majores do DOI não tinham autonomia para isso. Num caso anterior, a farsa foi coordenada pelo Centro de Informações do Exército. Seu chefe respondia diretamente ao ministro. Esses episódios não eram coisa de majores, mas diretrizes de generais, que os elogiavam e condecoravam. Morreram todos, mas resta um sobrevivente: o Exército.

Estão vivos pelo menos mais dois majores e um capitão que estavam no DOI no dia da prisão de Rubens Paiva. É possível que eles possam contar se alguém mandou apagar as luzes do pavilhão durante a operação de retirada do cadáver.

SARGENTO GARCIA
Pelo barulho, até parece que o PMDB poderá se afastar do governo.
O PMDB segue garbosamente o slogan do Pasquim: "Um jornal de oposição ao governo da Grécia".

PAES EM PAZ
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, criou uma situação de ganha-ganha. Aumentou as passagens de ônibus e foi para a África do Sul, onde assumiu a presidência do C40, um grupo que discute a situação climática das cidades.
Na quinta-feira, o governador Sérgio Cabral, que congelou as tarifas estaduais, teve que botar na rua a PM para reprimir os protestos.
Em junho passado, o governador Geraldo Alckmin e o prefeito Fernando Haddad estavam juntos em Paris enquanto começavam os protestos de São Paulo. Lá, cantaram uma versão inesquecível do "Trem das Onze", de Adoniran Barbosa.

MADAME NATASHA
Madame Natasha é uma batalhadora da causa do descongestionamento do idioma e concedeu mais uma de suas bolsas de estudo aos transportecas da Companhia de Engenharia de Tráfego, de São Paulo, pela seguinte paralisação idiomática:
"Estão sendo desenvolvidos estudos para identificação e efetivação dos ajustes necessários para aumentar a eficiência e a eficácia do sistema de transporte público coletivo e diminuir o impacto gerado pela faixa exclusiva."
A senhora acha que eles nada tinham a dizer.

AJUDA DE HADDAD
A doutora Dilma e o comissário Alexandre Padilha precisam contratar uma junta de marqueteiros para montar uma campanha publicitária. Nela explicarão por que o prefeito petista da cidade mais rica do país cortou de seis para quatro a cota de lápis para cerca de um milhão de alunos da rede pública.

CARDOZO REVIU A CONDUTA DE TARSO GENRO

Em 2007, durante os Jogos Pan-Americanos, dois boxeadores cubanos, atraídos por um empresário alemão, abandonaram a delegação de seu país. Mobilizada pelo comissariado, a polícia achou-os no interior do Estado do Rio e manteve-os num regime de liberdade vigiada. Mais coisas estranhas aconteceram. Seus advogados viram-se autuados por desacato. O delegado da Polícia Federal Felício Laterça informou que eles se recusaram a pedir refúgio no Brasil, pois queriam voltar ao "país que amam". Dias depois, formalmente deportados, os dois embarcaram num jatinho vindo da Venezuela e o ministro da Justiça, Tarso Genro, disse que os críticos do governo "têm uma visão de que ninguém jamais quer voltar a Cuba, isso é uma rematada bobagem". Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara amavam tanto seu país que fugiram da ilha pouco depois.

Em agosto passado, quando começou a discussão em torno da vinda de médicos cubanos ao Brasil, o advogado-geral da União deu um toque jurídico ao precedente ocorrido no mandarinato de Tarso Genro. Quando lhe perguntaram o que aconteceria se um cubano quisesse pedir asilo, respondeu: "Parece que não teriam direito a essa pretensão. Provavelmente seriam devolvidos". Seria um aviso. Nessa época, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, dizia que isso não vinha ocorrendo em outros países onde havia médicos cubanos. Quem acreditou nele (o signatário, por exemplo) fez papel de paspalho. Quando Padilha dizia isso já haviam pulado o muro dezenas de médicos e o governo americano criara para eles uma porta de acesso ao país, sem contudo assegurar-lhes o direito a exercer a medicina.

Ao buscar a proteção do DEM, a médica Ramona Matos Rodriguez foi mais cautelosa que os dois boxeadores, mas o governo da doutora Dilma comportou-se de maneira muito mais civilizada que o de Lula. Adams ficou calado e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reconheceu o direito da médica de pedir refúgio no Brasil e nega ter posto a polícia no lance.

Há mais de dois mil médicos cubanos trabalhando no Brasil. Pelos mais diversos motivos, não fizeram o que fez Ramona. Felizmente, Cardozo não repetiu a "rematada bobagem" policial ocorrida quando Tarso Genro era ministro da Justiça.




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