A VICE QUE PODE MUDAR A HISTÓRIA AMERICANA
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A VICE QUE PODE MUDAR A HISTÓRIA AMERICANA


A maior prova de que foi uma jogada muito inteligente o Partido Republicano ter optado pela jovem governadora do Alasca, Sarah Palin, pra ser vice de John McCain, é que Barack Obama foi ofuscado. Quinta retrasada era pra ter sido o dia de glória de Obama. Na Convenção Nacional, ele anunciou seu vice, Joe Biden, e toda a mídia só falava sobre como, pela primeira vez na história, os EUA teriam um candidato negro à presidência. Comparações com Martin Luther King, que foi assassinado há 45 anos, viraram clichês. A própria direita americana pedia, desesperada, que sua base aumentasse as doações, já que Obama iria disparar nas pesquisas. Note bem, a campanha do McCain achava que Obama iria deslanchar. Esse gosto da vitória dos democratas durou exatamente um dia – até que McCain divulgou o nome de sua vice. Nas primeiras 48 horas que Sarah foi anunciada, a campanha republicana conseguiu arrecadar dez milhões de dólares em doações. Não dá pra negar que a base a aprovou. Pat Buchanan, colunista político de direita e assessor de Nixon e Reagan, diz que os conservadores não ficavam tão entusiasmados há décadas. E toda a mídia esqueceu Obama e passou a falar somente de Sarah, uma completa desconhecida até poucos dias. Outra colunista de direita, Ann Coulter, que nunca gostou do McCain por não considerá-lo conservador o suficiente, vê Sarah como “a apenas uma batida de coração de ser presidente”. Em outras palavras, é só o velhinho ser eleito e bater as botas que Sarah assume a Casa Branca. E o melhor: mesmo que a constituição americana restrinja a presidência a dois mandatos (num total de oito anos), se o vice assumir no meio, essa regra não se aplica. Ou seja, vamos imaginar que, num cenário sombrio, McCain se eleja e morra um ano depois. Sarah toma posse, cumpre o mandato, e ainda pode concorrer a mais oito anos. Pra falar a verdade, se uma tragédia dessas acontecesse, em 2012 a corrida seria provavelmente entre Sarah e Hillary. Prum país que nunca teve uma mulher como candidata a presidente, ter duas no mesmo ano seria interessante. Então, quem é Sarah? Ela foi Miss Simpatia num concurso de miss. Correu uma maratona. É evangélica. Governa o Alasca há apenas dois anos. Antes disso, havia sido prefeita de uma cidade minúscula. Mas isso não importa pros conservadores. Eles são anti-governo, esqueceu? Pregam o estado mínimo. Odeiam políticos de carreira. Pra eles, alguém com pouca experiência, fora do circuito, é até um bônus. E o principal: Sarah é profundamente de direita. Ela defende tudo que eu, pessoalmente, considero um atraso: não acredita em aquecimento global ou em evolucionismo, é anti-ecologista, pois quer perfurar petróleo até em reservas naturais protegidas, anti-aborto, pró-pena de morte, anti-união gay, e pró-corte de impostos (pros ricos). A mídia tá cavocando o passado da candidata. Impressionante o machismo que a gente tá vendo, e por parte dos liberais, que não deveriam ser assim. Pipocam dúvidas como “Puxa, ela tem cinco filhos, incluindo um bebê com Síndrome de Down que precisa de muita atenção; como ela pode abandonar a família pra ser vice-presidente?”. É o tipo de pergunta que jamais seria feita se ela tivesse um pênis. Joe, por exemplo, vice do Obama, perdeu sua mulher num trágico acidente de carro na década de 70. Quando foi eleito senador, tinha dois filhos pequenos pra criar sozinho. Ninguém o criticou por assumir o mandato e não poder se dedicar integralmente à prole. Fora isso, há rumores que o bebê de Sarah não é filho dela, e sim de sua filha. Os republicanos divulgaram que a filha de 17 anos está grávida – sem ser casada, o que não cai bem pros conservadores (sexo, só dentro do sagrado matrimônio). Mas eles estão tão felizes com Sarah que relevam: “É muito melhor que ter um aborto”. Acho chato que alguém como Sarah, que é contra educação sexual nas escolas, tenha uma filha menor de idade que engravida. Mas não sou seu público-alvo. Descobriram que o marido de Sarah participou de um movimento separatista que queria a independência do Alasca do resto dos EUA, tipo “O Alasca é meu país”. E é aquele negócio: os EUA são tão, mas tão racistas, que o marido da Sarah é considerado “mestiço” por ter um oitavo de sangue esquimó (veja a foto pra ver como ele é a cara de um esquimó). Sério, um oitavo! Um dos bisavós dele deve ter sido esquimó. Aí o casamento dele com Sarah é visto como uma “união interracial”. Não é piada! Imagina no Brasil que um branco tenha um dos bisavós negro. E esse branco se casa com uma branca. Você consegue imaginar alguém chamar o casamento de interracial? Pois é, só louco. Um dos pontos que deixa a base conservadora mais feliz é que Sarah é pró-armas. Inclusive, ela adora caçar. Sabe o que ela e outros da sua laia gostam de fazer? Pegam um helicóptero e sobrevoam os lugares selvagens, atirando em lobos, alces, e mães do Bambi. Isso é chamado de esporte! Um charme. Enfim, se os republicanos vão ganhar as eleições (graças a Sarah) eu não sei, mas sem dúvida foi uma decisão sábia. Deu um gás muito necessário à campanha do McCain. Não acho que partidárias da Hillary vão apoiar a Sarah (as duas candidatas são totalmente opostas, e a única coisa que têm em comum é que são mulheres). Mas pode fazer com que os eleitores conservadores, que não andavam muito entusiasmados com seu candidato, compareçam às urnas por causa da Sarah (lembre-se: o voto não é obrigatório. Menos da metade das pessoas aptas a votar acaba votando). Numa eleição tão dividida, pode fazer toda a diferença.




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