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A volta da energia nuclear? - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 09/11
Foi um dia de júbilo na Areva, o grupo nuclear francês, líder mundial em sua especialidade, que na quinta-feira firmou um contrato de 1,25 bilhão com a Eletronuclear para terminar a construção de Angra 3 no Brasil. Esse contrato é uma dádiva divina. De fato, no mundo inteiro, há algumas temporadas em que o setor nuclear registra dissabores, revezes, fracassos e dúvidas. O contrato de Angra 3 faz renascer a esperança.
Muitos infortúnios atingiram a energia nuclear civil. O primeiro foi a radicalização e o talento dos adversários desse modo de energia.
Depois, em 2011, houve a catástrofe de Fukushima, no Japão. E isso não foi tudo: a Alemanha, que ocupava o quinto lugar entre os produtores de energia nuclear, interrompeu bruscamente todos os seus programas.
Duas outras circunstâncias jogam contra a energia nuclear. A primeira é a revolução do "gás de xisto", que aplaca a fome do maior consumidor de energia, os Estados Unidos. Paralelamente, a construção de centrais de terceira geração, EPR (reator de água pressurizada), sofreu revezes espetaculares. A França, que está na vanguarda neste setor, assinou contratos enormes de EPR, mas sua execução se mostrou desastrosa (Olkiluoto na Finlândia e Flamanville na França): complicações técnicas, prolongamento dos atrasos e aumento dramático de custos.
Espalhou-se assim a convicção de que a energia nuclear estava em recuo, para alguns até, em fase terminal. A Suíça anunciava que o fechamento de sua central de Mühleberg fora antecipada para 2019.
Notícias positivas. Entretanto, a todos estes sinais sombrios, opunham-se aqui e ali notícias mais risonhas. A Jordânia acaba de encomendar dos russos sua primeira central nuclear, E, sobretudo, há algumas semanas, os ingleses encomendavam da francesa EDF dois reatores EPR de terceira geração fornecidos pela Areva, pela soma impressionante de 19 bilhões.
A escolha recente do Brasil seria a confirmação desta melhora? Isto é particularmente crucial para o grupo francês porque o ex-presidente Lula havia decidido, em 2008, fortalecer o setor e construir quatro ou cinco reatores até 2020. A escolha de Lula será confirmada? Seja como for, a Areva terá concorrentes fortes pela frente: russos, chineses, americanos ou japoneses.
E depois? A Areva negocia dois contratos de EPR com a China e dois com a Índia (cerca de 8 bilhões por central). A Areva tem a esperança de construir 16 centrais no total até 2016 - cifra, ao que parece, um tanto otimista.
A pergunta que fica então é sobre as necessidades possíveis ou prováveis. É nos países emergentes que as promessas são maiores. A China puxa o pelotão por causa de seu poder, seu apetite de ogro. O país já possui 18 reatores em atividade. Ele precisa, segundo seus engenheiros, de 29 novas centrais. Outros países deverão se converter também para a energia nuclear. Fala-se da Polônia, em primeiro lugar, mas igualmente do Vietnã e até de Bangladesh.
Estas promessas serão suficientes para reverter a tendência e consolidar um setor nuclear que está em nítido recuo há alguns anos e que voltou a seus níveis de 1984? O prognóstico é delicado, ainda mais que se este tipo de energia retomar seu crescimento, as ações dos ecologistas que se acalmaram nos últimos alguns anos, seriam retomadas com redobrada agressividade.
"O setor nuclear", profetiza um dos mais virulentos adversários dessa energia, Myckle Schneider, "há muito que entrou em fase de declínio." /Tradução de Celso Paciornik
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