A xenofobia cresce na Europa
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A xenofobia cresce na Europa


Por Gianni Carta, na revista CartaCapital:

Dois eventos na segunda-feira (15) não poderiam ser mais colidentes. Em Paris, o presidente François Hollande finalmente inaugurou o Museu da Imigração, criado sete anos atrás. Em Dresden, na Saxônia, o Pegida, sigla para “Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente”, aglutinou 15 mil manifestantes, entre eles vários jovens neonazistas. Em uníssono, a multidão gritava: “Basta com a Sharia (lei islâmica) na Europa”. Detalhe: na Saxônia há 2,1% de estrangeiros, dos quais 0,1% é de muçulmanos.

Um terceiro evento, marcado para sábado 20, em Milão, é também contraditório diante do simbólico gesto de Hollande. Trata-se de um encontro do Movimento Nacionalista dos Povos Europeus, composto de legendas e grupos de extrema-direita de toda a Europa. Os holofotes serão jogados sobre Udo Voigt, líder do Partido Nacional Democrata Alemão, ou NPD, e, desde maio, deputado em Bruxelas. Em 2004, Voigt, de 62 anos, foi condenado por ter dito: “Não há dúvidas, Hitler foi um grande estadista alemão”.

A xenofobia está, mais uma vez, em ascensão no Velho Continente. Em comum, a extrema-direita quer barrar ou expulsar imigrantes e aqueles em busca de asilo. Pretende pôr um fim no acordo de Schengen, que permite a livre circulação de cidadãos europeus por 26 países. Almejam a eliminação do euro e, por tabela, o naufrágio da União Europeia para, e assim, reaver maior autonomia nacional. A crise econômica, é claro, faz eleitores de diferentes tendências ideológicas migrar para os partidos de extrema-direita.

Por essas e outras, integrantes de partidos de centro-direita, como o UMP, e seu líder Nicolas Sarkozy, candidato à Presidência em 2017 na França, adotam o discurso. O principal alvo, quiçá o mais fácil no contexto de “perda de identidade”, é o estrangeiro. Motivo: ele oferece a face a uma mescla de temores. Resumiu na segunda-feira 15 Hollande: “Os estrangeiros são sempre acusados dos mesmos males... São sempre os mesmos preconceitos, as mesmas suspeitas invariavelmente impingidas”. Até numerosos cidadãos de países escandinavos, outrora considerados tolerantes, passaram a colocar estrangeiros na cruz.

Segundo enquetes de intenção de voto, o Partido do Povo Dinamarquês (PPD), de extrema-direita e liderado por Kristian Thulesen Dahl, estaria na dianteira nas eleições legislativas que poderão ocorrer a qualquer momento. O Partido Social-Democrata, da premier Helle Thorning-Schmidt, figura nas pesquisas em terceiro lugar com 19,8% dos votos. Em primeiro, o PPD, com 21,2%, seguido pelos Liberais, com 20,9%. Uma aliança entre PPD e Liberais não pode ser descartada. Na Noruega, o Partido do Progresso está no governo desde as legislativas de 2013. Siv Jensen, ministra das Finanças, faz campanha contra a “crescente islamização” do país. Já na Suécia, a legenda Democratas Suecos, igualmente anti-imigração, obteve um acréscimo de 13% dos votos no Parlamento em eleições realizadas há poucos meses. Por não conseguirem ter impacto sobre o governo, defrontaram-se com o impasse e um novo pleito foi marcado para março.

Desde as eleições legislativas de 2010, o Partido para a Liberdade (PVV), do controverso Geert Wilders, é o terceiro da Holanda. Com sua juba prateada, Wilders, de 51 anos, chama o Islã de “religião totalitária”. Não escasseiam líderes a condenar extrapolações da extrema-direita. No entanto, governos de centro-direita, e mesmo de centro-esquerda, são confrontados por outras siglas de suas alianças. A chanceler alemã, Angela Merkel, condena o Pegida por “agitação e difamação”. Por sua vez, o ministro social-democrata da Justiça, Heiko Maas, chamou o movimento de “uma desgraça”. No entanto, a legenda de centro-direita da Bavária, União-Social Cristã (CSU), a integrar a aliança de Merkel, alega que Heiko Mass “denegriu maciços protestos pacíficos”. A CSU já havia causado polêmica ao dizer que estrangeiros deveriam falar alemão até em casa, mas acabou por retratar-se. Bernd Lucke, do Alternativa para a Alemanha (AfD), afirmou: “Várias das demandas deles são legítimas”.

O premier italiano de centro-esquerda, Matteo Renzi, dirige o país em aliança com a direita. O ministro do Interior e líder da Nova Centro-Direita, Angelino Alfano, anunciou a repressão a camelôs e feirantes de praias, quase sempre estrangeiros. Do seu canto, a Liga Norte deixou de ser separatista sob a liderança de Matteo Salvini, de 41 anos. No entanto, para Salvini o grande inimigo é o estrangeiro. O ex-premier Silvio Berlusconi flerta com Salvini para formar uma aliança nas próximas eleições, mas terá de deixar de fazer pactos com Renzi, como o da reforma do sistema eleitoral. Salvini, sublinhe-se, foi hábil ao não aceitar o convite para participar do encontro do Movimento Nacionalista dos Povos Europeus, em Milão. Rejeição nada apreciada por Roberto Fiore, anfitrião do evento e líder do Partido Força Nova. Ex-parlamentar em Bruxelas, quando substituiu Alessandra Mussolini, em 2009, Fiore simpatiza com o fascismo.

No caso do trabalhista Ed Milliband, líder da oposição britânica ao governo conservador do premier David Cameron, parece ser preferível, às vésperas de legislativas em 2015, evitar o delicado tema “imigração”. Diante da força crescente do Partido de Independência do Reino Unido (UKIP), de Nigel Farage, Cameron agendou um referendo para renegociar a permanência do país na União Europeia em 2017.

Na segunda, Hollande evocou imagens fortes de sucessivas ondas migratórias a pontuar a história da França. E, assim, lançou sua campanha para 2017. Não deu nomes aos bois, ou aos “demagogos”. Eles são Sarkozy e Marine Le Pen, a líder do Frente Nacional. Le Pen reconheceu o Holocausto negado pelo pai, mas luta contra a “islamização da França”. Como escreveu Carine Fouteau, do website Mediapart, se Hollande tivesse feito esse discurso a favor da imigração no início de seu mandato, as perspectivas seriam outras. Agora é tarde. “Hollande luta contra oponentes munidos de armas reais.” Segundo as pesquisas, Le Pen venceria Hollande no segundo turno.




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