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Acabou o recreio - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 01/07
Os petistas se apressavam ontem em dizer que a eleição ainda está longe e, portanto, não dá para afirmar que Dilma Rousseff está no pior dos mundos. Mas a queda na avaliação da presidente faz com que ela fique em situação mais delicada do que aquela em que se encontrou o próprio Lula em 2005, quando o mensalão nocauteou a direção do PT. Agora é mais preocupante porque, naquele período, a economia estava bem e não havia, dentro da base aliada, ninguém com condições de seguir carreira solo. E, para completar, o PT e o PCdoB parecem ter perdidos as condições de mobilização para empreender um fica, Dilma, da mesma forma que entoaram um fica, Lula.
As manifestações, por mais que os petistas digam não estarem direcionadas à figura da presidente, prejudicam mais quem está no poder, conforme dito por todos os analistas desde o início do processo. Portanto, os petistas têm razão quando classificam o desgaste como natural. Mas o poço é mais profundo e, para percebê-lo, é preciso avaliar como foi a sobrevivência de Lula em 2005 e aplicá-la à situação atual.
Desde o mensalão, o PT se equilibra no poder por conta da popularidade de Lula, dos programas sociais de largo alcance e de um presidencialismo de coalizão que tratou de abarcar todos os partidos, sufocando adversários internos e externos. Esse último item só obteve sucesso à época graças ao carisma do então presidente perante a classe política e uma economia nos trilhos.
Dilma, até aqui, praticamente desprezou os políticos. Chamou-os na semana passada, quando sentiu o calor das manifestações às portas do Planalto. E foi atendida porque, na cabeça deles, dizer não a uma presidente popular pode terminar criando problemas maiores. Agora que a popularidade dela começa a dar sinais de vencimento, tem muita gente apostando que a vida dela perante os políticos ficará mais difícil ainda, especialmente no que se refere a votações no Congresso. Agora, ou modifica o estilo de não ouve e faz tudo do jeito dela ou passará por uma onda de derrotas.
No cenário atual, avaliam alguns, nem a hipótese do volta, Lula parece ser a mais viável para os partidos. O próprio ex-presidente tem dúvidas em relação a isso, daí o seu silêncio. Afinal, quando ele recebeu Dilma e Fernando Haddad em São Paulo, na segunda semana de junho, foi taxado de copresidente de seus postes. Agora que ele está praticamente calado, todos correm para dizer que Lula torce para que Dilma viré pó e o PT vá buscá-lo para reassumir uma candidatura. Aliados de Lula garantem que não é nem uma coisa nem outra. O PT vendeu tanto a imagem de Lula-Dilma/Dilma-Lula, que dissociá-los agora soaria falso. Portanto, a candidata ainda é Dilma, e o ex-presidente pretende voltar a campo para reelegê-la. Afinal, ele também, em todas as oportunidades, enfrentou eleição em dois turnos.
Para que esse jogo dê certo, a presidente terá que fazer a sua parte em ações combinadas com o partido. Não por acaso, ontem ela reuniu apenas os ministros do PT. Dilma sabe que é o grupo com que mais poderá contar para o que der e vier. Em relação aos aliados, a avaliação dos petistas é a de que a maioria dos partidos segue o próprio rumo, sem hesitar em dar um adeus ao PT, se essa for a jogada que resultará na sobrevivência.
A avaliação de muitos é no sentido de que a presidente pode recuperar o terreno se aproveitar esse segundo semestre para se dedicar de corpo e alma a medidas capazes de fazer a economia respirar melhor. Nesse quesito, está em curso a discussão da reforma ministerial na roda das conversas governamentais, incluindo aí a hipótese de enxugamento da máquina. Afinal, é preciso dar sinais positivos ao mercado e à população, concentrando os recursos nas áreas mais sensíveis, objeto da reunião ministerial de hoje.
E, nesse ínterim, calculam os petistas, Lula votará da África para ajudar a segurar a política. Falta, entretanto, combinar com os manifestantes, que continuam nas ruas pedindo melhoria dos serviços; e com a própria classe política, que vai ao Palácio, toma café, conversa, mas a cada dia se sente mais afastada do governo. Será a tarefa de Lula, agora, fazer com que os políticos se reaproximem de Dilma, da mesma forma que fez na campanha presidencial. Afinal, ele ainda continua popular. Embora (ainda) não se apresente como candidato.
Enquanto isso, nos estádios...
Essa Copa das Confederações talvez tenha servido para marcar o fim da carona que muitos na classe política sempre tiveram no futebol e vice-versa. Afinal, desde que Dilma recebeu aquela retumbante vaia no Mané Garrincha, em Brasília, os políticos preferiram não arriscar grandes investidas nessa área. Que receba os vencedores depois, que faça a foto palaciana. Mas posar na arena, parece restrito aos profissionais da área. Já não era sem tempo.
O PT vendeu tanto a imagem de Lula-Dilma/Dilma-Lula, que dissociá-los agora soaria falso. Portanto, a candidata ainda é Dilma, e o ex-presidente pretende voltar a campo para reelegê-la
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