Acidente na Cutrale não dá manchete
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Acidente na Cutrale não dá manchete


Por Altamiro Borges

Em outubro de 2009, a mídia "privada" fez o maior terrorismo contra uma ocupação do MST que destruiu alguns pés de laranja numa fazenda da poderosa Cutrale, no interior de São Paulo. A TV Globo exibiu as cenas durante vários dias com nítidos objetivos políticos-eleitorais. Nesta terça-feira (26), porém, um ônibus que transportava 11 trabalhadores para a mesma fazenda, em Iaras, sofreu um grave acidente. Todos eles ficaram feridos - um deles com traumatismo craniano - e foram levados ao hospital de Cerqueira César. Neste caso, a mídia não dá manchetes, não faz escândalo. Acidentes e mortes de lavradores são "naturais" para a imprensa do capital.

Segundo relato de Rosimeira de Almeida, assentada do MST na região, as condições de trabalho na Cutrale são as mais precárias. Ela não tem transporte próprio e contrata empresas prestadoras de serviços. "Uma pessoa aluga o ônibus, em péssimas condições, para levar os trabalhadores de diversos municípios para a Cutrale. Como a empresa não se envolve nesse processo, ela fica livre de qualquer responsabilidade caso algo ocorra. A culpa pelo acidente vai cair em cima apenas do dono do ônibus, e não da empresa”.

Numa reportagem no sítio do MST, o dirigente cutista Adir dos Santos Lima afirma que os acidentes são comuns na região. "Esses ônibus são sucata que vem da cidade para o campo, porque na cidade há uma série de proibições que impedem a circulação desses ônibus. No campo, isso não existe. Tenho certeza que o dono da Cutrale jamais poria seus cavalos nesse tipo de veículo", afirma o sindicalista, que cobra posturas mais duras do governo. "Precisamos de uma fiscalização do Ministério dos Transportes para que isso pare de acontecer”.

Ainda segundo a matéria, não é só o transporte que é precarizado na Cutrale. "Durante o Tribunal Popular da Terra ocorrido em 2012, trabalhadores da empresa denunciaram as situações de exploração que viviam, como receber apenas 29 centavos por cada caixa de laranja colhida. A caixa pesa de 48 a 50 Kg e devem ser carregadas pelos próprios trabalhadores que realizam a colheita, resultando em problemas de coluna, LER (Lesão de Esforço Repetitivo) e outras doenças. Outro problema é a aplicação de agrotóxicos pela empresa, que contamina os rios e represas da região de Iaras e é responsável pelo surgimento de doenças nos trabalhadores".
“As condições de trabalho são muito precárias. O transporte é velho e perigoso, os trabalhadores têm jornadas e condições de trabalho excessivas, muitas vezes não tendo nem o que comer durante o trabalho. Temos de denunciar essas condições precárias de trabalho e de vida, e cobrar da Cutrale a obrigação de fornecer transporte, alimentação e uma jornada de trabalho adequadas”, afirma Adir dos Santos. Estes graves problemas, porém, não são notícia na mídia ruralista. Ela prefere criminalizar o MST e defender os interesses do capital - até porque a Cutrale garante milionários anúncios publicitários na imprensa "privada".




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