Por Altamiro BorgesO segundo turno da eleição presidencial está agitando as universidades pelo país afora. Docentes, reitores e funcionários finalmente decidiram ingressar no embate sobre os rumos da educação e do Brasil nos próximos anos. Diariamente, eles se unem às lideranças estudantis – que já estavam engajadas na campanha – em manifestações contra o retrocesso que representaria a vitória do cambaleante tucano Aécio Neves. Nesta segunda-feira (20), mais de 300 professores e estudantes lotaram o Salão Nobre da Faculdade Nacional de Direito (FND) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no “ato em defesa da universidade pública e mais avanços”.
O evento contou com a presença do vice-reitor da UFRJ, Carlos Antônio Levi; do vice-reitor da Universidade Federal Rural, Eduardo Callado; do diretor da FND, Flávio Martins; e da presidenta da UNE, Vic Barros, entre outros. A líder estudantil lembrou que o reinado de FHC sucateou a educação e destacou os avanços ocorridos nos últimos 12 anos. “Com Lula e Dilma, conquistamos a duplicação de vagas nas universidades federais, a criação de universidades no interior do país, a contratação de milhares de professores, o novo ENEM como instrumento de acesso, as cotas, o Plano Nacional de Assistência Estudantil, investimentos robustos em pesquisa e extensão e 10% do PIB para educação”.
No consenso que vai se formando na comunidade acadêmica contra o retrocesso tucano, vale registrar o incisivo artigo do renomado intelectual Vladimir Safatle, ex-candidato do PSOL ao governo de São Paulo, publicado na Folha desta terça-feira (21). Reproduzo-o abaixo:
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A educação de Aécio
Quem realmente se importa com a educação nacional não pode decidir seu voto sem antes refletir sobre alguns dados a respeito de nossas universidades. Queiram seus protagonistas ou não, esta é uma eleição de retrovisor. Não só o governo apoia-se principalmente naquilo que já fez, usando o discurso da perda possível do que foi conquistado como motor de mobilização. A oposição também se apresenta com basicamente os mesmos personagens vindos do finado governo FHC.
Desde o responsável pelo programa econômico até a responsável pelo programa de educação, todos, a começar pelo próprio Aécio Neves, estiveram organicamente ligados aos oito anos de governo FHC. Não houve autocrítica alguma nem renovação ou reposicionamento a partir dos fracassos passados. Por isso, impossível não esperar a reedição do que o país já viu nos anos 90.
Vale a pena insistir neste ponto porque o legado educacional desses anos foi lamentável. Durante oito anos, o país não inaugurou nenhuma (há de se sublinhar, nenhuma) nova universidade federal. Ao contrário, quando o sr. Paulo Renato entregou seu cargo de Ministro da Educação, o país conhecera oito anos sem concursos públicos para professores universitários, deixando um déficit de 7.000 professores no sistema nacional.
Apenas a título de exemplo, a UFRJ, uma das mais importantes universidades do país, diminuiu (sim, diminuiu) em 10%, sendo obrigada, entre outras coisas, a fechar cursos noturnos por não ter dinheiro para pagar a conta de luz (não, isso não é uma metáfora). Bem, depois de 2002, 18 novas universidades federais foram inauguradas.
Como se não bastasse esse legado, seu partido, no governo do Estado de São Paulo há mais de duas décadas, é atualmente responsável direto pela situação falimentar das universidades paulistas. Afinal, é o governador do Estado que indica os reitores, muitas vezes contra as escolhas da maioria da comunidade acadêmica, como foi com o polêmico senhor João Grandino Rodas. Nestes anos de Tucanistão, o Estado paulista impôs um ritmo de crescimento às universidades desprovido de dotação orçamentária para tanto. O resultado é a crise que aí está.
Agora, se isso não basta, façam uma pesquisa e perguntem qual é a situação da Universidade Estadual de Minas Gerais, esta sim sob a responsabilidade direta do senhor Aécio e seu grupo. Suas condições deterioradas de trabalho, com seus professores "designados" e sua infraestrutura precária, são conhecidas no meio acadêmico e motivos de greves periódicas.
Com toda esta história e este presente, há de se perguntar: é essa "renovação" que o país precisa?
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