Aécio perde Minas, mas surpreende

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

O tucano Aécio Neves vai disputar o segundo turno das eleições presidenciais de 2014 com Dilma Rousseff com um percentual de votos maior do que indicavam as pesquisas: 33%, contra 41% da presidente. Isso significa que os eleitores de Marina Silva, do PSB, vão definir a eleição: foram 21%.

Em 2010, Dilma herdou cerca de 60% dos votos de Marina no segundo turno. Mas, agora, as coisas são diferentes: na campanha de primeiro turno, as baterias de Dilma e do PT se voltaram contra Marina. Saberemos, afinal, quantos votos tem a Rede, já que os eleitores mais tradicionais do PSB deverão ficar com Dilma.

Em 2010, com Marina presente no primeiro turno, José Serra teve 33% dos votos. Ou seja, Aécio repetiu Serra. Por outro lado, no primeiro turno de 2006 Lula teve 48% dos votos e em 2010 Dilma atingiu 47%, contra 41% agora.

Dilma inicia a campanha do segundo turno, de três semanas, com vantagem de 8% sobre Aécio.

Petrobras e o doleiro Youseff deverão dominar o noticiário, mas o PT também dispõe de munição para atirar: mensalão tucano, aecioportos, trensalão e outros.

Em pesquisas recentes, 58% dos eleitores de Marina se disseram inclinados a votar em Aécio num segundo turno, contra 24% para Dilma. Agregando isso aos números de votos efetivamente conquistados neste domingo, no segundo turno Dilma e Aécio estariam empatados com 46% cada.

Ou seja, a disputa pelo Planalto poderá ser decidida no detalhe, que inclui desde tirar de casa os eleitores que se abstiveram neste domingo até atrair os eleitores dos assim chamados candidatos “nanicos”, como Luciana Genro, do PSOL, que teve 1,5% dos votos mas não pretende apoiar PT ou PSDB no segundo turno.

Aécio Neves vai terminar a noite tranquilo, mas nem tanto: depois de 12 anos, perdeu o controle de um dos estados mais importantes da Federação, Minas Gerais, onde o petista Fernando Pimentel venceu no primeiro turno.

Outros candidatos eleitos em primeiro turno (da Folha):



Na Bahia, o petista Rui Costa foi eleito em primeiro turno com 54% dos votos, contra 37% de Paulo Souto, do DEM.

No Ceará, haverá segundo turno entre o petista Camilo Santana (47,65%) e Eunício Oliveira, do PMDB (46,46%).

Destaque também para a vitória de Flávio Dino, do PCdoB, no Maranhão, que destronou a oligarquia Sarney com 63,57% dos votos.

Para lamentar, a vitória de Lasier Martins (PDT-RBS) sobre Olívio Dutra (PT) na disputa pelo Senado do Rio Grande do Sul (37% a 35%).

No Rio de Janeiro, uma surpresa: com 99,72% dos votos apurados, Pezão (PMDB) teve 40,72%, Marcelo Crivella (PRB) 20,22% e Garotinho (PR) 19,67%. Haverá segundo turno entre Pezão e Crivella.

Se houve reflexo dos protestos de junho de 2013 nas eleições deste ano, foi na taxa de abstenção + brancos + nulos: cerca de 28%. Em geral, no entanto, foram eleitos políticos tradicionais: para o Senado, José Serra, Álvaro Dias, Tasso Jereissati e outros.

Finalmente, houve erros grotescos das pesquisas eleitorais e das pesquisas de boca-de-urna.

Vejamos um exemplo:

Última pesquisa do Ibope para São Paulo, divulgada no sábado: Alckmin 57%, Skaf 24%, Padilha 14%.

Boca de urna do Ibope: Alckmin 52%, Skaf 22%, Padilha 20%.

Resultado nas urnas: Alckmin 57%, Skaf 21%, Padilha 18%.

Ou seja, considerando a margem de erro de mais ou menos dois pontos percentuais, o Ibope ficou três vezes fora da margem.

Um segundo exemplo, da Bahia:

Última pesquisa, divulgada sábado: Rui Costa 36%, Paulo Souto 36%, Lídice 4%.

Boca de urna: Rui Costa 49%, Paulo Souto, 39%, Lídice da Mata 9%.

Resultado nas urnas: Rui Costa 54%, Souto 37%, Lídice 6%.

Ou seja, quatro erros fora da margem, um deles de 18%!

Exemplo final, do Rio Grande do Sul:

Pesquisa Ibope divulgada sábado: Tarso Genro 40%, Ana Amélia 31% e Ivo Sartori 23%.

Boca de urna: Tarso Genro 35%, Ivo Sartori 29%, Ana Amélia 26%.

Resultado nas urnas: Sartori 40%, Tarso 33%, Ana Amélia 22%.

Neste caso, o Ibope cometeu seis erros fora da margem, alguns com diferenças abissais!

Nos próximos dias será possível fazer um balanço mais apurado dos erros cometidos pelas pesquisas eleitorais, o que deixa evidente a necessidade de algum tipo de regulamentação para o setor. Especialmente se ficar comprovado que as pesquisas são manipuladas para promover o financiamento de campanhas e a viabilidade de candidatos, para não falar na tentativa pura e simples de distorcer a vontade do eleitorado.

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