Afinal, Lula, que * é essa? - RICARDO NOBLAT
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Afinal, Lula, que * é essa? - RICARDO NOBLAT


O GLOBO - 10/02

"Na política, nunca podemos dizer nunca".
Lula, ex presidente
Concorda com a frase lá de cima, "Na política nunca podemos dizer nunca"? Bem, eu concordo. E parto dela para compartilhar com vocês o que penso. Por exemplo: Sarney apoiou a ditadura militar de 1964 até a véspera de ela cair 21 anos depois. Então, rapidinho, passou para o lado dos que a combatiam. Entendeu? É confuso. Outro exemplo? Em 1989, Lula e Collor brigaram pela presidência da República

COLLOR GANHOU chamando Lula de comunista. Lula perdeu chamando Collor de desonesto. Hoje, um apoia o outro. Último exemplo? Foi Lula quem fez Joaquim Barbosa ministro do Supremo tribunal Federal.

Os dois sempre estiveram do mesmo lado. No último sábado, sem citar o nome dele, Lula bateu duro em Joaquim. Acusou-o de ter condenado inocentes.

Sugeriu que Joaquim será candidato a alguma coisa.

POR QUE LULA procedeu assim? Porque o Ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, contou à "Veja" o que ouviu de Joaquim no final do ano passado. Em resumo, Joaquim disse que cansara. A experiência de ser ministro já estava de bom tamanho para ele. Desde então, segundo Marco Aurélio, "ventila-se" no Supremo tribunal Federal (STF) que Joaquim será candidato à vaga de Dilma.

(CALMA, NOBLAT.) Em 2005, estourou o escândalo do mensalão que quase derrubou o governo. Mensalão foi o nome dado ao esquema de compra de votos com dinheiro público para que Lula governasse. Nunca teve nome o esquema de compra de votos no Congresso que permitiu a reeleição de Fernando Henrique. Política é negócio. Um negócio milionário. Dê-me o que quero e lhe darei o que você quer. Nada sai de graça.

ESTOU DANDO voltas porque escrevo cansado. Vamos adiante, todavia. Ameaçado pelo escândalo, Lula ocupou uma cadeia nacional de rádio e de televisão para pedir desculpas aos brasileiros, negar que existira mensalão e se dizer traído. Suas mãos tremiam. Mensalão? Jamais ouvira falar, disse. Corrigindo: ouvira uma vez, sim senhor. Foi quando recebeu em audiência o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), seu aliado.

MANDOU INVESTIGAR o que Jefferson lhe contou. A investigação no Congresso durou uma semana. Nada foi descoberto. Lula ouviu falar do mensalão pela segunda vez quando visitou Goiás. O governador Marconi Perillo alertou-o para a compra do passe de deputados. E Lula? Na boa... Nem aí. Temeu- se depois que ele fosse capaz de se matar. Foi salvo pelo ministro José Dirceu. (Se gosto de Dirceu? Gosto sim, política à parte.)

QUANTO AOS TRAIDORES... Bem, Lula não apontou nomes de traidores. Afinal, como reclamar do julgamento daqueles que o traíram? Incoerência total.

Falta de compromisso com a verdade. Nada que seja estranho à política cujas bases são a mentira, a fraude e a enganação. Lula não parecia um político melhor nem pior do que qualquer outro.

Era diferente, apenas. Deixou de ser.

PODERIA TER DITO com toda a clareza possível que seus traidores não foram esses que estão atrás das grades. E mais o que está preso na Itália. E nem os que estão dentro do STF. Seria a forma mais eficiente de defendê-los. Mas tal coisa seria o mesmo que admitir que o mensalão existiu. E que ele, Lula, de fato fora traído.

O SILÊNCIO É A MAIS preciosa lei da máfia. E ele tem preço. Tanto no caso do traidor como no de quem se sente traído. Ensinam os manuais sobre traições: morra sem confessar. Se for o caso, valerá o preço de ir para o inferno mentindo. Que saudade de "O Poderoso Chefão".




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