Por Altamiro Borges
Daria até uma manchete garrafal, mas a Folha preferiu evitar maior alarde. Na edição deste domingo (13), o jornal revela que "o governo de São Paulo, comandado pelo tucano Geraldo Alckmin, pagou R$ 1,5 milhão ao empresário João Doria Jr., um dos pré-candidatos do PSDB à prefeitura paulistana, por anúncios veiculados em sete revistas da Doria Editora, entre 2014 e abril deste ano". Escrita pelo repórter Alexandre Aragão, a reportagem é informativa, sem qualquer opinião ou veneno. Até caberia um duro editorial da famiglia Frias, exigindo apuração rigorosa e, quem sabe, a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembleia Legislativa. Mas ai já seria pedir muito!
Diferentemente do tom raivoso adotado quando se trata da publicidade do governo federal, a matéria é bem comportada. Ela faz questão de ressaltar que os pagamentos ao empresário tucano "foram intermediados por duas agências publicitárias contratadas pelo governo, Mood e Propeg, escolhidas por licitação, e seguiram os trâmites que regulam a publicidade estatal". Ela também evita qualquer comentário ácido contra o picareta João Doria, "presidente do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), que organiza eventos para empresários de diversas áreas, como o Fórum de Comandatuba, na Bahia. Sua editora possui 19 títulos, que em boa parte são atrelados aos encontros que promove".
Mesmo assim, os dados apresentados são suspeitos, para não dizer escandalosos. "Em um dos casos, o governo pagou R$ 501 mil por um publieditorial - formato em que o anúncio é semelhante a uma reportagem - de nove páginas na 'Caviar Lifestyle', que declara circulação de 40 mil exemplares. Há casos em que os valores pagos pelo governo foram proporcionalmente maiores em anúncios da editora do que em revistas consolidadas, que passam por verificação independente de circulação".
"No dia 5 de dezembro, o governo pagou R$ 259 mil por um anúncio de oito páginas na revista 'Meeting & Negócios'. Em 15 de janeiro, repassou R$ 202 mil por um anúncio de quatro páginas na 'Líderes do Brasil'. Uma propaganda com o dobro do tamanho na 'Exame', da Editora Abril, custou R$ 292 mil. Também em janeiro, por um anúncio de duas páginas na 'Época', da Editora Globo, o governo pagou R$ 71 mil. Já a Editora Três cobrou R$ 479 mil do governo por 18 páginas na 'IstoÉ'". A matéria registra ainda que nenhuma das revistas da Doria Editora é certificada pelo (IVC) Instituto Verificador de Comunicação, que audita a distribuição das principais publicações do país.
Ao final, a reportagem lembra que João Doria Jr. é filiado ao PSDB desde 2001, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. "Ele foi secretário de Turismo na prefeitura de Mário Covas (1983-86), mas nunca disputou eleições. O empresário mantém relação próxima com Alckmin, a quem apoiou na campanha à reeleição no ano passado". Ela não menciona, porém, que o direitista convicto foi um dos principais líderes do fracassado movimento "Cansei", que reuniu o esgoto das elites contra o ex-presidente Lula. Também não cita o seu excitado apoio às recentes marchas golpistas pelo impeachment de Dilma.
Em tempo: numa prova da sua "imparcialidade", a Folha fez questão de ouvir o "outro lado" - o que nem sempre faz quando se trata de denúncia contra o governo "lulopetista". "O governo de São Paulo não respondeu às perguntas enviadas pela Folha sobre os pagamentos de R$ 1,5 milhão que realizou à Doria Editora, do empresário João Doria Jr., um dos pré-candidatos tucanos à prefeitura paulistana. A reportagem questionou sobre os gastos com publicidade em revistas da empresa, entre 2013 e 2015, mas não houve resposta. O jornal também perguntou sobre os critérios utilizados na escolha, também sem resposta. A Folha requisitou a mesma informação à Doria Editora que, em nota, afirmou que 'não divulga valores de faturamento de seus clientes, sejam eles públicos ou privados'". Será que o ricaço "cansado" já está montado o Caixa-2 da sua campanha para a prefeitura em 2018?
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