Após dois dias da publicação de matéria dos jornalistas Ricardo Mendonça e Lucas Ferraz que deu conta de que o governo de São Paulo contratou pela bagatela de 70 mil reais por mês empresa que tem entre os sócios o autor do site “Implicante”, que produz conteúdo contra o Partido dos Trabalhadores e seus membros, a Folha de São Paulo publicou nesta segunda-feira, em sua seção de cartas de leitores, manifestação do governo paulista e da agência de publicidade que intermedeia sua relação com o site em questão.
As cartas são assinadas por um “assessor técnico de gabinete da Subsecretaria de Comunicação do Estado de São Paulo” e pelo vice-presidente da agência de publicidade que intermedeia o “negócio” milionário com a empresa do “Implicante”. Tanto a missiva do governo paulista quanto a da agência de publicidade usam o mesmo argumento que o autor do site “Implicante” usou para justificar os 21 pagamentos de 70 mil reais que, segundo a Folha, o site em questão recebeu entre junho de 2013 e março de 2015, totalizando R$ 1,47 milhão: a empresa “Appendix” teria oferecido “o menor preço”.
Em seu perfil no Facebook, “Gravatai Merengue” também apela ao suposto “menor preço” que teria lhe valido o contrato milionário com o governo paulista: “Essa contratação se deu porque a Appendix (APPX) ofereceu o MENOR PREÇO”.
Os repórteres da Folha, porém, em poucas linhas questionam o comportamento do “Executivo” paulista, ou seja, no fim das contas o comportamento do próprio governador Geraldo Alckmin, acusando-o de não ter fornecido detalhes da contratação da Appendix ao jornal após “reiterados pedidos”. E ao dizer que o “Executivo” paulista enviou 88 caixas cheias de “incontáveis papéis da publicidade oficial”, sugere uma estratégia do governo Alckmin para sonegar informações que são de domínio público.
Contratos de publicidade entre sites e órgãos de imprensa com o poder público são comuns e não se pode questioná-los simplesmente por aquele veículo de comunicação ter uma opinião política favorável a um grupo político ou desfavorável aos adversários desse grupo – fosse assim, o governo paulista não poderia colocar um anúncio na Veja, por exemplo, ou o governo federal não poderia ter um anúncio em um blog ou site que critica o PSDB. Porém, um contrato tão gordo e que, à diferença de um banner em uma publicação digital ou em papel, não é visível, merece explicações melhores que as dadas pelo governo Alckmin até aqui.
Por exemplo: a empresa do tal “Gravatai Merengue” foi fundada em janeiro de 2013 e cinco meses depois já estava embolsando o primeiro pagamento de setenta mil reais, o que sugere que foi criada já tendo em vista esse contrato, pois entre a efetivação da concorrência e o início dos pagamentos por serviços prestados passou-se muito pouco tempo.
Além disso, a julgar pelo que diz o próprio “Merengue” em seu perfil no Facebook, parece que a tal Appendix tem apenas três clientes: o governo do Estado de São Paulo, do PSDB, a empresa Copel, controlada pelo governo do Estado do Paraná, também do PSDB, e uma empresa chamada “Brasil Comunicação”, que nega ter negócios com a empresa do blogueiro antipetista apesar de este dizer que tem “contrato de prestação de serviços e uma nota fiscal” emitidos contra ela.
Diante da vultosa quantia paga pelo povo paulista à empresa tal “Merengue”, era de se esperar que tanto este quanto o governo tucano do Estado de São Paulo e, agora, também o governo tucano do Estado do Paraná apresentassem os documentos com os detalhes da negociação e até os detalhes das concorrências que a Appendix venceu em dois Estados governados pelo grupo político que tem interesse no que produz o site “Implicante”, já que o ajuda em sua guerra política com o PT.
A carta do tal “assessor técnico de gabinete da Subsecretaria de Comunicação do Estado de São Paulo”, secretaria que funciona sob responsabilidade do ex-jornalista da Veja Marcio Aith, é um deboche. E a resposta dos repórteres da Folha que apuraram esse negócio tão obscuro, é demolidora. Após “reiterados pedidos” o governo paulista envia à Folha quase nove dezenas de caixas cheias de documentos que não têm relação com o objeto da reportagem? Por que é tão difícil o governo Alckmin fornecer as informações solicitadas?
Além disso tudo, o que mais espanta é que, até aqui, não se tem notícia de uma única declaração da oposição ao governo Alckmin, na Assembleia Legislativa. Se esse caso envolvesse, por exemplo, o governo Haddad e um blogueiro que critica o PSDB, a oposição paulistana estaria cobrando CPI e dando declarações reiteradas à mídia, acusando o governo petista de estar financiando “blogs sujos”. Aí talvez esteja a explicação sobre por que o PT está perdendo tão feio o debate político.