Por Altamiro BorgesA revista IstoÉ desta semana revela que o grão-tucano Andrea Matarazzo, ministro do ex-presidente FHC e secretário estadual nas gestões de Mario Covas e José Serra, foi peça-chave no esquema de corrupção envolvendo poderosas multinacionais, como a Alstom e a Siemens, e vários governos do PSDB em São Paulo. Apesar da farta documentação, o grosso da mídia continua evitando tratar do explosivo assunto. O propinoduto tucano sumiu das manchetes dos jornalões, não é sequer citado na revista Veja e não causa comentários histéricos nas emissoras de televisão.
Não dá para a mídia seletiva, descaradamente tucana, afirmar que as denúncias são vazias e que apurações não andam. Segundo a reportagem da IstoÉ, “as investigações sobre o escândalo do Metrô em São Paulo entraram num momento crucial. Seguindo o rastro do dinheiro, a Polícia Federal e procuradores envolvidos na apuração do caso concluíram que o esquema do propinoduto tucano começou a ser montado na área de energia, ainda no governo de Mário Covas (1995-2001), se reproduziu no transporte público – trens e metrô – durante as gestões também de Geraldo Alckmin (2001-2006) e de José Serra (2007-2010) e drenou ao menos R$ 425 milhões dos cofres públicos”.
Ainda de acordo com a matéria, “os recursos [do propinoduto] circulavam por meio de uma sofisticada engenharia financeira promovida pelos mesmos lobistas, que usavam offshores, contas bancárias em paraísos fiscais, consultorias de fachadas e fundações para não deixar rastros. A partir dessas constatações, a PF e o MP conseguiram chegar ao topo do esquema. Ou seja, em nomes da alta cúpula do PSDB paulista que podem ter tido voz ativa e poder de decisão no escândalo que foi o embrião da máfia dos transportes sobre trilhos”.
O nome do grão-tucano Andrea Matarazzo surge exatamente nesta fase das apurações, junto com outras dez pessoas ligadas ao PSDB. “Serrista de primeira hora, Matarazzo é acusado de corrupção por ter se beneficiado de ‘vantagens oferecidas pela Alstom’. De acordo com relatório do Ministério Público, as operações aconteciam por meio dos executivos Pierre Chazot e Philippe Jaffré, representantes da Alstom no esquema que teria distribuído mais de US$ 20 milhões em suborno no País. É a chamada conexão franco-tucana”.
Para avançar ainda mais nas investigações, a procuradoria da República obteve judicialmente na semana passada a quebra dos sigilos bancários e fiscais de Andrea Matarazzo e dos outros dez envolvidos no esquema. “A ordem judicial também solicitou informações sobre o paradeiro dos dois executivos franceses. As investigações conduzidas até agora já produziram avanços importantes. Concluíram que parte da propina paga pela Alstom abasteceu os cofres do PSDB paulista”. Apesar de bombásticas, estas denúncias resultaram em pequenas notinhas na mídia tucana.
Globo, Folha e Estadão – e suas agências de notícias e sítios na internet – até mencionaram a decisão da Justiça de quebrar os sigilos bancários e fiscais dos onze “suspeitos” do “suposto” esquema do propinoduto. O nome de Andrea Matarazzo quase não é citado. A sigla PSDB também não aparece com destaque. Uma notinha na Folha de terça-feira passada (1) preferiu dar mais espaço aos acusados, que negam as irregularidades. O portal G1, das Organizações Globo, também avaliou que o caso não exige maiores apurações do tal “jornalismo investigativo”.
O que explica tamanho silêncio frente às graves denúncias contra Andrea Matarazzo, atual vereador do PSDB que se jacta das suas abotoaduras de ouro e de gozar de muito poder no interior do PSDB? A mídia seletiva teme que as investigações prejudiquem seus projetos políticos para as eleições de 2014 e também seus interesses econômicos expressos na generosa publicidade dos governos tucanos? Somente quando os protestos de rua em São Paulo exigiram a apuração do propinoduto, a mídia tratou o tema com alguma imparcialidade. Outros protestos são urgentes!
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