Aparentemente sóbrio, Noblat ataca Lula

Por Altamiro Borges

O jornalista Ricardo Noblat nunca escondeu o seu oposicionismo frontal aos governos Lula e Dilma e às forças políticas e sociais de esquerda. Em seu blog, hospedado no jornal O Globo, diariamente ele posta matérias com críticas ácidas e cheias de intrigas. Muitas vezes, porém, ele exagera na dose. Em seu artigo desta segunda-feira (2), ele acusa Lula de ser uma “ameaça à democracia”. Não me lembro dele ter se referido desta forma ao ex-presidente FHC, seu queridinho, quando foi aprovada a emenda da reeleição – com base na compra de votos dos deputados; ou quando as tropas do Exército, a mando do grão-tucano, invadiram as refinarias da Petrobras para reprimir a greve dos petroleiros de maio de 1995.

Segundo o serviçal da famiglia Marinho, “Dilma goza da fama de mal educada. Lula, da fama de amoroso. Não é bem assim. Lula é tão grosseiro quanto ela. Tão arrogante quanto”. O motivo desta irritação e adjetivação de Ricardo Noblat foi o discurso do ex-presidente no ato em defesa da Petrobras, realizado na semana passada no Rio de Janeiro. “[Lula] pediu que seus colegas de partido defendessem a empresa e se defendessem da acusação de que a saquearam. E por fim acenou com a possibilidade de chamar ‘o exército’ de João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Sem Terra, para sair às ruas e enfrentar os desafetos do PT e do governo”. Para ele, este discurso incita o ódio entre os pobres e os ricos.

Ao final do artigo, Ricardo Noblat só falta pedir – a exemplo do publicitário Enio Mainardi, pai de outro fascistóide da Rede Globo – que Lula seja proibido de participar da vida política. “Para o bem ou para o mal, este país carregará na sua história a marca indelével de um ex-retirante nordestino miserável, agora milionário lobista de empreiteiras, que disputou cinco eleições presidenciais, ganhou duas vezes e duas vezes elegeu uma sem voto, sem carisma e sem preparo para governar. Lula já foi uma estrela que brilhava sem medo de ser feliz. Foi também a esperança que venceu o medo. Está se tornando uma forte ameaça à democracia”, esbraveja o jornalista, aparentemente sóbrio.

O artigo tenta vender a imagem de que democracia brasileira corre risco em função da postura altiva de Lula. Aparentemente sóbrio, o jornalista parece não enxergar que os principais responsáveis pela campanha de ódio que se alastra pelo país são os derrotados nas eleições presidenciais de outubro passado. O cambaleante Aécio Neves chegou a pedir a recontagem de votos – e caiu no ridículo –; tentou melar a posse de Dilma; e ainda produziu um vídeo conclamando seus eleitores a participarem de um ato fascista em São Paulo. Já a mídia tucana, da qual Ricardo Noblat é um dócil subordinado, faz terrorismo contra a presidente reeleita diariamente. Mas a culpa é do Lula!

O serviçal da famiglia Marinho parece ter uma obsessão doentia contra o ex-presidente. Em outubro passado, na véspera do segundo turno, ele postou um texto hidrófobo intitulado “Aparentemente sóbrio, Lula fala mal da imprensa e cita jornalistas”. Na ocasião, sua bronca foi porque o líder petista criticou abertamente a cobertura da TV Globo num comício em Itaquera, na periferia da capital paulista. “Daqui para frente é a Miriam Leitão falando mal da Dilma na televisão, e a gente falando bem dela na periferia. É o Bonner falando mal dela no ‘Jornal Nacional’ e a gente falando bem dela em casa. Agora somos nós contra eles”, afirmou o ex-presidente aos milhares de participantes do ato.

Este discurso enfureceu Ricardo Noblat. O jornalista, que adora criticar e espalhar intrigas, não aceita ser criticado. Ele se acha Deus – ou melhor, tem certeza. Na prática, ele teme o povo. Tem medo que os discursos de Lula alertem a sociedade para o risco de retrocesso e do golpismo. Teme que o povo volte às ruas e se contraponha às manipulações midiáticas ao coro “Fora Rede Globo”. Daí o desespero! Na ocasião, Ricardo Noblat fez mais uma de suas insinuações maldosas: “Não dá para afirmar que ele [Lula] tenha bebido antes de discursar. Aparentava estar sóbrio”. A mesma suspeita de intoxicação pode pairar diante dos artigos obrados pelo serviçal da famiglia Marinho.

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