Aprendiz de feiticeira
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Aprendiz de feiticeira


Rodrigo Constantino

O editorial do Estadão vai no ponto hoje, quando diz que a presidente Dilma, como aprendiz de feiticeira, não antecipou que a feitiçaria poderia desandar. O jornal diz:

Tendo embarcado na aventura da convocação, também por plebiscito, de uma ilegal Constituinte exclusiva para fazer a reforma, a presidente entendeu de adotar um plano B, soberbamente alheia aos seus perigos. O que ela queria, a todo custo, era desviar as atenções das queixas predominantes na escalada de protestos no País. As multidões foram às ruas contra o aumento das passagens de ônibus, a má qualidade dos serviços públicos essenciais, a começar do transporte coletivo, os gastos com a Copa e a corrupção. Apenas uma minúscula parcela dos manifestantes incluía a reforma política entre as suas prioridades. Ciente disso, Dilma agiu de má-fé.

E acaba de repetir a dose com a jogada do plebiscito (e seus efeitos) para já. A menos que, à maneira do pai de família do conto O plebiscito, de Machado de Assis, ela ignorasse não o termo, como o personagem, mas os desdobramentos políticos da consulta a toque de caixa. O fato é que ela jogou a bomba do plebiscito no colo do Congresso para poder dizer, caso estoure, que fez a sua parte para mudar os costumes políticos brasileiros. É um equívoco comum. A corrupção não resulta dessas ou daquelas normas eleitorais e partidárias, mas da falta de escrúpulos dos beneficiários dos malfeitos. Afinal, são as pessoas que fazem as funções que exercem e não o contrário.


O plebiscito é um antigo sonho petista, assim como a reforma política proposta nele, para concentrar ainda mais poder no PT e seus caciques. Dilma tentou unir o útil ao agradável: ao propor o plebiscito, depois da fracassada tentativa de uma nova Constituinte, ela realizaria os planos antigos do PT, caso a idéia pegasse, ou então teria desviado o foco das críticas para o Congresso, lavado as mãos e se escondido atrás da cortina de fumaça criada. Mas não se brinca com o PMDB impunemente...

O editorial finaliza:

Já não bastassem, pois, os prazos irrealistas para a aprovação, pelo Legislativo, dos temas e alternativas do plebiscito, e para o "suficiente esclarecimento" do eleitorado, como exige o TSE, só se pode ser pessimista acerca do seu desfecho. Isso, se sair o plebiscito à Dilma - ou qualquer outro. O clima é de revolta generalizada entre os aliados do governo. Com razão, denunciam que o modelo oferecido privilegia os interesses da presidente e, por extensão, do PT, ignorando o Congresso em geral e a base em particular. O PMDB já arrola as modalidades de retaliação a seu alcance - desde comandar a derrubada de vetos presidenciais até reavaliar o apoio à reeleição de Dilma.
Aprendiz de feiticeira, ela não previu que a feitiçaria poderia desandar.


A presidente Dilma tentou jogar a batata quente para o colo do Congresso e se livrar do problema. Agora, a batata quente acabou em seu próprio colo. Não sabe brincar, não desce para o play...




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