Por Theófilo Rodrigues, no blog Cadernos de Cultura e Política:Tenho minhas dúvidas se a chamada crise dos partidos políticos não surgiu no mesmo instante em que eles foram criados há quatro séculos atrás no Reino Unido. Pode parecer exagero, mas é saudável que o sistema partidário e demais instituições políticas sejam permanentemente criticados. É justamente daí que vem sua vitalidade, sua renovação, sua garantia de sobrevivência.
Contudo, é necessário na política o mesmo cuidado de um médico, para que uma febre não seja diagnosticada como câncer terminal. Espera-se – ou deveria se esperar – esse cuidado especialmente dos tradicionais meios de comunicação. Infelizmente, não é o que observamos.
A matéria do jornal O Globo deste domingo (09/03) intitulada “No ano de protestos, número de filiações a partidos despencou” induz o leitor ao erro. Alguns podem afirmar que por má fé. Prefiro acreditar que foi um erro metodológico causado pela falta de uma melhor observação.
A partir de um gráfico que mostra o crescimento das filiações partidárias nos últimos cinco anos o jornal O Globo afirma que “as filiações às legendas políticas têm desacelerado no Brasil nos últimos anos”. Quem analisa apenas esse gráfico irá realmente acreditar em tal assertiva. Será que os partidos políticos estão caminhando para o fim?
Por ossos do ofício busquei os dados diretamente na fonte, ou seja, no sítio do TSE. Fiz mais. Construí uma série histórica de outubro de 2002 até janeiro de 2014, ampliando os dados do jornal O Globo, para “enxergar melhor a floresta” como diz um velho camarada. Está no quadro abaixo.
Como podemos notar, ao ampliar a série histórica surge uma surpresa. Ao contrário do que diz o jornal O Globo as filiações partidárias nos últimos anos estão crescendo. Se houve uma desaceleração nas filiações partidárias foi apenas entre 2004 e 2007. Entre janeiro de 2007 e janeiro de 2008 houve um verdadeiro boom de filiações. Em 2008 houve uma queda drástica que ainda precisa ser melhor analisada. Uma hipótese plausível seria a mudança cadastral no próprio TSE. A partir de 2009 o crescimento voltou a ser permanente.
O erro cometido pelo jornal O Globo foi o de não ter ampliado sua série histórica. Assim, transformou em referência o ano de 2008, quando na verdade ele é a exceção. Se compararmos os anos mais recentes apenas com o boom de 2008 acreditaremos de fato que as filiações partidárias estão reduzindo. Mas se compararmos os anos recentes com anos anteriores como 2004, 2005, 2006 e 2007, notaremos que as filiações partidárias estão crescendo no Brasil.
Cabe ressaltar que esse crescimento não é apenas nos valores absolutos. O crescimento também é relativo se compararmos com o eleitorado de cada período. Em 2002 aproximadamente 9% do eleitorado brasileiro estava filiado em algum partido. Em 2014 esse número subiu para cerca de 11%.
Também é curioso notar nos dados do TSE o crescimento individual de cada partido. Enquanto os partidos políticos da oposição estão em declínio no número de filiados, os partidos pertencentes a base aliada estão crescendo permanentemente. As exceções ficam com o PSOL, partido de oposição em pleno crescimento, e com o PMDB, único partido da base governista a ter seu número de filiados reduzido. O PSB também manteve crescimento constante, mas seria exagero apresenta-lo como partido de oposição em uma série histórica na medida em que ele se declarou deste modo apenas nos últimos meses. O PT é o partido que manteve o melhor crescimento em especial durante as manifestações de 2013.
Ou seja, dentre as várias manchetes possíveis o jornal O Globo poderia ter escolhido:
“Filiações partidárias aumentam nos últimos anos no Brasil”
“Partidos da oposição perdem filiados nos últimos anos”
“PT é o partido que mais atrai filiados no Brasil”
“PMDB é o único partido da base aliada a perder filiados”
Infelizmente, o jornal O Globo preferiu escolher a única manchete que não condiz com a realidade.
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