Às ruas!
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Às ruas!


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Milhares de pessoas foram às ruas no feriado de 7 de setembro protestar contra a corrupção. Ao contrário do que estamos acostumados a ver, não foi um evento com patrocínio de movimentos “sociais” mobilizados pela esquerda; estes aderiram ao constrangedor silêncio de quem parece satisfeito com as gordas verbas estatais. Desta vez, os grupos se organizaram de forma espontânea e apartidária pelas redes sociais. Nas palavras de uma revista, tratou-se do “despertar das consciências”.
A iniciativa merece apoio daqueles cansados de tanto descaso no uso do dinheiro público. Bilhões são desviados todo ano, políticos são pegos em flagrante, mas nada acontece. O ex-presidente Lula ajudou muito a criar este clima de anestesia geral, utilizando sua popularidade para proteger aliados corruptos. Parece que as pessoas estão finalmente acordando para o fato de que a letargia de hoje será paga com mais abusos amanhã.
Já era hora de as pessoas honestas, saturadas de tanto abuso dos governantes, partirem para alguma ação efetiva. A pressão popular é uma arma legítima em qualquer democracia. O ideal é que este movimento se mantenha blindado contra o oportunismo político. Desta forma ele ganha mais legitimidade, até porque o combate à corrupção é uma bandeira da sociedade contra o corporativismo político, não contra um partido específico.
A corrupção tem muitas causas, mas creio que duas merecem destaque: impunidade e concentração de poder. Quanto à impunidade, a arma mais eficaz talvez seja justamente a pressão popular, com passeatas de protesto. Lembremos que o “mensalão” ainda nem foi julgado e corre o risco de prescrever. Os brasileiros decentes não podem aceitar tanto escárnio!
Já quanto à concentração de poder, será preciso atuar no campo das idéias, com foco no longo prazo. A mentalidade predominante no país, que desconfia do livre mercado e deposita fé quase religiosa no governo, terá que mudar. Mas isso não ocorre num piscar de olhos. É preciso investir nas idéias, apostar no poder dos bons argumentos. Esta mudança cultural será crucial para a sustentabilidade de um modelo com menos corrupção.
A ONG Transparência Internacional possui um ranking com os países percebidos como menos corruptos por seus cidadãos. Já o The Heritage Foundation publica anualmente o Índice de Liberdade Econômica. Não será surpresa alguma para quem compreende a teoria econômica saber que há enorme correlação entre ambos, ou seja, os países menos corruptos são também os países com maior liberdade econômica. Nada menos que 15 países estão entre os 20 primeiros colocados de ambos indicadores. Já o Brasil está na rabeira dos dois. E ainda culpam os “neoliberais” por nossos males!
Quanto mais recursos da economia forem canalizados para o governo central, maior será a tentação de grandes empresas tentarem capturar tais recursos por meio de propinas. Quando o destino de um setor inteiro depende da poderosa caneta de um burocrata, parece natural supor que o preço desta caneta vai às alturas no mercado negro. Subornar governantes passa a ser bem mais lucrativo do que investir na competitividade.
Milton Friedman destacava quatro formas básicas de se gastar dinheiro. A primeira é quando gastamos nosso dinheiro conosco, com total foco no custo e no benefício. A segunda é gastar nosso dinheiro com terceiros, como na compra de um presente. O benefício já perde alguma importância. Já as duas últimas são as piores: gastar dinheiro dos outros com os outros e com nós mesmos. O famoso “dinheiro da viúva”, sem dono e, portanto, sem grandes preocupações com o custo. Estas são as formas estatais de gasto. Alguém ainda fica surpreso com tanto desperdício?
A verdade é que ninguém cuida tão bem de um carro alugado. A tendência natural é cuidar melhor daquilo que nos pertence. Por isso é tão comum o descaso com a coisa pública, especialmente quando tudo importante sobre ela é decidido lá longe, em Brasília. Em nossos condomínios ainda investimos algum tempo, pois sabemos que temos maior poder de influência. Mas com tanto poder concentrado no governo central, quanto vale o meu único voto entre tantos milhões?
Estava mesmo na hora dos brasileiros saírem às ruas contra a impunidade. Talvez seja a melhor medida de curto prazo contra a corrupção. Mas também devemos investir em idéias, para reduzir a concentração de poder no governo central. Governo obeso é um convite à corrupção. Até agora já pagamos este ano mais de R$ 1 trilhão em impostos, o grosso para o governo federal. Acorda, Brasil!




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