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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil |
Por Altamiro BorgesBalanço parcial do dia nacional de luta contra a terceirização, realizado nesta quarta-feira (15), indica que esta mobilização só tende a crescer no país. Ocorreram paralisações parciais, passeatas e atos públicos em 23 Estados e no Distrito Federal. Várias categorias aderiram aos protestos, convocados pela CUT, CTB, NCST, Conlutas e Intersindical e com o apoio de inúmeros movimentos sociais – como o MST, o MTST e a UNE. A jornada de luta acabou repercutindo na Câmara Federal, que adiou a votação das emendas ao projeto de lei (PL-4330) que amplia a barbárie do trabalho terceirizado. A TV Globo, que investiu pesado na divulgação das marchas golpistas do domingo passado (12), não deu maior destaque à mobilização dos trabalhadores. O “Jornal Nacional” concedeu apenas quatro minutos e 26 segundos para o protesto e ainda manipulou a cobertura.
Segundo a Agência Brasil, em matéria postada no final da noite, houve paralisações no transporte público em pelo menos cinco capitais: Porto Alegre, Florianópolis, Brasília, Salvador e Recife. Outras categorias também cruzaram os braços parcialmente e houve dezenas de marchas e atos públicos no país. Em São Paulo, “manifestantes fizeram um ato político em frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde queimaram bonecos representando o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o deputado federal Paulinho da Força (SD-SP) e o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ)”. Incidentes com a polícia foram registrados apenas em Vitória (ES). “Durante o tumulto [que linguagem num veículo de comunicação pública], a PM utilizou bombas de efeito moral para tentar dispersar os participantes do protesto”.
Já a Rede Brasil Atual, veículo ligado ao sindicalismo, registra o êxito do dia nacional de luta e destaca a massiva passeata realizada em São Paulo. “Milhares de manifestantes deixam o Largo da Batata, na zona oeste da capital, neste início de noite, em direção à Avenida Paulista, em frente à sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), dando continuidade ao ato de protesto contra o Projeto de Lei 4.330, que amplia a terceirização do trabalho no país. No local, vão encontrar outros movimentos e trabalhadores que protestam desde o início da tarde e também com os professores estaduais, cuja greve que completou um mês na segunda-feira e tem sido ignorada pelo governo do estado e pela mídia. Segundo os organizadores, a marcha reúne aproximadamente 40 mil pessoas, e não há policiamento ostensivo”.
Um dos oradores da marcha foi o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos. Além de criticar a “elite preconceituosa” que trama golpes, ele também cobrou uma posição mais firme da presidenta da República. “Se o PL for aprovado, a Dilma tem o dever de vetá-lo”. Já o presidente da CUT, Vagner Freitas, destacou a urgência da unidade das esquerdas para derrotar a ofensiva da direita e mandou um recado para o lobista Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados: “Você não manda no Brasil. Vamos fazer uma greve nacional se for preciso”. O mesmo tom, propondo a radicalização contra a ofensiva de retirada de direitos dos trabalhadores, foi dado por lideranças da CTB, Intersindical, Conlutas, MST e UNE, entre outras entidades sindicais e movimentos populares.
A mobilização acabou “assustando” os deputados e pode até brecar a tramitação do projeto de lei, segundo artigo de André Barrocal no site da revista CartaCapital. “Ondas surgidas na internet e nas ruas podem provocar uma reviravolta no futuro da Lei da Terceirização (PL 4330/04). Com receio da reação contrária à tentativa de relativizar os direitos trabalhistas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), suspendeu a sessão de terça-feira, 14, na qual estavam sendo votados pontos específicos do projeto. Pelo clima em Brasília, nada garante que será concluída nem se pode antecipar qual seria o texto final resultante de eventual votação. Cunha decidiu adiar a sessão após apelos de líderes partidários. Da tribuna, alguns deles admitiram preocupação com a repercussão negativa da lei”. Eles temem o carimbo de “traidores” do trabalhador!
Ainda segundo a matéria, “dos 28 partidos representados na Câmara, só três ficaram oficialmente contra o projeto na semana passada. O PT foi um deles, ao lado de PCdoB e PSOL. Um dos únicos seis, entre 61 peemedebistas, a votar contra o projeto, João Arruda (PR), disse a CartaCapital que a onda antiterceirização começou a se formar no fim da semana passada. Segundo ele, em redes sociais e em conversas no Paraná, sua terra natal, foi possível perceber um crescente sentimento contra o projeto. Suspensa a sessão, Arruda apontou à reportagem um panfleto revelador do clima entre os deputados. Intitula-se ‘Ladrões de Direitos’ e exibe a foto de seis ‘Procurados’ pelo ‘crime’ de ‘roubo de direitos’. ‘Essa lei rasga a carteira assinada. É muito ruim para o trabalhador’, afirmou Arruda”.
“Entusiasta do projeto e dono do gabinete onde muitos dispositivos do texto foram redigidos, Paulo Pereira da Silva, do Solidariedade, também apelou a Cunha: ‘A prudência nos recomenda suspender a sessão’. Uma posição sintomática. Paulinho é correligionário do relator do projeto, Arthur Maia (BA), e ex-presidente da Força Sindical, uma das duas centrais apoiadoras da lei. Até a semana passada, das seis centrais sindicais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho, havia três de cada lado. CUT, CTB e NCST, que juntas representam 50% dos empregados sindicalizados, eram contra. Força, UGT e CSB, a representar 28%, a favor. Nesta terça-feira 14, porém, a UGT debandou. Em nota oficial, o presidente da entidade, Ricardo Patah, disse que ‘da forma como o texto está, ele precariza o trabalho’”.
Todas estas mobilizações e reviravoltas, porém, não mereceram uma cobertura mais imparcial da mídia privada. Na prática, os jornalões, revistonas e as emissoras de rádio e televisão são favoráveis à terceirização – até como forma de precarizar ainda mais o trabalho dos jornalistas. Em editoriais, Folha, Estadão e O Globo defenderam de forma explícita a imediata aprovação do projeto de lei 4330. Este rabo preso com os patrões explica o pouco destaque dado pela imprensa ao dia nacional de mobilização. Além de dar poucos minutos para o protesto, o “Jornal Nacional” da TV Globo ainda teve o descaramento de ouvir três pessoas favoráveis à terceirização – inclusive o famigerado José Pastore, um arqui-inimigo da CLT e famoso consultor dos programas eleitorais do PSDB.
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