AVALIAÇÃO DO OSCAR 2009: VIVA A GATINHA!
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AVALIAÇÃO DO OSCAR 2009: VIVA A GATINHA!


Kate, Sean e Penelope, na noite em que a Índia levou quase tudo.

Como já disse no post sobre o bolão, eu tive muito mais olhos pra Stelinha, a gatinha de dois meses da Izabela, que pro Hugh Jackman ou qualquer outra coisa. Sinto muito, mas se de um lado a gente tem uma gatinha endiabrada correndo, pulando e atacando, e do outro um sujeito de smoking falando de estatuetas douradas, ninguém em sã consciência vai deixar de olhar pra gatinha. Pode ter um terremoto que é impossível não ficar completamente cativada por aquela fofurinha peluda e saltitante.
Mas do pouco que consegui abstrair da festa, eu até gostei. Achei mais simples que de costume, e até deu a impressão de ter sido mais curta (mas acho que esse foi o efeito Stelinha). O Hugh é lindo e se saiu bem como apresentador. Mas o mais legal do trabalho do animador/apresentador é o que a gente não vê. Durante as dezenas de interrupções comerciais, o público do auditório fica lá, inquieto e entediado. Parece que o Hugh leu um bilhete da sua mulher, dizendo que ele estava indo bem até então, e distribuiu biscoitos. Enquanto isso, a gente teve que ver 102 comerciais da Volkswagen e Havaianas. Ainda bem que a Stelinha tava lá, incansável (porque não é possível - esses filhotes têm uma pilha que não gasta, né?).
O primeiro número musical, apresentando os cinco indicados a melhor filme, foi ok. Quero dizer, o Hugh se saiu maravilhosamente bem em todos os números, mas o segundo foi meio constrangedor. A música tava esquisita, não engatava, e a coreografia foi fraca. No final o Hugh o atribuiu ao Baz Luhrman, e eu virei pro maridão e disse: “Viu? Eu sabia!”. Porque eu ainda lembro da dor de cabeça que tive ao ver Moulin Rouge. E isso que eu adoro musicais! Já o terceiro número, com a Beyoncé, foi melhor. Ela é linda e canta e dança muito, então nada pode dar errado. Agora, o medley das canções foi ruim, ficou confuso, mas pelo menos passou rápido.
Desta vez, a Academia substituiu o pedacinho de filme que passava ao falar de cada ator/atriz indicado por uma novidade: cinco atores subiam ao palco, e cada um declamava o seu amor por um candidato. Ahn, esse sistema não estava me agradando nem um pouco até que chegou a hora da Shirley MacLaine falar com a Anne Hathaway, que ficou genuinamente comovida. Mas, no geral, esse método alonga demais a cerimônia. Imagina, são vinte atores no total, vinte discursinhos sobre como cada um é especial. Tudo bem que é uma chance pros cinco astros convocados (que vão entregar a estatueta em cada categoria) receber um standing ovation do público (quando o pessoal bate palmas de pé), mas há mais prós que contras.
O momento mais engraçado da festa foi o Ben Stiller parodiando o Joaquin Phoenix. Apesar de ser uma sátira fácil (qualquer um com uma peruca e barba postiça pode fazer o mesmo), arrancou boas risadas. A dupla Seth Rogen/James Franco revivendo seus personagens em Segurando as Pontas e morrendo de rir com os filmes sérios também foi fofa. Já falei que estou apaixonada pelo James? E pelo menos mostraram duas cenas de beijos entre homens (ambas de Milk). Gostei muito de como incluíram um beijo gay entre as cenas românticas. Pra naturalizar mesmo.
Os discursos mais políticos da noite, pra não dizer os únicos, não foram sobre a pobreza na Índia ou sobre o holocausto, e sim sobre direitos homossexuais. Um veio do jovem Dustin Lance Black, que ganhou o prêmio de roteiro original por Milk. Ele agradeceu a seus pais por ser aceito como é. É triste constatar que os jovens gays de hoje ainda precisem de modelos, tal e qual precisavam nos anos 70, período retratado pelo filme. Ainda precisam que alguém diga que não há nada de errado com eles, e que devem levar suas vidas do jeito que quiserem. Será que, daqui a mais três décadas, esse discurso passará a ser obsoleto? Tomara.
O outro discurso político veio do Sean Penn, que superou o Mickey Rourke (fiquei chateada pelo Mickey, porque sua atuação em O Lutador foi brilhante. Mas a do Sean em Milk também foi, então...). O Sean é um dos astros mais politizados de Hollywood. Ele elogia Cuba, condenou a Guerra do Iraque desde o primeiro instante, criticou Bush a toda hora. A direita cristã odeia o Sean com todas as suas forças. Mas Hollywood o ama, não só por ele ser um grande ator, mas também pelo seu liberalismo. Ele olhou bem fundo pra câmera e falou que quem votou a favor da Proposition 8, que proíbe que gays se casem, vai ter que explicar aos netos por que apoiou uma emenda que tira direitos humanos de um grupo específico (o que vai totalmente contra qualquer Constituição). Ele foi aplaudido de pé, e com justiça.
Kate Winslet também foi. Até que enfim ela levou seu Oscar. No seu agradecimento, ela pediu pros pais assobiarem no auditório, pra que ela soubesse onde eles estavam. Foi uma graça quando ela confessou que, no início de sua carreira, ensaiou receber uma estatueta, mas treinou com um frasco de shampoo. Seu discurso teria sido perfeito se não fosse a última parte, a de “Você vai ter que me engolir, Meryl [Streep]”. Acho que pegou mal pacas, porque não foi nem engraçado. A pobre Meryl, focalizada pela câmera, só pôde dar de ombros. Mas parece que eu que tirei a frase do contexto. A Kate tava elogiando a Meryl, e o "suck it" teve mais significado de "você vai ter que aceitar isso [que as outras atrizes acham incrível concorrerem na mesma categoria que ela]". Ainda assim, soou arrogante.
Foi ótimo ver Quem Quer Ser um Milionário ganhar tantos prêmios (oito - veja todos os resultados aqui), já que o filme é bem mais Bollywood que Hollywood (e tem várias falas em indiano, e americano odeia ler legenda). Foi, sem dúvida, o grande vencedor da noite. Desde 2004 (a última vez que eu ganhei o bolão antes de hoje), quando Senhor dos Anéis 3 abocanhou 11 estatuetas, que uma produção não dominava tanto a cerimônia. Mas desconfio que em pouco tempo esta festa seja tão lembrada como a de 1988, ano em que O Último Imperador, do Bertolucci, falado em chinês, ganhou nove prêmios. O pessoal vai coçar a cabeça ao tentar se lembrar quem foi o vencedor do Oscar de 2009. Da minha parte, eu só vou me lembrar da Stelinha.

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