Por Altamiro BorgesOs barões da mídia brasileira estão excitados com o novo presidente argentino, Mauricio Macri. Em artigo publicado na Folha, intitulado "O tempo abriu na Argentina", o chefão da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Carlos Fernando Lindenberg Neto, festejou a derrota do chamado kirchnerismo na nação vizinha e explicitou o motivo de tanta alegria: "A decisão do novo governo de modificar a lei dos meios de comunicação do país, criada com o claro objetivo de intimidar a mídia não alinhada ao kirchnerismo", e que simbolizaria "todo o autoritarismo estatal que vinha dominando a Argentina". O fim da "Ley de Medios" transforma o mafioso argentino em um santo para os barões da mídia nativa!
Para o representante dos decadentes jornalões, a eleição de Mauricio Macri - na verdade, a vitória do Grupo Clarín -, "prenuncia novos tempos na América Latina". Ele já prevê o refluxo das iniciativas que visam enfrentar os monopólios midiáticos na região para garantir maior pluralidade neste setor estratégico. Animado, o presidente da famigerada ANJ comemora o revés, "aqui mesmo no Brasil", dos que defendem "o que se convencionou chamar de controle social da mídia" - afirma, numa típica manobra retórica para satanizar os que lutam pela democratização dos meios de comunicação. E dá a dica da próxima batalha em território nacional: a guerra para enterrar a lei do direito de resposta, que foi aprovada pelo Senado Federal e sancionada pela presidenta Dilma em novembro passado.
Terra arrasada na Argentina
Tamanha paixão pelo mafioso Mauricio Macri resultará, com certeza, numa cobertura jornalística da nação vizinha ainda mais partidarizada e distorcida. Contra Néstor e Cristina Kirchner, "presidentes populistas", a mídia disparava torpedos diários. Agora, com o novo chefete neoliberal, a ordem será evitar crítica e exibi-lo como salvador da pátria. "O caminho indicado por Macri nos deixa otimistas", já decretou Lindenberg Neto, o chefão da ANJ. Não é para menos que "calunistas" que adoram meter o bedelho na política de outros países - como Clóvis Rossi, da Folha, ou Alexandre Garcia, da Globo -, estão em silêncio diante dos primeiros atos autoritários e desastrosos do presidente argentino.
Em pouco mais de um mês, o ditadorzinho de plantão baixou cinco DNUs (Decreto de Necessidade e Urgência), um instrumento legal previsto pela Constituição apenas em casos de emergência nacional. Num gesto que incomodou até seus aliados, Mauricio Macri impôs dois ministros da Suprema Corte, desrespeitando o Senado, e interveio nas duas agências responsáveis pela democratização dos meios de comunicação. De forma truculenta, ele também demitiu milhares de servidores públicos, adotou medidas que arrocham os salários dos trabalhadores e já anunciou que pretende reestabelecer as negociações com os chamados "fundos abutres", que saquearam a economia argentina no passado.
Na semana passada, sob pressão explícita do novo governo, a Rádio Continental demitiu Victor Hugo Morales, um dos jornalistas mais renomados do país. Outros veículos, públicos e privados, também já sofrem ameaças, comprovando que Mauricio Macri não tem qualquer compromisso com a liberdade de expressão. Diante destes gestos inaugurais, setores da sociedade já organizam atos de protestos. Os primeiros foram reprimidos com balas de borracha e cassetetes, numa ação repressiva que não se via na Argentina há 12 anos - segundo reportagem do próprio jornal espanhol El País.
A tendência é de rápido acirramento da luta de classes na Argentina, agora sob controle dos abutres do capital financeiro. É certo que a mídia nativa, com seus serviçais de plantão, seguirá as ordens da ANJ; "O caminho indicado por Macri nos deixa otimistas". Mas esta torcida midiática, com todas as suas técnicas de manipulação, poderá reduzir ainda mais a credibilidade dos que apostaram no mafioso neoliberal da nação vizinha e pressagiaram "novos tempos na América Latina". A conferir!
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