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Bloqueio político - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 02/10
O impasse político americano passou a ser uma fonte inesgotável de incerteza para a economia mundial. A polarização entre os dois partidos, fomentada principalmente pela ala radical do Tea Party, faz com que frequentemente o maior país do mundo fique pendurado no abismo. Ou com o risco de não conseguir rolar a dívida ou com a ameaça de paralisação das atividades do governo. Na segunda-feira, o presidente Barack Obama tentou até o último minuto romper o impasse, mas não conseguiu. Ontem, o governo fechou as portas. Os turistas encontraram museus, parques e até a Estátua da Liberdade fechados, a Nasa fechou quase inteiramente, os escritórios do governo não funcionaram. Os serviços essenciais estão sendo executados, médicos, controladores de voo, soldados trabalham, mas não receberão seus salários. E o governo é o maior empregador do país: são dois milhões de funcionários civis e 1,4 milhão de militares. Nada demoveu o Partido Republicano, que controla a Câmara dos deputados, e o Orçamento não foi aprovado.
Agora não se sabe quanto tempo vai durar esse fechamento do governo. E já está marcado no calendário um outro dia D: se até o dia 17 não se resolver o impasse da elevação do teto da dívida, o mundo reviverá aquela aflição que já ocorreu no governo Obama. O país cuja dívida é considerada a aplicação mais segura do mundo, para onde os investidores correm em tempo de incerteza, quase parou de pagar os juros dos títulos porque o Congresso, em sua queda de braço com o governo, negou até o último segundo a elevação do teto da dívida.
Neste momento, a economia americana está claramente se recuperando. O país saiu da recessão na qual entrou, pela crise que estourou ao fim do governo Bush, e já criou, segundo Obama, sete milhões e meio de empregos nos últimos três anos e meio. O mercado imobiliário está melhorando e o déficit público tem sido reduzido.
Uma economia americana forte é benéfica para o mundo inteiro, mas hoje o grande problema que trava a economia dos Estados Unidos é político. Com o Partido Republicano sendo puxado para mais à direita pela facção mais radical, o país tem vivido situações apocalípticas.
Os republicanos exigiram, para votar o orçamento, o adiamento da reforma da saúde. O Obamacare foi aprovado nas duas casas, já é lei promulgada e aceita como constitucional pela Suprema Corte. Portanto, eles querem mudar o que o ritual democrático consagrou. A nova lei permite que filhos até 26 anos estejam nos planos de saúde dos pais, idosos têm acesso a remédio mais barato, impõe limites para os planos.de saúde nas suas ações contra as pessoas mais velhas.
Essa crise vai passar, mas essas constantes visitas à beira do precipício fiscal, orçamentário, monetário deixam o mundo em suspense vezes demais. A economia do resto do planeta ainda sofre os efeitos da crise de 2008. A Europa ainda está em recessão. Os movimentos de capital flutuam em direções opostas a cada momento que um impasse desses acontece. E isso acaba afetando a economia real de outros países.
No governo Bill Clinton aconteceu um evento parecido de paralisação das atividades governamentais por causa do atraso na aprovação do orçamento, mas a radicalização política nunca foi tão forte quanto agora.
O governo paralisado e a dívida com o risco de calote são um cenário tão fim de mundo que é impensável. Por isso, muita gente acredita que a solução sairá antes do dia 17. Mas nos últimos tempos tem sido assim nos Estados Unidos. O sistema político estica a corda o máximo que pode, para só então entrar em entendimento. Nada disso é bom para a economia americana ou mundial.
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