Boas safras, transporte precário - EDITORIAL O ESTADÃO
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Boas safras, transporte precário - EDITORIAL O ESTADÃO


O ESTADO DE S. PAULO - 15/09
O setor mais dinâmico da economia brasileira, a agropecuária, confirma seu vigor no último levantamento da safra de grãos. A colheita deve atingir 187,1 milhões de toneladas na temporada 2012/2013, segundo o levantamento divulgado terça-feira (10/9) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Se a estimativa se confirmar, a atual produção, já quase toda colhida, terá sido 12,6% maior que a da temporada anterior - um salto explicável principalmente pelo aumento das lavouras de soja e de milho. Esse desempenho, somado à eficiência de outras áreas do agronegócio, impediu uma deterioração maior do saldo comercial brasileiro - um déficit de US$ 3,5 bilhões acumulado no ano até a primeira semana de setembro. Mas a própria agricultura, apesar de sua produtividade e do grande volume de suas exportações, ganhou menos do que poderia, se as condições de logística fossem menos ruins.
A safra 2013/2014 está por enquanto estimada em 190 milhões de toneladas, com expansão de apenas 1,6% em relação à atual. E uma previsão conservadora. Os técnicos do governo poderão elevá-la, em breve, quando as perspectivas de preços para os 12 meses à frente estiverem mais definidas e houver, mais segurança quanto às intenções de plantio. Mas a mera repetição do volume recorde colhido este ano já será motivo de preocupação para os agricultores e exportadores, porque o risco de novos problemas no transporte interno e na chegada aos portos continua no horizonte.

O plano de safra anunciado pelo governo inclui financiamento rural de R$ 136 bilhões, com aumento de 18%, mais dinheiro para formação de estoques e para construção de armazéns e expansão de 75% - para R$ 700 milhões - do valor disponível para o seguro da produção. O seguro rural tem sido um dos pontos mais fracos da política agrícola. Pode-se discutir se o volume previsto para a próxima temporada é adequado, mas é preciso reconhecer o avanço. O panorama no setor de transportes é muito menos animador.

O plano de logística anunciado há um ano pela presidente Dilma Rousseff continua no papel. Estão previstas para breve as primeiras licitações para concessões de rodovias. As licitações para ferrovias virão mais tarde e é arriscado dizer, nesta altura, se o governo encontrou os critérios adequados para envolver o capital privado nos investimentos necessários.

Por enquanto, o transporte da próxima safra é motivo de muita preocupação, diante do perigo de novos e importantes prejuízos. Em agosto, na Bienal dos Negócios da Agricultura - Brasil Central, em Cuiabá, a logística foi um dos assuntos mais discutidos. A presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, senadora Kátia Abreu, lembrou o atraso nos projetos de conversão dos Rios Tocantins, Tapajós e Madeira em vias de escoamento da produção do Centro-Oeste e de parte do Norte. Ela mencionou esses rios como os a três grandes Mississippis brasileiros", numa alusão a um importante canal de transporte da agricultura dos EUA.

Um estudo apresentado no evento comparou os custos de transporte entre Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, e Xangai, na China, por dois tipos de caminhos. O primeiro conduz aos portos tradicionais de Santos e Paranaguá, O segundo permite uma saída pelo Norte, por Mitiruba e Santarém (PA), pela BR-163, ainda sem pavimentação. No primeiro caso, o transporte de uma tonelada de grãos sai por R$ 333. No segundo, poderia custar R$ 238.

Um levantamento da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul comparou os custos de levar um saco de soja até Xangai partindo de Cruz Alta, no noroeste gaúcho, e de Davenport, no Estado de lowa. Os valores são muito parecidos: US$ 75,51 no primeiro caso, US$ 85,51 no segundo. Mas Cruz Alta está a 461 quilômetros do porto do Rio Grande, enquanto Davenport fica a 2.149 quilômetros do porto utilizado. Há uma enorme diferença entre os custos do transporte interno. Sem essa ineficiência, o produtor gaúcho ganharia R$ 6,80 a mais por saca de soja. Falta o governo levar a sério esses números.




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