BOTICÁRIO, VÁ LAMBER BATOM!
Geral

BOTICÁRIO, VÁ LAMBER BATOM!


Obrigada, Claudemir, por me enviar este comercial com a nova campanha do Boticário. Aaaahhh! É de chorar que uma obra dessas se chame “Abaixo a repressão”. O anúncio explora como seria viver num “mundo sem vaidade e beleza”. Pergunta se não seria bom isso, e mostra mulheres vestidas todas iguais, com o mesmo corte de cabelo, sem espelhos pra poderem ver seus reflexos. Até que a protagonista tem uma luz e descobre um batom e sua vida muda, e certamente o mundo não será o mesmo depois que ela sai com os lábios pintados na rua. No final, a narração conclui que “Não, não seria”, e vem o slogan, “Acredite na beleza”. Já disse Aaahhh? Vou mudar pra Grrrrr.

É muito cinismo. Primeiro que, óbvio, não seria nada bom viver num mundo como o do comercial. Pra começar, não há homens! Eu odiaria viver num mundo sem eles. Segundo, não há negras. Nem orientais. Nem pessoas de meia-idade, nem de terceira idade. Ou com um tipo físico diferente. Viver num mundo uniformizado, igual, geralmente é o pior pesadelo de distopias (as utopias negativas) como Admirável Mundo Novo e 1984. Quanto a isso, não há dúvida. As diferenças são ótimas. Mas o que isso tem a ver com beleza?

Beleza é um conceito subjetivo. Indústrias como o Boticário e tantas outras não estão nem um pouco interessadas em “acreditar na beleza” diferente. Muito pelo contrário. Quem nos padroniza, se não a indústria da moda e da beleza? Quem diz que só mulher com tantos quilos pode ser bonita? Que só mulher com tal cabelo (liso, loiro) pode ser bonita? Que só mulher até certa idade pode ser bonita? Até parece que temos a escolha de “envelhecer graciosamente”. As meninas hoje já começam a usar cremes pra alisar a pele na adolescência. E, pra uma certa classe social, o direrente, o revolucionário, é o fazer plástica. Porque todo mundo faz. Porque todo mundo precisa fazer. É ofensivo que uma propaganda venha reclamar da padronização e de como o mundo seria ruim se todas fossem fisicamente idênticas. Como se a gente não soubesse!

A indústria da beleza quer é vender, pura e simplesmente. Mas, pra isso, precisa criar um clima que diga que a gente é feia e errada se não comprar batom, cílios postiços, creme, tinta pra cabelo, salto alto, tal roupa, tal plástica. A indústria da beleza nos diz, diariamente, várias vezes por dia, como somos horríveis. Mas como a beleza está ao nosso alcance. Não será barato (se fosse só passar batom...), nem fácil, nem indolor. Mas estamos prontas pra passar nossa existência inteira achando que correr atrás de um padrão inatingível é o nosso ideal de vida. Isso não tem nada a ver com beleza. Tem a ver com consumo. Tudo que o comercial diz é que seria horrível um mundo em que as mulheres não usassem maquiagem, roupas, saltos altos, e cortes de cabelo caros, porque a gente, do Boticário, iria viver do quê?

Se bem que não seria tão terrível viver num mundo em que nosso único trabalho fosse quebrar e queimar sapatos de salto alto. Quantas horas por dia, durante quantos dias, a gente precisaria trabalhar pra acabar com os sapatos? Pena que a gente ficaria sem trabalho logo. Mas, pra mulher, como a gente sabe, trabalho é secundário.

Viver num mundo sem espelhos seria ruim também. Não tanto por causa dos espelhos em si, mas do clima opressivo e da proibição de não podermos fazer algo tão simples como ver nossa imagem. Imagina o horror que seria viver num mundo em que há comida suficiente e acessível, mas mulheres preferissem viver com fome pra perder uns quilinhos? Puxa, não quero nem pensar!

Me acordem quando fizerem um comercial em que uma mulher não precise emagrecer, usar batom e salto alto pra ser considerada bonita. Ou pra ser feliz.

Veja mais críticas a comerciais aqui, aqui e aqui. E mais sobre mito da beleza e aceitação do corpo aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.





- Chovendo No Molhado
Não desgosto deste comercial tanto quanto odiei aquele outro do Boticário. Aquele cínico da repressão. Este do guarda-chuva plagia, ou melhor, homenageia abertamente a estética de Bollywood de Quem Quer Ser um Milionário, com todos aqueles lindos...

- Seios De Todos Os Tamanhos, CaÍdos, Com Estrias. Pra NinguÉm Botar Defeito
Veja abaixo como Chris Jordan fez esta foto. Dica: 32 mil Barbies. Praticamente todo dia chegam ao meu bloguinho buscas do Google com dúvidas sobre seios. E eu sei por que isso acontece. Porque, assim como acreditamos que existe um padrão único de...

- Beleza NÃo É “um Por Todos, Todos Por Um”
Acho um erro acreditar que só um tipo de mulher, de uma certa idade, com um só tipo de cabelo e de corpo, pode ser considerada bonita, como se o que é bonito pra uma pessoa é o mesmo pra todas. Claro que existe uma tentativa de padronização de beleza....

- A InvenÇÃo Da Celulite
Campanhas como a da “beleza real” da Dove são um pequeno avanço na representação de mulheres como somos (o vídeo acima, sobre como a mídia massacra as meninas, pede pra que falemos com nossas filhas antes que a indústria da beleza o faça)....

- A Cosmética
LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP Ser "corretinho" é marca de mediocridade, e a mediocridade é enturmada e anda em bando Semana passada eu falava da "ética da beleza". Tema difícil. Defendi que mulheres bonitas devem usar, com moderação, a beleza...



Geral








.