Por Valter Pomar, em seu blog:Quando a mídia quer dar aparência "objetiva" para as suas posições, é comum recorrer à "opinião isenta de um especialista".
Marco Antonio Villa é um destes "especialistas".
Sua "objetividade científica" pode ser medida pelo artigo publicado pela Folha de S. Paulo, no dia 23 de outubro de 2014.
Título do artigo?
"Fora PT!"
Citaremos e comentaremos a seguir o tal artigo, reproduzido na íntegra ao final.
Villa começa com uma afirmação que consideramos correta: "estamos vivendo o processo eleitoral mais importante da história da República".
Mas os motivos dele são diferentes dos nossos.
Consideramos que está em jogo a possibilidade de aprofundar as mudanças iniciadas em 2003.
Já Villa entende que nestas eleições "está em jogo um mandato de 12 anos".
Aparentemente, ele não fala dos 12 anos passados, mas dos próximos 12 anos.
Segundo entendi, Villa é daqueles que acha que uma vitória do PT em 2014 nos garantiria mais três mandatos presidenciais.
Para nós, a vitória de Dilma não é a vitória do PT tão somente, mas é a vitória das forças políticas e sociais que defendem outro projeto de país.
Para Villa, "caso o PT vença, estarão dadas as condições para a materialização do projeto criminoso de poder --expressão cunhada pelo ministro Celso de Mello no julgamento do mensalão".
Ou seja: o PT, na opinião de Villa, pode ser resumido a uma organização criminosa.
Convenhamos: quem pensa assim, se for coerente, não vai reconhecer a legitimidade de um futuro governo Dilma e pode vir a romper a legalidade.
E uma hipotética vitória de Aécio, o que seria?
Segundo Villa, neste caso "poderemos pela primeira vez ter uma ruptura democrática --pelo voto-- com a vitória da oposição. Isso não é pouco, especialmente em um país com a tradição autoritária que tem".
Ops!!!
De 1989 a 2010 tivemos 6 eleições presidenciais.
O PT perdeu três e ganhou três.
Villa tem todo o direito de dizer que uma hipotética vitória de Aécio seria uma "ruptura democrática".
Mas não é sério dizer que seria "pela primeira vez" uma "ruptura democrática --pelo voto'-- com a vitória da oposição".
Pois como todos sabemos, em 2002, com a vitória de Lula, tivemos uma vitória da oposição que com muito mais motivos pode ser qualificada de "ruptura democrática".
Salvo se...
Salvo se Villa achar que estamos numa ditadura ou algo equivalente a isto.
Temos visto gente do PSDB falar isto nas ruas.
Certamente é o que Villa pensa e por isto ele fala em ruptura democrática pelo voto.
Na opinião de Villa, "o PT não gosta da democracia. Nunca gostou. E os 12 anos no poder reforçaram seu autoritarismo".
Na nossa opinião, o PT quer mais democracia, mais participação popular, mais controle social, mais transparência, mais liberdade de comunicação.
Acontece que a "democracia" que Villa defende não é a democracia que o PT defende.
E mesmo nos marcos da democracia que Villa defende, façamos uma comparação do governo Aécio com o governo Dilma, em por exemplo dois temas: transparência e liberdade de imprensa.
Em qual governo as informações são mais amplamente divulgadas?
Em qual governo os meios de comunicação são mais críticos ao governo?
Convenhamos, mesmo adotando os critérios que provavelmente são os que Villa considera índices de democracia e autoritarismo, a comparação é clara: no governo Dilma há mais transparência e liberdade de imprensa.
Villa considera que "hoje, o partido não sobrevive longe das benesses do Estado. Tem de sustentar milhares de militantes profissionais".
Aqui Vila enuncia seus desejos, como se fossem fatos.
Claro que ter militantes profissionalizados, ou seja, recebendo salário para fazer política, seja no Parlamento, nos governos, nos sindicatos e no próprio partido, pode ser importante para qualquer partido.
Aliás, até onde eu sei, Aécio é um exemplo de "político profissional"tradicional, desde antes da maioridade.
Mas no caso do PT (e da esquerda em geral), a experiência destes 12 anos mostra que a maior vitalidade do PT, demonstrada por exemplo neste segundo turno, não vem dos "profissionais da política".
Pelo contrário, a imensa força e vitalidade do PT vem exatamente daqueles que não recebem salário para fazer política.
A vitalidade do PT vem daqueles que pagam para fazer política, a chamada "militância voluntária".
Villa afirma que o PT substituiu "o socialismo marxista" pelo "oportunismo, pela despolitização, pelo rebaixamento da política às práticas tradicionais do coronelismo".
Claro que o pensamento petista é influenciado por diferentes versões do marxismo. Mas falar de "substituição" é forçar a barra, pois a rigor o PT nunca foi "marxista", ou seja, nunca adotou o marxismo (ou qualquer outra corrente de pensamento) como sua "doutrina oficial".
Quanto as demais acusações, convenhamos, na boca de Villa viraram mero xingamento. Novamente, sugiro confrontar as acusações com o que está sendo visto nas ruas.
O PT politiza a disputa, ou seja, deixa claro que há uma disputa de projetos de país (não de pessoas, não de partidos somente).
Aliás, a presença do PT na história brasileira, desde 1980, contribuiu para a politização da sociedade brasileira.
O PT estimula a participação das massas populares na política brasileira. O contrário das "práticas tradicionais do coronelismo".
Quanto a acusação de oportunismo, é preciso lembrar qual o significado desta palavra, a saber: abandonar os objetivos de longo prazo em favor de ganhos de curto prazo.
Cá entre nós: se o PT tivesse mesmo abandonado os seus objetivos de longo prazo, Villa estaria atacando o PT com tanta virulência???
Na verdade, o que irrita Villa é que depois de 12 anos de governo, depois de concessões e alianças que muitos petistas consideram incorretas, o conjunto do PT, o que o petismo significa na e para a sociedade brasileira, continua sintonizado com os interesses da classe trabalhadora.
Para Villa, entretanto, a "socialização dos meios de produção se transformou no maior saque do Estado brasileiro em proveito do partido e de seus asseclas de maior ou menor graus".
Novamente, fala o tucano, cala o historiador: todos os dados disponíveis apontam para o PSDB como o partido mais envolvido em casos de corrupção.
Portanto, mesmo se todas as acusações feitas ao PT e contra petistas fossem verdadeiras, ainda assim o PSDB ficaria com o troféu de "maior saque".
O historiador cala e o tucano fala, também, na acusação contra Lula, que Villa acusa de ser "o que há de mais atrasado na política brasileira. Tem uma personalidade que oscila entre Mussum e Stálin".
Cá entre nós: que tipo de história ensina este senhor, capaz de produzir análises tão desqualificadas?
Villa poderia ter oferecido alguma análise e crítica séria sobre a política de alianças do PT, sobre as relações do PT com setores do PMDB, sobre as concessões feitas a setores do Capital.
Mas ele não fez nada disto. Ele limita-se a ofender o PT e Lula, que segundo ele "fez de tudo para que esta eleição fosse a mais suja da história".
Ora, ora: foi o PSDB que resolveu colocar no centro da pauta eleitoral o tema da corrupção, do "mar de lama". É Villa e gente como ele quem trata o PT como uma organização criminosa. E é Lula que está fazendo desta eleição a "mais suja da história"?
Trata-se, digamos, de um problema de "ponto de vista".
Para Villa, as mentiras divulgadas todo o dia pelo oligopólio da mídia são justas, verdadeiras, corretas, equilibradas e limpas. Já as respostas do PT seriam "sujeira".
Por exemplo, Villa acusa o PT, "por meio do seu departamento de propaganda --especializado em destruir reputações", de ter "triturado" Marina Silva "com a mais vil campanha de calúnias e mentiras de uma eleição presidencial".
Curioso este historiador. Não aponta uma única calúnia, não aponta uma única mentira.
Acontece que o fato, que Villa deveria saber (e neste caso mente), ou não sabe (e neste caso deveria devolver o diploma), é que as "reputações" de Marina e de Aécio não foram "destruídas" pelo PT, mas por eles mesmos.
Marina, ao assumir o programa do PSDB.
Aécio, por ser quem é e defender o que defende.
Por falar em (tentar) destruir reputações: Vila diz que "Dilma nada representa. É mera criatura sem vida própria. O que está em jogo é derrotar seu criador, Lula".
Novamente, Villa não está observando os fatos. Dilma não apenas tem uma bela história, não apenas tem posições firmes, não apenas é uma grande presidenta, mas também todos percebem hoje que se converteu numa grande liderança popular.
Para horror do PSDB, o PT agora tem duas grandes lideranças nacionais, não apenas uma.
Mas devemos agradecer a Villa por nos lembrar o que o PSDB faria, se tivesse a oportunidade: tentar destruir Lula.
Mas por qual motivo tanto ódio de Lula?
Villa acusa Lula de ter transformado "o Estado em sua imagem e semelhança". Quem quer que conheça o Estado brasileiro sabe que isto não é verdade. Aliás, fazer uma profunda reforma que democratize o Estado e a política seguem sendo tarefas pendentes.
Villa diz que Lula "desmoralizou o Itamaraty ao apoiar terroristas e ditadores. Os bancos e as estatais foram transformadas em seções do partido. Nenhuma política pública foi adotada sem que fosse tirado proveito partidário. A estrutura estatal foi ampliada para tê-la sob controle, estando no poder ou não".
Fatos que sustentam esta tese? Nenhum.
A verdade é o oposto do que diz Villa: apesar do PT ter vencido três eleições presidenciais, parcelas importantes da máquina estatal continuam não apenas "autônomas", como também influenciadas ou até dirigidas pela oposição.
Vejam o caso do STF: tanto Joaquim Barbosa quanto vários dos ministros que acompanharam seu voto na AP 470, foram indicados por Lula e por Dilma.
Na verdade, o ódio contra Lula é menos pelo que ele fez e mais pelo que ele representa, simbólica e historicamente.
Aliás, a parte mais divertida do texto de Villa é quando ele manifesta sua preocupação com o PT. Diz ele: "a derrota petista é a derrota de Lula. Será muito positiva para o PT, pois o partido poderá renovar sua direção e suas práticas longe daquele que sempre sufocou as discussões políticas, personalizou as divergências e expulsou lideranças emergentes".
Vou repetir: para Villa, derrotar Lula teria efeitos positivos para o PT. Dá para levar a sério, como historiador, como ser pensante e racional, quem é capaz de escrever isto?
Mas não causa divertimento algum ler o seguinte: "principalmente, quem vai ganhar será o Brasil porque o lulismo é um inimigo das liberdades e sonha com a ditadura".
Insisto: quem fala e pensa isto, amanhã pode começar a pensar em estimular e apoiar um golpe.
Quem considera que o PT deve ser tratado como "os marginais do poder" não vai aceitar democraticamente mais uma derrota eleitoral.
A parte final do texto de Villa é um elogio ao que Aécio representa. Desnecessário comentar aqui, salvo o seguinte trecho: Aécio "representa a ética e a moralidade públicas".
Como história, é uma fábula.
Mas como política, revela os padrões de ética e de moralidade considerados ótimos pela oposição de direita.
E uma oposição de direita que considera ótimo um candidato como Aécio, só pode mesmo ter "intelectuais" do porte de um Marco Antonio Villa e de um Lobão.
E já que estamos no terreno dos lobões, Chapeuzinho Vermelho e a Vovó devem aumentar seus cuidados.
Pois a seriedade intelectual desta gente é tão grande quanto seu compromisso democrático.
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Segue o texto na íntegra:
Fora PT!
Marco Antonio Villa – Folha de S.Paulo
Estamos vivendo o processo eleitoral mais importante da história da República. Nesta eleição está em jogo um mandato de 12 anos. Caso o PT vença, estarão dadas as condições para a materialização do projeto criminoso de poder --expressão cunhada pelo ministro Celso de Mello no julgamento do mensalão.
Em contrapartida, poderemos pela primeira vez ter uma ruptura democrática --pelo voto-- com a vitória da oposição. Isso não é pouco, especialmente em um país com a tradição autoritária que tem.
O PT não gosta da democracia. Nunca gostou. E os 12 anos no poder reforçaram seu autoritarismo. Hoje, o partido não sobrevive longe das benesses do Estado. Tem de sustentar milhares de militantes profissionais.
O socialismo marxista foi substituído pelo oportunismo, pela despolitização, pelo rebaixamento da política às práticas tradicionais do coronelismo. A socialização dos meios de produção se transformou no maior saque do Estado brasileiro em proveito do partido e de seus asseclas de maior ou menor graus.
Lula representa o que há de mais atrasado na política brasileira. Tem uma personalidade que oscila entre Mussum e Stálin. Ataca as elites --sem defini-las-- e apoia José Sarney, Jader Barbalho e Renan Calheiros. Fala em poder popular e transfere bilhões de reais dos bancos públicos para empresários aventureiros. Fez de tudo para que esta eleição fosse a mais suja da história.
E conseguiu. Por meio do seu departamento de propaganda --especializado em destruir reputações--, triturou Marina Silva com a mais vil campanha de calúnias e mentiras de uma eleição presidencial.
Dilma nada representa. É mera criatura sem vida própria. O que está em jogo é derrotar seu criador, Lula. Ele transformou o Estado em sua imagem e semelhança. Desmoralizou o Itamaraty ao apoiar terroristas e ditadores. Os bancos e as estatais foram transformadas em seções do partido. Nenhuma política pública foi adotada sem que fosse tirado proveito partidário. A estrutura estatal foi ampliada para tê-la sob controle, estando no poder ou não.
A derrota petista é a derrota de Lula. Será muito positiva para o PT, pois o partido poderá renovar sua direção e suas práticas longe daquele que sempre sufocou as discussões políticas, personalizou as divergências e expulsou lideranças emergentes. Mas, principalmente, quem vai ganhar será o Brasil porque o lulismo é um inimigo das liberdades e sonha com a ditadura.
Daí a importância de votar em Aécio Neves. Hoje sua candidatura é muito maior do que aquela que deu início ao processo eleitoral.
Aécio representa aqueles que querem dar um basta às mazelas do PT. Representa o desejo de que a máquina governamental esteja a serviço do interesse público. Representa a disposição do país para voltar a crescer --de forma sustentável-- e, então, enfrentar os graves problemas sociais. Representa a ética e a moralidade públicas que foram pisoteadas pelo petismo durante longos 12 anos.
Cabe aos democratas construir as condições para a vitória de Aécio. Não é tarefa fácil. Afinal, os marginais do poder --outra expressão utilizada no julgamento do mensalão-- tudo farão para se manter no governo. Mas o país clama: fora PT!
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