Diagnosticado com câncer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará um tratamento que poderá forçá-lo a reduzir sua participação nas eleições municipais de 2012 e diminuir sua já declinante influência no governo Dilma Rousseff, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Neste sábado, o hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, informou que um tumor foi detectado na laringe de Lula, e que o ex-presidente será submetido a lSegundo o oncologista Artur Katz, membro da equipe que atende o ex-presidente, trata-se de um tumor "não muito grande", cujas "chances de cura são excelentes".
No entanto, analistas afirmam que o tratamento poderá exigir que Lula reduza suas atividades atuais, como a articulação política que exerce no PT.
Nos últimos meses, o ex-presidente iniciou uma série de negociações com vistas às próximas eleições municipais, como a defesa da candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad, à prefeitura de São Paulo.
Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), Lula teria grande capacidade de influenciar os resultados do próximo pleito.
"Se for para a campanha, ele pode ajudar a eleger vários prefeitos em cidades grandes e médias. Mas, para isso, tem de estar com boa saúde e voz para discursar."
"Se for para a campanha, ele pode ajudar a eleger vários prefeitos em cidades grandes e médias. Mas, para isso, tem de estar com boa saúde e voz para discursar."
David Fleischer, cientista político da UnB
"Sem o Lula, a tendência é que as facções petistas briguem ainda mais do que já brigam", diz Fleischer.
Segundo Ricardo Ismael, professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio, ainda que se recupere rapidamente, Lula tende a voltar à cena política mais contido, já que terá de cuidar para que a doença não regresse.
"Se ele se curar, e tudo indica que vai se curar, provavelmente ficará mais seletivo, escolhendo melhor seus focos de atuação
Além de dificultar sua atuação nos bastidores, a doença pode enterrar a possibilidade de que Lula volte a se candidatar à Presidência, segundo o historiador e cientista político Francisco Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Embora o ex-presidente negue rumores de que possa concorrer às eleições em 2014, muitos políticos consideram sua volta possível, principalmente se Dilma terminar sua gestão com baixo índice de popularidade ou com problemas com a base aliada.
Para Teixeira, porém, o diagnóstico de câncer afasta essa possibilidade, pelo menos por ora. "Embora, é importante dizer, não saibamos qual sua gravidade, a existência de uma doença insidiosa e difícil como essa altera todo o cenário político brasileiro daqui em diante."
Embora considerem Lula muito influente no PT, os três especialistas afirmam que o papel que o ex-presidente exerce no governo Dilma vem diminuindo nos últimos meses.