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Por Altamiro BorgesO Ministério Público Federal (MPF) divulgou nesta terça-feira (29) uma “recomendação” para que o governo de São Paulo adote imediatamente medidas de racionamento de água nas regiões atendidas pelo Sistema Cantareira. A proposta visa evitar o colapso no conjunto de reservatórios, que abastece 8,8 milhões de paulistas. “O governador Geraldo Alckmin e a Sabesp têm dez dias para informar as providências a serem tomadas em relação à recomendação. ‘O MPF não descarta a adoção de medidas judiciais caso o governo não atenda à medida’, informou o órgão em nota divulgada à imprensa” – descreve o jornalista Bruno Bocchini, da Agência Brasil.
Irritado, o governador tucano já anunciou que não acatará a “recomendação” do Ministério Público Federal. Ele tem feito de tudo para empurrar o racionamento para depois das eleições de outubro. Teme que o “Sistema Cantareira” suba a seu palanque e atrapalhe o sonho da reeleição. O problema é que esta posição eleitoreira – que procura camuflar a falta de planejamento e de investimentos no setor nas quase duas décadas de “choque de indigestão” do PSDB no Estado – pode prejudicar ainda mais a população paulista. Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indica que o volume do Sistema Cantareira pode secar totalmente em menos de 100 dias.
Para evitar o desgaste eleitoral do racionamento, a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) já concedeu descontos para quem reduzisse o consumo e, desde 15 de maio, passou a captar água do chamado “volume morto” – a reserva estratégica que fica na camada mais profunda dos reservatórios. Estas medidas, segundo o MPF, não resolveram o problema e ainda podem gerar mais transtornos. “Neste estrato [do volume morto], estudos apontam maior concentração de poluentes, que incluem metais pesados, compostos orgânicos prejudiciais à saúde, bactérias, fungos e vírus”, afirma o órgão. O outro risco é que o uso da reserva afete definitivamente o Sistema Cantareira.
Para piorar, a Sabesp propõe agora retirar uma segunda cota do volume morto para captar mais 116 bilhões de litros de água – além dos 182,5 bilhões que já estão sendo sugados. Segundo reportagem do Estadão, esta proposta pode deixar negativo o nível dos reservatórios em 30%. Para Antonio Carlos Zuffo, diretor do departamento de hidrologia da Unicamp, esta ideia lembra o empréstimo bancário no cheque especial. “A fatura ficará mais cara em 2015, porque vamos começar o ano no negativo. A crise será ainda pior”, explicou ao jornal. O engenheiro ainda confirmou que a medida aumenta o risco de contaminação. “A dragagem revolve muito lodo do fundo, onde ficam os poluentes, os metais pesados”.
Diante deste cenário dramático, a própria mídia tucana – que evitou ao máximo tratar do assunto, prestando um desserviço à sociedade – agora dá sinais de preocupação. Em editorial na quinta-feira passada (24), a Folha confirmou que o perigo do racionamento de água já virou “conversa de elevador” dos moradores da região metropolitana de São Paulo. O jornal até insiste em culpar São Pedro “pela estiagem incomum”, evitando criticar a falta de planejamento e investimentos dos governos do PSDB e a postura eleitoreira de Geraldo Alckmin. Mesmo assim, a Folha conclui que “se não chover até outubro, o tucano corre o risco de ver os paulistas debatendo o voto no elevador”.
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