Por Alexandre Haubrich, no blog Jornalismo B:A mídia hegemônica brasileira nunca escondeu seu rancor em relação a qualquer governo popular, seu ódio a qualquer movimentação de empoderamento do povo. Como não se pode criar poder, no momento em que este passa a ser destinado a quem não o possuía, necessariamente acabam por perder potencial de dominação os opressores de sempre. Entre eles estão alguns setores da mídia e seus patrocinadores, por isso a ojeriza dos conglomerados midiáticos aos anseios populares por poder político decisório.
Um caso exemplar nos últimos anos é a o governo liderado por Hugo Chávez na Venezuela. E aproxima-se mais um momento no qual a direita internacional, incluindo seus braços midiáticos, buscará de todas as formas – até golpe militar já foi tentando por essas elites e prontamente repelido pelo povo venezuelano – encerrar a Revolução Bolivariana. Depois de diversas eleições patinando em sua dificuldade em lidar com a democracia e com um povo que paulatinamente se torna politizado, a oposição venezuelana sairá unida em um candidato único, escolhido no último domingo: Henrique Capriles.
A partir da definição de Capriles como candidato da direita, a velha mídia brasileira alinhou-se à cadavérica mídia privada venezuelana e, entre confetes e omissões, iniciou sua apaixonada defesa da candidatura dos opositores de Chávez. Os três mais cotados jornais do Brasil – Folha de S. Paulo, Estadão e O Globo – publicaram matérias com forte tom editorial, atacando o presidente e exaltando seu adversário. Os níveis de agressividade e omissão foram diferentes, mas o apoio a Capriles fica evidente por todos os lados.
O título de uma das matérias do Estadão, por exemplo, é “Alta participação em prévia dá força a antichavistas para eleição de outubro”, e a abertura do texto de Lourival Santanna diz que “muitos venezuelanos desafiaram ontem o presidente Hugo Chávez e saíram para votar”. Porém, não há explicação sobre que “desafio” seria esse. Não se teve notícias de que Chávez perseguiria quem votasse, a não ser por acusações nunca comprovadas de que, no passado, o governo fez “listas negras” de eleitores da oposição.
Sobre a cobertura da Folha, a análise de Altamiro Borges é elucidativa e suficiente: “Numa longa reportagem no domingo, assinada por Flávia Marreiro, ela quase declarou apoio explicito ao ainda “pré-candidato”. O jornal, que sempre apoiou os golpistas da Venezuela, visa confundir seus incautos leitores. Apresenta o oposicionista como um forte candidato presidencial e também nada fala sobre seu passado golpista”. Sobre esse passado, logo falaremos aqui neste mesmo texto.
No jornal O Globo, a reportagem principal é uma ode ao “conciliador” Capriles, e ainda foi encontrado espaço para pintar o governo atual como agressivo e antidemocrático. Um dos subtítulos diz que “vice de Chávez ironiza adversário”. Além disso, o blog da jornalista Miriam Leitão, hospedado no site d’O Globo, publicou entrevista com um “analista da Venezuela”, o “cientista político Sadio Garavini Di Turno”. O texto explica que “a pedido do blog, [Sadio Di Turno] comparou as vantagens e desvantagens de cada um [Chávez e Capriles]”.
O que o blog de Miriam Leitão não explicou é que o tal “analista da Venezuela” é um ferrenho opositor do atual governo, tendo, inclusive, afirmado em entrevista à Veja (sim!), quando das últimas eleições legislativas, que aquele resultado fora “um golpe fundamental”, que marcaria “o começo do fim da era Chávez”. É claro que essa implicação de Di Turno como parte atuante da política venezuelana foi determinante no teor das suas declarações, apesar do silêncio de Miriam Leitão.
Silêncio, aliás, que não esteve sozinho entre as omissões dos três veículos aqui analisados. O “passado golpista”de Capriles não deixa de aparecer apenas na Folha, como identificou Altamiro Borges. Estadão e O Globo também ignoraram este tema, espinhoso demais para quem busca posicionar o adversário de Chávez como conciliador e administrador sério e competente. Fato é que Henrique Capriles liderou, em 2002, a tentativa de invasão da embaixada de Cuba na Venezuela, enquanto seus companheiros tentavam derrubar, através de um Golpe de Estado, o presidente eleito pela esmagadora maioria do povo venezuelano. Esse é o “passado golpista”, citado apenas em uma pequena nota no site do Estadão que fala sobre a cobertura de dois veículos cubanos – o Granma e o Cubadebate – a respeito da escolha do candidato da direita. É nesse caminho que tende a seguir a cobertura até a eleição de outubro. Fiquemos atentos.
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