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Coimbra (des)encantada (4)
1. “Capital da saúde”?
O Reitor da Universidade de Coimbra [na imagem] contesta a necessidade de novos cursos de medicina, no mesmo jornal em que uma das instituições de ensino superior privadas de Coimbra – a Universidade Vasco da Gama – justifica
a sua candidatura a um deles. Teria sido interessante, já agora, ouvir a outra candidatura coimbrã, a do Instituto Bissaya Barreto, pertencente à Fundação do mesmo nome.
Coimbra tinha todas as condições para se tornar um grande centro na área das ciências da saúde e da prestação de cuidados de saúde (tradição e prestígio nesse domínio, amplos recursos hospitalares, localização central, etc.), tendo chegado a proclamar-se como “capital da saúde”. Infelizmente, a Universidade desvalorizou essas condições ao longo de duas décadas, com uma imperdoável política de restrição na formação de médicos, com a redução do "numerus clausus" a menos de 100 alunos, deixando às moscas a enorme faculdade de medicina, enquanto Lisboa e Porto já tinham duas faculdades. Foi esse malthusianismo atávico das faculdades existentes, com Coimbra à cabeça, que justificou a criação ha poucos anos de mais duas escolas de medicina públicas (Braga e Covilhã). Infelizmente,
ninguém foi responsabilizado por essa deliberada e suicidária lesão dos interesses da UC e da cidade e pelo correspondente desperdício de recursos públicos.
Agora que está anunciada oficialmente a abertura do ensino médico às universidades privadas, o que faltava era que, mais uma vez, Coimbra ficasse fora dessa corrida, que obviamente não vai deixar de ser disputada pela sua falta de comparência (basta ver o número de candidaturas, públicas e privadas, já anunciadas por todo o País). O que parece evidente é que sem massa crítica forte em matéria de ensino e de investigação, Coimbra não poderá vencer o desafio a que agora finalmente o reitor da UC assumiu (mais vale tarde do que nunca).
Mas, para isso, todos não serão de mais. Por isso, a haver escolas privadas de medicina, é essencial que Coimbra não fique de fora.
2. “Sem tecto entre ruínas”
Um dos meus alunos estrangeiros de European Master’s Degree in Human Rights, que passou o 2º semestre em Coimbra no ano passado, anotou depois no Student’s Yearbook as “crumbling houses” (casas em ruínas), sobretudo na velha Alta, como um dos traços que mais o impressionou negativamente em Coimbra (felizmente entre muitos positivos).
Ocorreu-me essa referência, bem como o título do livro do esquecido Augusto Abelaira que figura na rubrica desta nota, ao ler o que Filipe Nunes Vicente escreveu há dias no Mar Salgado:
«(...) percorria a pé, uma vez mais, com Neptuno, as ruas da velha Alta de Coimbra. Eu e este meu amigo (...) conhecemos a Alta há vinte anos, como ela está agora: feia, porca e degradada. Pormenorizando, paredes em ruínas, casas a cair de podre, tabiques por todo o lado, promessas de obras adiadas. Em qualquer cidade média de Espanha ou de França, o casco histórico é o cartão de visita e o emblema da cidade. Exprime o patamar civilizacional, a abertura ao mundo, o respeito pela memória colectiva, o brio do povo que a habita.
Dir-se-á que a cidade é pobre, que faz o que pode. Nem tanto. Quinze anos de fundos comunitários não foram suficientes para os salatinos e restantes membros da comunidade recuperarem a Alta. Mas um campeonato de futebol bastou, para a Câmara se endividar a construir um estádio novo, que registará, como o anterior, uma assistência média de 4000 espectadores enternecidos com um clube quase moribundo.»
Se me é permitido, assino por baixo!
3. Jemima Stehli
O auto-retrato nu da autora provoca-nos na dimensão de toda a página do Jornal de Coimbra ou do Público, no anúncio da sua exposição de fotografia do
Centro de Artes Visuais (CAV), abrangendo designadamente os seus nus monumentais, onde é notório o diálogo da artista londrina com Helmut Newton e Francis Bacon entre outros (David Burrows).
O que seria a vida cultural da cidade sem
Albano da Silva Pereira, que desde há duas décadas, com os Encontros de Fotografia, marcou um lugar ímpar nas artes da imagem no nosso país e que agora anima o notável espaço do CAV, ao Pátio da Inquisição?
Vital Moreira
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