Como foi a compra da reeleição de FHC
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Como foi a compra da reeleição de FHC


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Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada:

Chega hoje, sexta-feira, 30 de agosto, às livrarias o ”Príncipe da Privataria”, do jornalista Palmério Dória - autor do best seller ”Honoráveis Bandidos”, que já vendeu 130 mil cópias.

“O Príncipe da Privataria” é Fernando Henrique Cardoso, muitas vezes chamado de “Príncipe da Sociologia”.

“Privataria” está no título de outro best seller da editora Geração, “Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Junior.

Dos 25 mil exemplares do “Príncipe” já impressos, 17 mil chegam hoje, às livrarias de todo o país.

Para isso, foi necessária uma operação de guerra da Geração.

Ela teve que manter em segredo as gráficas que imprimiam, variou as rotas de distribuição e, com isso, evitar vazamentos que antecipassem o lançamento do livro – e processos judiciais de censura.

O editor da Geração, Luiz Fernando Emediato, conta na “Nota do Editor” que um amigo tucano lhe telefonou para pedir que não publicasse o livro e contar que já constituía advogado.

Na verdade, a editora suspeita que o vazamento da notícia do lançamento do livro tenha partido de uma rede de livrarias paulistas, notoriamente tucana, ao saber da chegada dos exemplares.

O “Privataria Tucana” foi boicotado por algumas livrarias de São Paulo, apesar de se tornar um best seller em poucos dias.

Ser um best seller é o destino que espera “O Príncipe da Privataria”.

Entre as revelações está a identidade do “Senhor X”, personagem de uma série de reportagens assinadas pelo jornalista Fernando Rodrigues, da Folha.

O ”Senhor X” gravava as conversas dos deputados comprados para aprovar a reeleição do Fernando Henrique, em 1997, e entregava a Rodrigues.

Numa série de reportagens, depois de denuncia da compra de votos feita pela CNBB, Conferência Nacional dos Bispos, Rodrigues reproduzia as gravações que recebia do “Senhor X”.

E jamais o identificou.

Nem o PiG jamais se interessou em saber quem era o “Senhor X”.

Foi o que fez Palmério.

Ainda na Nota do Editor, Emediato conta que, um dia, num encontro em San Francisco, nos Estados Unidos, Fernando Henrique, em conversa com o sociólogo Bolivar Lamounier e ele, Emediato, teria se referido ao escândalo de Caixa Dois de PC Farias:

Nenhum partido e nenhum candidato pode prescindir de recursos ilegais.

“Mas, a diferença entre ‘nós’ e ‘eles’ – disse FHC – é que ‘nós’ gastamos nas campanhas enquanto ‘eles’ enfiam boa parte em seus próprios bolsos.

O livro descreve pormenorizadamente a Privataria desenfreada – e especial atenção merece a venda da Vale do Rio Doce por um terço do que valia.

E, nela, o papel decisivo de Ricardo Sergio de Oliveira.

E a pressão “irresistível” do Padim Pade Cerra, como o próprio FHC reconhece neste vídeo.

Ricardo Sergio de Oliveira – um nome que não se deve, por cortesia, pronunciar na frente de um tucano – , depois, reaparece, com raro brilho, na privatização das teles: “só um bobo dá a telefonia para estrangeiros”, disse Bresser-Pereira, antes mesmo de deixar o PSDB.

Ricardo Sérgio é o “Mr Big”, o cérebro articulador das operações do clã Cerra na Privataria Tucana do Amaury.

Palmério descreve, também, a tentativa de vender a Petrobrax.

Trata da relação monetária entre Fernando Henrique e um de seus principais financiadores, José Eduardo de Andrade Vieira, então dono do Bamerindus.

Palmério desmistifica o “Príncipe dos Sociólogos”: FHC levou bomba duas vezes na admissão ao Colégio Militar e uma, ao tentar entrar para Faculdade de Direito da USP.

Um jenio…

No PiG…

Sobre o jenio, leia, ali, o que Millor Fernandes e João Ubaldo Ribeiro diziam do jenio…

Palmerio traz uma tabela com tudo o que o FHC vendeu.

E outra que compara o desempenho do Presidente FHC com o Presidente Lula: é uma surra, como demonstrou João Sicsú.

E mostra, com detalhes, a cumplicidade da Globo, do Padim Cerra – e do PiG – na operação de abafa do que poderia ser um obstáculo à carreira de Fernando Henrique: o filho de uma repórter da Globo, em Brasília, e sua rápida remoção para Lisboa e Barcelona.

O ansioso blogueiro entrevistou nessa quinta-feira (29), por telefone, o autor do livro, o jornalista Palmério Dória.

*****

Acompanhe a conversa, com modificações para facilitar a leitura.

Esse livro tem uma revelação – entre muitas – que é a identidade do ”Senhor X”, o homem que conta tudo sobre a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Palmério, quem é o “Senhor X”?

O “Senhor X” é uma eminência parda do Acre, isso a gente percebeu logo que o encontrou. 

Uma figuraça, elétrica!

Ele é dono de uma retransmissora do SBT; dono de acadêmias de ginástica; prédios e até de um cemitério.

Na campanha da reeleição, ele pegou pela proa a bancada acreana e tirou deles a confissão de que a reeleição estava sendo comprada pelo Serjão Motta (ex-ministro das Comunicações do Governo FHC); Orlei Cameli, então governador do Acre; e pelo Amazonino Mendes (ex-governador do Amazonas).

Isso era só a frente acreana. Na verdade essa compra, pelas contas do Senador Pedro Simon (PMDB-RS), chega a 150 deputados, pelo menos.


Ele (o ”Senhor X”) se chama Narciso Mendes, não é isso?
Isso, chama-se Narciso Mendes.

É um potiguar; passou por Belém; casou com uma moça chamada Célia; foi viver no Acre e fez a vida lá.

Foi deputado na Constituinte, depois não se reelegeu, mas a mulher dele se elegeu. Daí ele tinha acesso livre ao Congresso.

Como é um cara muito simpático, despachado, desempenado, ele foi procurado pelo repórter Fernando Rodrigues, da Folha (*), que através de uma intermediação feita pelo Carlos Aírton – outro deputado da época (também do estado do Acre) – Narciso começou a gravar com um gravadorzinho pequenino, que o Fernando Rodrigues tinha, japonês.

Nem precisava perguntar, as pessoas já chegavam contando tudo.

Isso dessa porção acreana da compra de votos.

Agora, o Narciso é também um segredo de polichinelo, né?

Por quê?
Porque todo mundo sabe que esse homem existe, que é o Narciso Mendes, e ninguém se ocupou, ninguém quis ouvi-lo; chegar lá e dizer: “então, o senhor é o ”Senhor X”, vamos conversar”.

E o Fernando Rodrigues reproduziu as gravações na Folha…
O Fernando Rodrigues reproduziu, essa matéria teve grande repercussão, o Fernando Rodrigues na época foi capa na revista Caros Amigos. Aliás, a capa foi o próprio gravador que ele usou nas gravações com o ”Senhor X”.

Pena que tenha chegado dez dias depois de a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) – que naquela época era a CNBB de guerra – denunciar que havia um esquema de compra de votos. Algum tempo depois, veio a matéria (da Folha).

Então, o Narciso Mendes gravou, passou a gravação ao Fernando Rodrigues, que transcrevia a gravação e sempre se referia a ele, Narciso, como ”Senhor X”?
Sempre se referia a ele como ”Senhor X”, e assim ele apareceu na capa de Caros Amigos.

Por que o ”Senhor X”, que era um segredo de polichinelo, resolveu sair da toca e se identificar agora?
Ele passou por maus bocados de saúde e achou que tinha de contar essa história antes de morrer.

Mas, o fato é que ele está muito longe disso, ele tem saúde para dar e vender e, seguramente, vai viver mais do que eu.

Ele tem um cemitério lá, né? Ele me levou para conhecer o cemitério e eu me candidatei a uma vaga para quando eles implementarem a cremação.

Você diz que as gravações se referem à compra de votos para a reeleição de Fernando Henrique na bancada do Acre. Quanto se pagava por deputado na bancada do Acre?
Pagava 200 mil reais. Era um esquema dos tempos dos coronéis, pagava-se em cheque.

Era uma espécie de pré-pago. Depois (de votar) eles trocariam o cheque.

Mas, ai, alguém os advertiu: cheque, né? É como alguém dar um cheque para um traficante – não estou comparando os deputados com os traficantes, mas é por ai.

Ai alguém falou: “é melhor pagar em dinheiro”. Ai passaram a fazer o pagamento em dinheiro, os deputados saiam com sacolas de dinheiro.

E quem é que comprava?
Nessa operação, no caso do Acre, o Amazonino Mendes, então governador do Amazonas; o Orlei Cameli, do Acre, e outros que eu não sei.

Mas, o Acre é apenas uma ponta, como o Pedro Simon deixa claro.

O seu livro fala que, nas conversas (gravadas) aparecia claramente, como última instância do processo, o Sérgio Motta, ministro das Comunicações do Fernando Henrique.
Isso. Aparece na época claramente nos jornais. Publicaram o envolvimento dele, as acusações contra ele.

E depois, o Fernando Henrique, sem citar o nome de Narciso Mendes, fala desse episódio no livro ”Arte da Política” – um catatau de umas setecentas páginas, naquele estilo gorduroso de que você fala, né?

Isso, cheio de colesterol…
Cheio de colesterol!

O fato é que é segredo de polichinelo, Paulo, porque todo mundo sabia quem era a peça, quem era a figura, quem fez as gravações. A certa altura do livro, o Fernando Henrique, sem citá-lo, começa a falar dele, começa a desqualificá-lo.

Mas, o fato é que falaram em CPI nessa época, e não houve CPI. A Comissão de Constituição e Justiça ouviu alguns deputados – como você sabe, dois deputados acreanos renunciaram logo em seguida, sobre pressão.

Muito bem, o fato que é que quando se falava em ”Senhor X”, ninguém quis ouvi-lo, nem CPI nem a Comissão de Constituição e Justiça.

Então são 200 mil em dinheiro, para a bancada do Acre. O Pedro Simon calcula que tenham sido comprados 150 deputados. Então é 200 mil, vezes, 150, não é isso? E em dinheiro vivo!
Em dinheiro vivo! Bufunfa; maçaranduba; e em sacolas.

E eu acredito que os comprados do “sul maravilha” não se venderam por 200 mil reais.

Então deve ter sido mais ? Mais de 30 milhões de reais?
Eu acho que sim, acho que sim.

O problema do tucanato é o seguinte: eu até te perguntei de quanto deveria ter sido a roubalheira e você não consegue mensurar. Eu acho que nem um computador de última geração desses da NASA consegue mensurar a escala de roubo quando você fala de tucanato.

Agora tem esse negócio de Trensalão.
É, não dá pra você calcular…

Palmério, o Fernando Henrique já se referiu a esse episódio dizendo que ele e o PSDB não precisavam comprar ninguém, porque a maioria absoluta era a favor da reeleição. No seu livro, o Narciso Mendes contesta esse argumento. Como é que o Narciso contesta isso?
Ele diz que, por exemplo, o Orlei Cameli não se candidatou à reeleição.

Já começa por ai. No caso acreano, o governador não se candidatou à reeleição. Ele desmonta a tese do Fernando Henrique com esse simples fato.

Outro argumento do Fernando Henrique é que ele não precisava (buscar a reeleição), mas quem precisava eram os governadores, que estavam tão interessados na reeleição quanto ele. Porque se beneficiariam. Então, pelo mesmo raciocínio do Cameli, você desmonta esse argumento.
Claro, Claro, sem a menor dúvida.

Então, você vê o esforço que foi feito para ele ( Narciso) não ser ouvido. Como se passam 13 anos e esse cara nunca foi procurado para falar ? Nunca.

Você acredita que o Luís Eduardo Magalhães – você cita ele no seu livro como presidente da Câmara – interveio nesse processo bombardeando a ideia de uma CPI, é isso?
Sim, sim, foi criado ali um bloqueio total.

Era o bate-bola permanente entre os dois, os dois que faleceram, o Luís Eduardo e o Serjão.

O Serjão era o grande operador, ele e seu projeto de 20 anos (de tucanos no poder).

Você reproduz no livro uma frase muito interessante do Serjão: “95% das coisas que eu digo foi o Fernando Henrique quem falou; os os outros 5% é o que ele pensa e não diz”.
Ou seja, é impossível, que o Fernando Henrique não soubesse do que estava rolando nos bastidores.

O desconforto com o qual ele fala disso no livro é a maior bandeira.

O livro “Príncipe da Privataria” é, na verdade, um perfil muito rico, muito detalhado, uma pesquisa minuciosa feita por você e pela sua equipe, e que trata de muitos assuntos.

Trata da Privataria de uma forma geral; trata de outros tipos de financiamento da campanha do Fernando Henrique, como a ligação dele com o então presidente do Banco Bamerindus (Andrade Vieira); trata do processo vil que foi a venda da Vale do Rio Doce.

Tem um episódio muito importante narrado pelo delegado Protógenes Queiroz, que é uma ligação muito mal explicada pelo Fernando Henrique – a relação dele com títulos da dívida externa brasileira em posse do banco francês Paribas.
De quando ele era ministro da Fazenda e o Armínio Fraga era o homem do Banco Central.

Tem um componente importante desse seu livro que é a cumplicidade da imprensa brasileira no episódio do filho que o Fernando Henrique Cardoso pensou por muito tempo ter tido com uma jornalista da TV Globo.

Qual é a relação desse episódio com a TV Globo? Como que a Globo participa desse processo de acobertar um fato público, que é o presidente da República ter um filho, ou supor ter um filho, com uma jornalista de vídeo, da emissora de televisão mais vista do país.

Onde se casam – sem trocadilhos – Fernando Henrique Cardoso e a Globo nesse caso do filho que ele reconheceu e que, na verdade, não era dele.
É o Proer da imprensa, eis aí uma tese de doutorado, Paulo Henrique. A figura central da TV Globo nesse caso é o Alberico Souza Cruz – que tomou o lugar do Armando Nogueira depois que manipulou aquele debate Lula x Collor.

Então, ele passou a circular com desenvoltura por Brasília.

Ele era amigo da Míriam Dutra (jornalista que teve o suposto filho de FHC) – ela era subordinada dele, né? – e era muito amiga da Rita Camata (ex-deputada federal), que, por coincidência, começou a aparecer em todos os espaços (da Globo), especialmente no Jornal Nacional.

Ele (Alberico) era um dos bombeiros. O outro era o José Serra, o planejador; e o Serjão, o operador.

Foram eles que operaram a transferência da Míriam para SIC, (Sociedade Independente de Comunicação), em Portugal (associada à Globo).

Não à toa: o Alberico é padrinho do Tomás (suposto filho de FHC).

Então, o Alberico remove a Míriam para Lisboa e apadrinha o menino?
Apadrinha o menino, depois ela é transferido para Barcelona.

Agora, como houve o Proer dos bancos houve um Proer da imprensa.

Um dinheiro oficial, e até mesmo privado, em uma quantidade imensa, incalculável, para comprar o silêncio da mídia sobre o filho de Míriam Dultra, o “bolsa pimpolho”, como muitos denominaram.

Eu acho que todos os veículos de comunicação investigaram o caso, mas não publicaram. Alegaram que era para ter e usar apenas se o concorrente furasse; matéria de gaveta, como se diz.

Isso lembra um arsenal dissuasório, como se diz: ”olha, há bombas nucleares suficientes para destruir o planeta ‘N’ vezes, mas não é para usar, é para ter”. Então a chantagem campeia pela imprensa, né?

Na verdade, o que eu chamo de PIG, aqui, no nosso site, não chegou a usar essa bomba.
Não, não usou. E depois na matéria da Caros Amigos nós ouvimos, um a um, os diretores de redação de jornais e revistas da época.

E isso está no livro também. Palmério, só para concluir: depois de muito tempo, ficou confirmado que o filho que o Fernando Henrique supunha ter não era dele, era de outra pessoa.

E tem no livro – e é evidentemente que não podemos revelar aqui – uma cena de comédia italiana, que é o diálogo de Fernando Henrique e Míriam Dutra depois que ficou comprovado que o filho não era dele.
É, um amigo meu disse que deu uma estrondosa gargalhada com o fim do livro.  Agora eu só queria dizer uma coisa para você, Paulo Henrique, esse é um bom livro para ler na Semana da Pátria, não é?

Aliás, o 7 de Setembro que Fernando Henrique qualificou como uma palhaçada.
Exatamente, Exatamente…

Parabéns, Palmério, depois de desmontar o pessoal do ”Honoráveis Bandidos”, do José Sarney – quantos livros já vendeu o José Sarney?
O Zé Sarney já vendeu cerca de 130 mil livros. Mas, a turma do Zé Sarney, perto dessa turma do Fernando Henrique, não passa de amadores. É outra escala.

Os ”Honoráveis Bandidos” são amadores…
É, é outra escala, outra escala…




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