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Contagem regressiva - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 08/07
Os aliados têm dito que ou Dilma abre o governo, de forma a dar a eles, em especial ao PMDB, a sensação de parceria, ou a relação tende a piorar com reflexos sobre o próprio governo e a tal governabilidade, dadas as armadilhas armadas no Congresso
O fim de semana foi cheio. Dilma Rousseff divulgou nota para dizer que não mudará ministros e fez uma nova reunião no Palácio da Alvorada para tratar de plebiscito sobre reforma política. Ou seja, passa-se a ideia de que na equipe de Dilma está tudo bem e que o problema continua sendo a forma como os políticos são escolhidos pelo povo. Enquanto isso, o dólar vai subindo, o tempo passando e a situação ficando cada vez mais estressante seja para o governo como um todo, seja para a manutenção da ampla base parlamentar. A inflação, entretanto, que todos até aqui apontavam como a grande vilã, vem caindo, o que dá a Dilma fôlego para agir não só na economia, como também na política, em que a presidente tem patinado.
Apesar das dezenas de reuniões das últimas semanas, o desprezo à participação de aliados nas decisões de governo continua, uma vez que nenhum deles é chamado para essas reuniões de avaliação, nem mesmo o vice-presidente Michel Temer.
No PMDB, o mal-estar cresce por dia. Primeiro, foi a constituinte exclusiva, onde Michel não foi chamado a opinar. Depois, o vice foi obrigado a recuar numa declaração sobre o adiamento do plebiscito para não desagradar a Dilma. Para completar, não participou da reunião de sábado.
Diante desse cenário, há no partido quem avalie que Dilma não tem muita escolha: ou abre o governo, de forma a dar aos aliados, em especial ao PMDB, a sensação de parceiro integrado, ou a relação tende a piorar com reflexos sobre o próprio governo e a tal governabilidade. E não faltam armadilhas ao longo do caminho que podem levar a um trágico desfecho.
Esta semana, por exemplo, sai o cronograma de votação dos vetos presidenciais, crucial para levantar a obstrução que barrou a análise do relatório preliminar da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) - o único projeto de lei que, se não for apreciado, não tem recesso parlamentar. Também está previsto mais um passo na direção do Orçamento impositivo para emendas dos deputados e senadores. A comissão se reúne na terça-feira.
Com o cronograma dos vetos conhecido, o Congresso analisará essas propostas com manifestantes batendo à sua porta ao longo do segundo semestre. E, nesse sentido, se a vontade das ruas for pela derrubada dos vetos, é por aí que os congressistas vão agir. Afinal, se tem uma coisa que os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves, não desejam é o salão repleto de manifestantes cobrando projetos de lei. Ocorre que a conta das bondades quem vai pagar é o caixa da União, que não está com recursos sobrando.
E para sair desse imbróglio?
Se Dilma estivesse com a popularidade nas alturas não teria muito como que se preocupar. Poderia continuar desafiando a lei da gravidade que insiste em atirar ministros ao chão quando alguma coisa parece fora do script. Ocorre que, a contar pelos números divulgados recentemente, a vida não está um mar de rosas, tampouco a reeleição garantida. Portanto, é preciso reinventar o governo, nem que seja para dar aquela lufada de novidade a fim de atravessar esse período de turbulência e demonstrar um domínio maior da situação.
Há quem diga que a reforma ministerial, aquela que Dilma insiste em não fazer na área econômica, poderia dar essa oxigenada até a eleição, como tradicionalmente fizeram todos os presidentes que se sentiram em situação de desgaste com o eleitor. Mas Dilma, na avaliação de muitos, quer mostrar que é diferente, que não tira ministros. Se continuar assim, a classe política e o mercado pressionando por mudanças e ela batendo o pé, há na política quem avalie que ela pode terminar mais desgastada ainda. Até aqui, a impressão que se tem, diante da insistência com o plebiscito e mais nada, é a de que ela vai pagar para ver.
Enquanto isso, nas ruas?
Todas as atenções estarão esta semana voltadas para a greve geral convocada para quinta-feira. O PT e a CUT também vão às ruas para pedir ao plebiscito da reforma política. Resta saber se essa pauta passará a ser prioridade um para aqueles que já estão na avenida e nas estradas há quase um mês. Na véspera, os estivadores de Santos retomam o movimento. A paralisação será de dois dias. A categoria quer muita coisa, inclusive o direito de emprego nos novos terminais privados. Mas não se vê, no rol de pedidos, o plebiscito da reforma política.
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