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Continua uma opção - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 02/05
A matriz de energia elétrica brasileira é uma das mais limpas do mundo, pois as fontes renováveis respondem por mais de 80% da geração de eletricidade. E nessa matriz de fontes renováveis se destacam as hidrelétricas.
Para reduzir os investimentos com aproveitamento máximo da base hidráulica, o país conseguiu construir muitas hidrelétricas com reservatórios de acumulação de água nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Tais barragens têm múltiplas funções, pois ajudam a regularizar a vazão dos rios, evitando inundações nos períodos de cheia e garantindo o abastecimento de água em estiagens prolongadas. Dependendo das características dos rios, tais barragens tornam os rios navegáveis, podendo inclusive transformá-los em hidrovias interligadas a outros modais de transporte, com aumento de eficiência, redução de custos e menos impactos ambientais para diferentes cadeias produtivas. Mais recentemente, os reservatórios passaram a ser utilizados também para projetos de piscicultura. O Brasil é exportador de carnes bovina, suína e de frango, mas é importador líquido da proteína animal mais saudável de todas, que é a dos pescados. A produção vem crescendo com base principalmente na criação de peixes e frutos do mar, embora haja também alguma recuperação na captura por conta da repressão à pesca predatória.
Hidrelétricas com reservatórios também foram construídas nas regiões Norte e Nordeste, que têm regimes de chuva bem definidos durante o ano, o que torna a acumulação de água ainda mais necessária nessas regiões, pois usinas baseadas apenas na vazão natural dos rios tendem a gerar pouca energia no período de estiagem, obrigando a matriz elétrica a recorrer expressivamente a fontes substitutivas térmicas, mais poluentes e mais caras.
Com os reservatórios de acumulação de água reduzindo sua participação na matriz elétrica, o país passa a depender da transferência de energia entre as regiões, o que o leva a investir em longas linhas de transmissão, com perdas técnicas e riscos de acidentes. E a necessidade de fontes substitutas cresce a cada dia. Desse modo, a participação de fontes limpas e renováveis na matriz elétrica vai diminuindo. Economicamente, a necessidade de investimentos aumenta, gastando-se mais por cada megawatt adicionado à geração, com impacto negativo sobre toda a cadeia produtiva. Em vez de se produzir mais com menos, produz-se menos com mais.
Combater reservatórios de acumulação sob o pretexto de proteção ao ambiente é, portanto, uma contradição. O resultado final acaba sendo mais impacto ambiental e menos sustentabilidade. Sem dúvida que os aproveitamentos hídricos estão escasseando nas áreas em que o relevo favorece a formação de reservatórios sem que extensas áreas precisem ficar inundadas.
Na Amazônia, de fato, existe esse tipo de restrição. Porém, mesmo nessa região há lugares para futuras barragens com reservatórios. Tal possibilidade deveria ser avaliada seriamente.
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