Corrupção, impeachment e reforma - EDITORIAL O ESTADÃO
Geral

Corrupção, impeachment e reforma - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S. Paulo -29/12

Tomar os desejos pela realidade é um vezo tipicamente petista do qual o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, deu um magnífico exemplo em entrevista publicada no Estado. É claro que um ministro de Estado, principalmente da área política, tem de ter o dom de manejar com habilidade as palavras, o que implica responder sempre o que lhe convém e não necessariamente o que foi perguntado. Mas o abuso desse recurso retórico pode se tornar uma faca de dois gumes. Ao tomar a iniciativa ? em quatro respostas sucessivas a questões que não se referiam exatamente ao impeachment ? de trazer o assunto à baila para desqualificá-lo, Cardozo revelou uma preocupação obsessiva com o tema do afastamento da presidente, o que contradiz a tranquilidade que procurou sempre, por dever de ofício, aparentar em relação à grave crise política que o governo impopular de Dilma Rousseff enfrenta.

Para o ministro da Justiça, ?as condições para um processo de saída da crise agora estão dadas?, o que significa que ?a realidade política começa a ser pacificada? e ?começa, cada vez mais, a se caracterizar a rejeição de um impeachment?. ?Ou seja, fica cada vez mais claro que o impeachment não é solução.? Ora, ninguém com um mínimo de bom senso e responsabilidade pode achar que o impeachment de Dilma Rousseff é uma ?solução?. Trata-se de um recurso constitucional de absoluta excepcionalidade que se oferece a uma sociedade livre e democrática não como um fim em si mesmo, mas como um meio para atingir objetivos maiores. No caso, para a remoção de uma presidente que cometeu crime capitulado em lei e também de um obstáculo ao efetivo combate à crise política, econômica, social e moral que infelicita o País por obra e graça da irresponsabilidade populista, do sectarismo ideológico e da absoluta incompetência da chefe do ministro.

Mas para o titular da Justiça o processo de impeachment, defendido por dois em cada três brasileiros, é apenas um ato de ?vingança? de Eduardo Cunha, que ?não tem fundamento? legal. Para Cardozo, ser favorável ao impeachment é ?defender o quanto pior melhor?, expressão corrente na retórica petista dos momentos difíceis, a que o ministro recorreu mais de uma vez na entrevista.

É bizarra também a posição do auxiliar de Dilma em relação à corrupção que contamina hoje praticamente toda a administração pública. Chega a ser tocante a delicadeza com que se refere à participação do PT nos esquemas de corrupção que já botaram atrás das grades dois de seus ex-presidentes e dois ex-tesoureiros: ?É evidente que o PT sofrerá críticas e será acusado por um eventual erro que alguns dos seus dirigentes e militantes fizeram?. Ou seja, o mensalão e a farra da propina na Petrobrás, para citar apenas os exemplos mais luzidios, foram apenas ?eventual erro? de dirigentes ? e não uma estrutura criminosa montada na administração pública para garantir os recursos necessários à realização do ?projeto de poder? do PT.

O mais notável, porém, é a sutil tentativa de Cardozo de relativizar a responsabilidade do PT nos casos de corrupção com o argumento de que esses malfeitos só estão sendo investigados e punidos porque os governos do PT assim o quiseram. Mais ou menos assim: a corrupção não existe porque é praticada. Existe porque é descoberta.

Mas José Eduardo Cardozo, justiça seja feita, é extremamente crítico do sistema político que elegeu e tem mantido o PT no poder: ?É um sistema que gera corrupção e que gera problemas estruturais no âmbito da governabilidade?. Mais: ?Eu tenho que atacar as causas, como também tenho que combater os efeitos. Combatem-se os efeitos punindo e prendendo os corruptos. A lei vale para todos. Mas tenho que atacar as causas. E elas, em larga medida, remontam a questões estruturais de nosso sistema político. Isso só pode ser enfrentado com uma reforma?.

Pena que o PT, há 13 anos no poder, jamais tenha cogitado a sério colocar sua influência, hoje decadente, a serviço da concretização de uma ampla reforma política. Dilma Rousseff, por exemplo, prefere continuar praticando o toma lá dá cá e arcando com os ?problemas estruturais no âmbito da governabilidade?. Como revolucionária que ainda é, a palavra ?reforma? causa-lhe engulhos.




- Coluna De Claudio Humberto
LULA DEVE DEPOR NA POLÍCIA SOBRE A VENDA DE MP O ex-presidente Lula deve ser convocado a depor no escândalo de venda de medidas provisórias, que, segundo a Polícia Federal, rendeu R$ 2,4 milhões a seu filho Luiz Cláudio Lula da Silva só no caso...

- Desrespeito Ao Supremo - Editorial O EstadÃo
ESTADÃO - 21/10 O governo de Dilma Rousseff, seguindo o padrão instituído pelo PT, entrou de vez no terreno da leviandade ao qualificar como ?política? qualquer eventual decisão judicial que acolha as acusações contra a presidente e que podem...

- As Causas Da Corrupção - Editorial O EstadÃo
O ESTADO DE S.PAULO - 07/02 A presidente Dilma Rousseff utilizou a mensagem anual ao Congresso Nacional para insistir numa intencional confusão entre as deficiências do atual sistema de representação e as causas da corrupção. Ao se referir ao esforço...

- Veja A Repercussão Do Pedido De Impeachment Pelo Mundo
A abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, autorizada na noite de quarta-feira (2) pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), repercutiu nos principais jornais internacionais. O britânico Guardian citou...

- Mídia Ataca Ministro Da Justiça
Por Renato Rabelo, em seu blog: Setores conservadores e reacionários da mídia têm defendido a saída do ministro José Eduardo Cardozo por sua suposta conduta política ao encaminhar as denúncias de corrupção nas licitações do Metrô de SP à...



Geral








.