Por Altamiro Borges
Milhares de jovens ocuparam as ruas da capital paulista nesta terça-feira (20) contra o sinistro projeto de "reorganização escolar" do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que ameaça fechar centenas de escolas em São Paulo. Foi o quarto protesto dos últimos dias, o que comprova o potencial desta luta que já une estudantes, professores, auxiliares de ensino e pais de alunos e conta com o apoio ativo de sindicatos e movimentos sociais. Segundo relato da Rede Brasil Atual, a manifestação teve início na Praça da República, onde fica a Secretaria Estadual de Educação, e foi concluída na Praça da Sé:
"O ato pacífico foi acompanhado por poucos policiais militares. Os manifestantes levaram bonecos infláveis de Alckmin e do secretário Herman Voorwald... Desde que a medida foi anunciada uma onda de manifestações vem ocorrendo em várias cidades, organizada por professores e alunos. Tanto organizações estudantis, quanto movimentos sociais e sindicatos, além de estudantes e seus familiares estão participando de mobilizações para impedir o fechamento de escolas, a superlotação de salas, a demissão de professores temporários e a transferência de cerca de 1 milhão de alunos, segundo avaliação do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp)".
A chamada "reorganização escolar" foi anunciada pelo secretário da Educação, Herman Voorwald, em entrevista ao telejornal Bom Dia São Paulo, da TV Globo, em 22 de setembro. Autoritário, ele explicou que a medida teria como objetivo separar os alunos por ciclos e não deu maiores detalhes sobre seus impactos. Apenas garantiu, de forma demagógica, que com este modelo "o aprendizado ocorre melhor e a formação do professor ocorre melhor". O anúncio surpreendeu os estudantes e os professores e a explicação não convenceu ninguém. Segundo levantamento parcial da Apeoesp, a tal "reorganização escolar" levará ao fechamento de, pelo menos, 163 escolas no Estado de São Paulo.
Já há consenso de que a medida não trará nenhum benefício para estudantes, professores ou famílias. "Não há nesta reorganização nenhuma preocupação pedagógica. Ela é uma mudança física, descolada de um verdadeiro projeto educacional. Vai desorganizar a rede pública. A secretaria devia valorizar os professores, resolver os problemas estruturais das escolas, reduzir o número de alunos por sala, o que asseguraria melhor condição de trabalho ao professor e de aprendizagem ao estudante", alertou à Rede Brasil Atual a presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel. A opinião é compartilhada por vários jovens estudantes ouvidos pela reportagem:
"L.N., de 15 anos, da Escola Estadual Fernão Dias, em Pinheiros, zona oeste da capital, acredita que as salas de aula vão virar 'latas de sardinha' com a reorganização. 'Hoje a minha sala já tem 40 alunos. Minha escola vai receber várias turmas de ensino médio de outras da região. Vai ficar um inferno. Não estamos brincando. Se não parar a reorganização não vamos sair das ruas', afirmou. Alguns alunos não terão a mesma sorte de permanecer na escola que estão. P.R.L., de 12 anos, estudante da Escola Estadual Professor Eurico Figueiredo, no Jaçanã, zona norte, ainda não sabe onde vai estudar no próximo ano e considera um absurdo o que está sendo feito. 'Ele vai fechar uma escola boa. Nós gostamos de estudar lá. O governador devia parar com isso, porque senão esse protesto de hoje só vai piorar', garantiu".
Para Ângela Meyer, presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (Upes), a iniciativa do governador Geraldo Alckmin é autoritária e visa apenas reduzir os custos do Estado com a educação. "O maior problema é que ninguém sabe exatamente o que significa essa reorganização... Este seria o momento de reduzir o número de estudantes por sala, melhorando as condições dos professores e dos alunos". Ela garante que a mobilização vai crescer em todo o Estado caso o grão-tucano, que é pré-candidato à Presidência da República, não recue nos seus planos destrutivos.
*****
Leia também:
- Falta papel higiênico nas escolas de SP
- Reposição de aula sem merenda em SP
- Os professores e os jagunços da mídia
- Greve dos professores. Cadê a TV Globo?
- Hoje não tem água nem aula em São Paulo
- O preço da reeleição de Geraldo Alckmin
Do site da UJS: Entenda porque os estudantes iniciarão nova onda de mobilização em defesa da educação pública paulista. Algo de muito estranho acontece em São Paulo. Além do escândalo de desvio da merenda, uma série de manobras do governador...
Por Cida de Oliveira, na Rede Brasil Atual: A superlotação das salas de aula, que hoje chega a ter mais de 50 alunos na maioria das mais de 5 mil escolas estaduais, está sendo regulamentada pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Resolução da Secretaria...
Por Cida de Oliveira, na Rede Brasil Atual: Longe de significar o fim da reorganização da rede estadual de ensino reivindicada por alunos que ocupam escolas há 25 dias, a suspensão do projeto do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), anunciada hoje (4)...
Entrada da EE Fernão Dias/Foto: Laura Viana/BdFPor Laura Viana e Vivian Fernandes, no jornal Brasil de Fato: Estudantes da Escola Estadual Fernão Dias, na zona oeste da capital paulista, ocupam o local na manhã desta terça-feira (10). Cerca de 250...
Da Rede Brasil Atual: Uma manifestação que reuniu pelo menos mil estudantes e professores na Avenida Paulista, na região central de São Paulo, contra o fechamento de escolas estaduais pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), foi reprimida com violência...