CRÍTICA: AMOR PODE DAR CERTO / O amor pode dar, certo?
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CRÍTICA: AMOR PODE DAR CERTO / O amor pode dar, certo?


Como qualquer coisa com “Parte 3” no final do título pode começar a me causar efeitos colaterais, e como sigo firme no meu propósito de fugir do ogro verde, deixei “Shrek Terceiro” de lado e fui encarar um melodraminha meio desconhecido, “O Amor Pode Dar Certo”, com atores que não são exatamente astros. Inclusive, o maridão tá crente de que se trata do primeiro papel do Dermot Mulroney e da Amanda Peet. Mas é óbvio que não. Qualquer freqüentadora de comédias românticas há de se recordar do Dermot em “O Casamento do Meu Melhor Amigo” e talvez em “Procura-se um Amor que Goste de Cachorros”, porque ele é um charme só. Já a Amanda, bom, ela tava em “Alguém Tem que Ceder”, lembra?

Ambos são lindos, e em “Amor”, ambos têm câncer, o que prova que dá pra ficar doente e manter o glamour ao mesmo tempo. Mal posso esperar pela minha quimioterapia pra ficar a cara da Amanda. Perdoe o meu sarcasmo: respeito os doentes terminais. Como todo mundo, faço o sinal da cruz toda vez que ouço essa palavra que começa com C, e choro baldes toda vez que fazem filmes com belos atores sofrendo dessa terrível enfermidade que começa com C. Mas o maridão até que tem razão quando diz que o roteiro de “Amor” parece ser de alguém com um desejo mórbido de mudar a trama de “Love Story” (aquele em que só a moça tem câncer, e que nos ensinou que amar é nunca ter que pedir perdão). Quero dizer, quando o casal de pombinhos de “Amor” se deita na mesma cama de hospital, eu pensei: será que dá pra economizar com médico? Fazer um pacote tipo pague um tratamento, leve dois?

Dinheiro não é problema pra dupla, porque eles vivem no país mais rico do mundo, e aparentemente nem precisam trabalhar. Uma hora o carinha paga uma consulta de quinhentos reais pra um psicanalista, e ninguém jamais sussurra as palavras “plano de saúde”, pra não quebrar o clima romântico. Eu lembrei de cara de “Tudo por Amor” e “Doce Novembro”, e passei a me concentrar no que gostaria de fazer se tivesse poucos meses de vida. Comer montanhas de chocolate estaria no programa, decerto, mas acho que a essa altura meu fígado já teria virado patê. Sexo seria uma boa. Até perguntei pro maridão se um diagnóstico de câncer apimentaria nossa relação, mas ele falou que, se fosse com ele, compraria uma TV nova, maior, e que não estivesse cor de rosa, como a nossa atual. Eu: “Você passaria seus últimos meses de vida vendo TV, seu inútil?”. Ele: “É, mas TV a cabo”. O chato de já ter tudo e ser feliz é que falta criatividade nessas horas difíceis. Será que eu gostaria de pular de um trem em movimento? Claro que não. De pescar? Você deve estar brincando. De pichar torres? Fala sério. De transar com o Dermot? Aí pode ser.

“Amor” é engraçadinho, nem é altamente ofensivo, mas é um desses dramalhões difíceis de mencionar sem usar o diminutivo. Gostei mesmo foi dos efeitos sonoros no cinema. Todo mundo chorando. No final não era mais sob, sob, chuif, chuif. Havia soluços e altos prantos, um dilúvio. Eu, manteguinha derretida que sou, também verti lágrimas, consciente de que estava sendo manipulada. E tomara que essa água toda derramada compense o desperdício mostrado no filme. Tudo bem que os pombinhos vão morrer logo, mas precisam matar o planeta? Sinto muito, não tenho mais fígado pra ver discussão entre casal em que um deles esquece a torneira da pia ou o chuveiro aberto. Essa água indo pro ralo durante a briga do casal é minha também, pombas!

Mas enquanto eu não estava sendo pragmática, achei “Amor” uma ótima pedida pra comemorar o Dia dos Namorados. E, na saída da sessão, questionei o maridão: “Você acha que se a gente fosse doente terminal se amaria mais?”. “Quão terminal?”, ele quis saber, no que levou um safanão no meio da testa.





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