CRÍTICA: ATRAÇÃO PERIGOSA / Perigo é tatuagem na nuca
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CRÍTICA: ATRAÇÃO PERIGOSA / Perigo é tatuagem na nuca


Não ligue pra cara de mau do Ben. Concentre-se na tatuagem.

A maior lição que tirei de Atração Perigosa (nome genérico dado pro título original nada inspirado de The Town, A Cidade) é que, se você for ganhar a vida como assaltante, não se tatue. Essa é uma dica valiosa, gente, podem anotar aí. A polícia terá um registro da sua tatuagem logo após a sua primeira vez na prisão, e se alguma testemunha vir a sua tatuagem, de nada adiantará a sua máscara de freira. Bastará a testemunha contar pro FBI “Ele tem uma tatuagem verde na nuca”, que pronto, a polícia já vai ter toda a sua ficha corrida.
Pelo menos isso é o que o personagem do Ben Affleck conta a seu interesse romântico, Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona, Frost/Nixon). Mas ele não pode dizer pra ela que sabe tudo sobre tatuagens e testemunhas porque vive no crime. Assim, inventa que vê muito CSI. O maridão vê muito dessas séries de perícia (mais do que faz bem à saúde mental de uma pessoa), e não sei se ele sabe de todas essas bossas. Mas nem discuto: tudo que sei de polícia, perícia, carceragem, e sistema judiciário, tudo mesmo, eu aprendi no cinema.
Gostei bastante de Atração. Tem um bom ritmo, mistura bem ação com romance, mas não vai ficar na minha cabeça. E, como filme de assalto a banco, ele nem registra. Claro que os criminosos usam máscaras bacanas, como as de freira (no poster tenebroso) e de caveira, mas eu gostava mais da dos ex-presidentes americanos em Caçadores de Emoções (aquele com o Patrick Swayze e Keanu Reeves que você já deve ter visto n vezes na Sessão da Tarde, sem saber que a diretora é a Kathryn Bigelow). Em Atração é tudo meio previsível. A história é basicamente essa: num bairro de Boston, assaltos à mão armada passam de geração pra geração. Ben é filho de um bandido, tem amigos de infância bandidões, assalta bancos junto com os amigos. Num desses roubos, eles fazem a gerente Rebecca de refém. O problema é que ela vive no mesmo bairro. Ben se envolve com ela, pensa em largar tudo, e os outros não deixam. Aliás, taí algo que não compreendi: por que ele insiste em se despedir de todo mundo? Ele nem desconfia que seus comparsas não vão gostar? Ele podia só pegar o carro, ou ônibus, ou avião, e ir embora de lá rapidinho. E precisa se apaixonar pela testemunha? Rebecca não é a única mulher no mundo, Ben. Aqui mesmo no Brasil há outras. (Pecado, eu nem acho o Ben bonito).
Também não entendi por que ele diz que cresceu junto com seu amigo Jeremy Renner, um psicopatão, e com a irmã de Jeremy, Blake Lively (que eu não sei quem é, nunca vi, mas ela tá em Gossip Girl), se há uma diferença de idade de mais de quinze anos entre Ben e Blake. Jeremy rouba todas as cenas com grande facilidade e deve ser indicado ao Oscar de ator coadjuvante. Ano passado o Oscar se lembrou dele pra ator, por Guerra ao Terror, e ele realmente tem essa intensidade maníaca, esse brilho no olhar. A Academia deve estar ansiosa pra premiá-lo, mas o Oscar de coadjuvante deste ano já tem dono, e ele se chama Christian.
Já o Ben, tadinho, nunca foi acusado de ser um grande ator. Mas ele tem uma história legal, que deve calar fundo em todos os aspirantes de Hollywood (lembra como ele estourou, né? Vendendo o roteiro de Gênio Indomável que ele escreveu com seu amigão Matt Damon e exigindo que eles fossem contratados como atores), e Atração é o segundo longa que ele dirige. O primeiro, O Medo da Verdade (07), em que ele dirigiu seu irmão mais novo, Casey, também era acima da média, e rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante pra Amy Ryan. É bom que Ben esteja se firmando como um diretor relevante, ainda mais um diretor relevante de atores.
Todo o elenco de Atração está bem (Ben deve ser o elo mais fraquinho). Tem o Pete Postlethwaite, morto no começo de janeiro, no seu penúltimo papel (o último, em Killing Bono, será lançado este ano). O gatão Jon Hamm (Mad Men, O Dia em que a Terra Parou) como agente do FBI, e o Chris Cooper (que eu nem reconheci. Taí um grande mistério: por que tantos homens, depois de uma certa idade, ficam com a cara do José Dirceu?) como pai do Ben. Mas toda vez que o Jeremy aparece o filme é totalmente dele.
E eu não sei se reconheceria sua tatuagem, mas penso que lembraria da sua voz. Mais do que vou me lembrar de Atração daqui a um mês.




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