CRÍTICA: BLUE JASMINE / Um Bonde Chamado Desejo sem desejo
Geral

CRÍTICA: BLUE JASMINE / Um Bonde Chamado Desejo sem desejo


Sai do banheiro, Blanche(tt)!

Deu dez minutos de Blue Jasmine, filme mais recente do Woody Allen que eu fui ver sem saber absolutamente nada, e eu perguntei pro maridão: "Por que ele decidiu refilmar Um Bonde Chamado Desejo?"
É sério, tá tudo lá: a insanidade da protagonista, sua total falta de recursos, ela viver num mundo de fantasia, a perda de um passado próspero, ter que morar com a irmã de outra classe social, os conflitos com os familiares da irmã, ela mentir prum pretendente... Faltou só o estupro e um final mais corajoso e conclusivo, porque todo o resto está presente em Jasmine
E pior: sem crédito à brilhante peça de Tennessee Williams. Woody não podia ter jogado nem um "baseado na peça" junto aos créditos? Não, porque aí não seria mais roteiro original, e sim adaptado. E Woody praticamente só escreve roteiros "originais" (assim, até eu). Pô, não dá nem pra dizer que Jasmine seja uma homenagem à Bonde! Tudo Sobre Minha Mãe, do Almodóvar, é (à Bonde e à A Malvada, ambos citadíssimos no filme). Jasmine tá mais como cópia descarada, ponto a ponto. 
Cate Blanchett faz Blanche DuBois, quer dizer, Jasmine, uma socialite de Manhattan que, depois de uma vida inteira de luxo, se vê sem nada, e precisa se mudar pra San Francisco, pra dividir o apê com a irmã, interpretada por Sally Hawkins (só na cabeça de classe alta do Woody que o apê dela pode ser visto como coisa de pobre. Sally vive melhor até que os pobres nas novelas da Globo!). 
Nos muitos flashbacks, vemos que Jasmine perdeu Belle Reve, quer dizer, sua vida mansa em Nova York, porque seu marido adúltero Alec Baldwin fraudou o sistema financeiro. Vemos também que Sally e seu então esposo tiveram a chance de subir na vida ao ganhar 200 mil dólares na loteria, mas adivinha quem tomou conta do dinheiro? Pois é, o Alec.
Cate (no meio) em Bonde
Olha que interessante: Alec fez um Stanley Kowalski surpreendente no teatro (um papel difícil, já que a sombra do Marlon Brando está sempre à espreita), que virou uma ótima versão pra TV (com a sempre maravilhosa Jessica Lange), há uns vinte anos. Em 2009, Cate Blanchett foi Blanche (e deve ter sido inesquecível) num teatro em NY. Eu ofereceria o maridão em sacrifício pela possibilidade de ver esse Bonde com a Cate em vez de Jasmine.
Houve um momento lá pela metade de Jasmine que eu pensei: ok, agora vai. Agora o Woody finalmente vai tentar algum tipo de discussão sobre classes sociais, como fez tão bem em Ponto Final e em O Sonho de Cassandra. Mas não, é tudo difuso, sem profundidade. Aí eu desisti e fiquei esperando o Bobby Cannavale gritar "Steeeeeelllllaaaaa!" na cena do supermercado. 
O filme tem defeitos demais, começando pelo roteiro, com alguns flashbacks que ora não acrescentam grande coisa, ora estão inseridos nos momentos errados (por exemplo: a cena de Alec com seu filho criança, falando sobre caridade). Há um amontoado de coincidências na trama (não sei quem vê não sei quem numa festa, outro não sei quem vê Alec traindo, outro personagem encontra Jasmine -- Nova York e San Francisco não são cidades tão minúsculas pra todo mundo esbarrar em todo mundo o tempo todo) e diálogos preguiçosos. Isso quando diálogos! Woody está acostumado a deixar musiquinha cobrindo uma conversa. Até pode funcionar em filmes mais leves, não em um em que acompanhamos o desmoronamento da protagonista. 
Sem falar dos filhos da irmã, que aparecem e desaparecem sem nenhuma explicação. É toda uma gama de personagens que não são desenvolvidos e de cenas que não servem pra nada, além de confundir o Globo de Ouro sobre a indicação de Cate pra atriz em comédia ou drama. Aquelas cenas todas com o dentista são pra quê, exatamente?
É tudo muito superficial. E aqui talvez eu fale uma besteira, mas tenho a impressão que não é só devido ao roteiro fraco que vários personagens (e, consequentemente, atuações) não se destacam (estou pensando no Alec e no Peter Sarsgaard, que meio que faz o Mitch de Bonde). É a própria filmagem mesmo. Pense em quantos close-ups Alec ou Peter recebem. Certo, é uma escolha do diretor, e talvez o objetivo seja mesmo distanciar esses personagens do público, mas chega uma hora em que filmar tudo de longe ou em plano americano não permite um maior envolvimento. 
Não por coincidência, a melhor cena de Cate é na lanchonete com os sobrinhos (aqueles desaparecidos, o grande mistério), quando a câmera foca o rosto dela, com toda sua dor, toda sua fragilidade, todo seu rancor. Aliás, esta é a melhor cena do filme, ponto. 
Espere sentada, ou você se cansa.
Cate já tem um Oscar (por Aviador).
Talvez eu não tivesse ficado tão decepcionada com Jasmine se tanta gente não estivesse falando bem. Woody é prolífico, ele lança um filme por ano, e, convenhamos, boa parte deles é descartável (alguém gostou de Para Roma, com Amor? Já Meia Noite em Paris é lindo). Eu gostaria de saber o que Jasmine tem que não foi realizado estupidamente melhor por Bonde, quase setenta anos atrás. E já aviso que ficarei muito chateada se a Cate ganhar um Oscar que, se houver justiça, deve ir pra Amy Adams (Trapaça). 
Isso é um selfie?




- Dramas Da Vida Privada - Zuenir Ventura
O GLOBO - 08/02 Acusação a Woody Allen e separação de Grazi e Cauã saltaram do âmbito particular para o espaço público da mídia De um lado, uma grave denúncia de abuso sexual de criança; de outro, uma acusação de roubo de marido de colega....

- Esquemas - Caetano Veloso
O GLOBO - 01/12 Quem não viu 'Blue Jasmine', pare por aqui, ou pule para os parágrafos finais onde provavelmente estarei tratando de alguma outra coisa que não tem nada a ver com isso O filme de Woody Allen com Cate Blanchett DuBois é bom,...

- O Papa E Woody Allen - Rosiska Darcy De Oliveira
O GLOBO - 12/10 No mundo de hoje, o que é, onde está, para que serve o poder? Na obscuridade da noite voa um fantasma e abre as asas sobre a humanidade. Todos o conhecem. Mas o fantasma se esfuma com a aurora para renascer à noite nos corações....

- E O Oscar De Melhor Filme Foi Para...
Veja abaixo a lista de alguns vencedores do Oscar 2014  FILME "12 anos de escravidão" "Gravidade" "Trapaça" "Capitão Phillips" "Clube de compras Dallas" "Ela" "Nebraska" "Philomena" "O lobo de Wall Street" DIRETOR Alfonso Cuarón, de "Gravidade"...

- Globo De Ouro, TermÔmetro Pro Oscar
Se essas duas não ganharem o Oscar, será trapaça Só algumas breves observações sobre a premiação do Globo de Ouro, que aconteceu no domingo. Pra começar, devo dizer que não vi a cerimônia e não sei quase nada sobre ela.Só queria falar sobre...



Geral








.