CRÍTICA: CAPITÃO PHILIPS, SEQUESTRO, ATÉ O FIM / Mar doce mar
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CRÍTICA: CAPITÃO PHILIPS, SEQUESTRO, ATÉ O FIM / Mar doce mar


Assisti recentemente a três filmes que se passam sobre as águas. O primeiro foi Capitão Philips (veja trailer), que concorre ao Oscar, e não vai ganhar nem que a vaca tussa e afunde. 
Até gostei de Capitão, que tem um bom ritmo. Tom Hanks está ótimo, pra variar, e as cenas finais, com ele vulnerável, em choque, são memoráveis, muito realistas mesmo. Só que é um filme em que os negros são vilões, e as pobres vítimas, brancas. Sim, sim, eu sei, alguém vai dizer “Mas é baseado em fatos reais! Piratas somalis realmente sequestraram um cargueiro americano em 2009!” 
É verdade, mas fatos verídicos, numas. O capitão Philips da vida real era (é ainda) autoritário e mais preocupado em economizar que na segurança de sua tripulação, que lhe pediu para não navegar tão próximo à costa somali, onde poderiam ser alvos de piratas. 
Além do mais, o verdadeiro capitão exigiu que seus comandados se engajassem num treinamento padrão contra fogo enquanto o navio estava sendo perseguido pelos piratas. E ele nunca disse “Se você vai atirar em alguém, atire em mim!” Em suma, ele foi muito menos heroico que Tom Hanks. Tanto que onze membros da tripulação estão processando o navio -- pedem 50 milhões de dólares pelo desprezo a sua segurança. 
Outra coisa é que o filme passa muito por cima da tragédia somali que faz com que jovens desesperados (os piratas reais eram menores de idade) se tornem piratas. O filme mostra que chefões da guerra forçam esses jovens à criminalidade. Mas há outros fatores, como a pesca ilegal e predatória e o lixo tóxico e nuclear jogado nos mares somalis (as duas atividades realizadas por países ricos), que destruíram o meio de vida daqueles pescadores. Quem são, afinal, os ladrões da propriedade alheia?
Mesmo que os fatos correspondessem 100% à realidade, o que está longe de ser o caso, há que se pensar na escolha de fazer um filme em que negros são vilões. Não é como se a gente tivesse milhares de produções em que negros são heróis. 
É preciso ver o contexto histórico pra entender como negros (e índios, e homossexuais, e mulheres) têm sido tratados por Hollywood. Qual a responsabilidade em se filmar uma história que, no fundo, é sobre um episódio de falta de sorte, já que fazia duzentos anos que um navio americano não era tomado por piratas?
Vale lembrar que esta deve ser a segunda vez que o cinema americano fala da Somália numa superprodução. A primeira vez foi em 2001. O filme era Falcão Negro em Perigo, que também retratava uma situação “real”: uma missão militar americana em que um helicóptero é abatido, resultando na morte de 19 soldados americanos. 
Triste, certo? Sem dúvida. Porém, pra resgatar alguns soldados, o exército americano matou mil (1,000) civis somalis. Nenhum deles têm voz ou rosto no filme. Em compensação, os créditos finais trazem os nomes de cada um dos 19 soldados americanos, deixando bem claro quais vidas têm mais valor. 
Enfim, não é que eu não tenha gostado de Capitão Philips. É só que, ideologicamente falando, o filme é bem podre.
E a competência bélica americana não me convenceu. Sem querer spoilear nada pra vocês, vou apenas dizer que há uma cena em que temos apenas quatro piratas e um capitão Philips num bote, cápsula salva-vidas, sei lá como se chama o troço, e dois desses homens estão no mar. Aí os fuzileiros navais veem a ação de longe, e concluem: “Há pelo menos um pirata no mar”. Hã, dããã! Quem mais poderia estar na água? Gênios estrategistas, esses caras!

Dois dias depois eu vi Sequestro (Kapringen, ou A Hijacking, em inglês -- veja trailer), filme dinamarquês de 2012 também inspirado numa história real de piratas. 
Gostei mais de Sequestro que de Capitão. Ambos têm um ritmo excelente e seguram a tensão, mas Sequestro, como se poderia esperar, é bem menos heroico e mais humano. 
Ele se centra principalmente no cozinheiro do navio e, lá longe, no dono da empresa que tem o navio, que é quem vai negociar o resgate dos sete tripulantes com os piratas. 
No início, o pirata negociador (que nega ser pirata, e se diz apenas um tradutor) pede 15 milhões de dólares. Há um especialista em sequestro que diz que nunca, jamais, se pode pagar um resgate sem negociar, porque senão os caras simplesmente aumentarão o valor. 
Isso não me convenceu muito, porque sabe a primeira contraproposta que o dono do navio faz? 250 mil dólares! Quer dizer, olha a distância: de 15 milhões pra 250 mil! As negociações duram meses, e você fica pensando se eles não podem chegar num meio termo mais rápido. Como eles são dinamarqueses, não americanos, não há a menor chance de fuzileiros navais invadirem o navio e metralharem todos os vilões.
Em Sequestro, existe também o racismo de ser basicamente um filme de vilões negros contra mocinhos brancos. Só que alguns dos tripulantes dinamarqueses são negros. Além do mais, como marinheiros e piratas passam um tempão juntos, há muito mais contato entre os dois grupos. 
Numa sequência, alguns pescam, com varas de pescar, e todos beijam o peixão fisgado. É tudo muito realista, sem trilha sonora, bem ao estilo Dogma. 
O final, arrebatador (não se preocupe que vou me controlar pra não entregar nada), é uma série de erros que não podiam ter acontecido de jeito nenhum. 
Eu ainda vi um terceiro filme que se passa inteirinho no mar: Até o Fim (que, em inglês, chama-se All Is Lost, ou Tudo Está Perdido, o que é bem diferente do título em português -- veja trailer). 
Imaginava-se que, assim como Capitão renderia uma indicação ao Oscar de melhor ator pro Tom Hanks, Fim renderia uma pro Robert Redford. Mas não aconteceu. A competição foi árdua em 2013. Muitos bons papéis pra atores. 
Redford está com 77 anos. O mais divertido foi ler um crítico americano dizendo que o ator aparenta a idade que tem. Meu, não sei com que pessoas de 77 anos esse crítico anda, mas pelamor. Se me dissessem que Redford tem 60 anos, eu nem hesitaria em acreditar. 
Bom, o interessante de Até o Fim é que só tem ele de personagem, mais ninguém, e não sabemos praticamente nada sobre ele. Não sabemos seu nome, quanto tempo ele está lá, o que ele está fazendo navegando sozinho num iate (não é um iate luxuoso como o visto em Lobo de Wall Street; li que este tipo de iate de Até o Fim custa uns 20 mil dólares; vi também que o filme “sacrificou” três embarcações, se bem que a maior parte das cenas foi feita em tanques). 
Sabemos que “não deu”, porque o filme começa assim, com uma voz em off lendo uma breve carta pedindo desculpas e dizendo que lutou até o fim. O resto do filme é o que o leva até esta situação –- bater sem querer num contêiner, no meio do oceano, e algumas tempestades terríveis. 
Como o protagonista não fala sozinho e nem há uma bola do vôlei pra ele chamar de sua (alguns de vocês devem lembrar do Tom Hanks e seu Wilson em Náufrago), praticamente não há falas (acho que todas as linhas aparecem no trailer). Um filme sem diálogos, com um só ator, sem tigre pra dividir o bote (ao contrário de As Aventuras de Pi), e sem que a gente saiba nada sobre o personagem -– vamos admitir que nada disso é muito comum, o que já constitui um bom motivo pra ver Até o Fim
Eu fiquei totalmente engajada pelo filme, mas sabe quando eu velejaria sozinha? Nunca. Aliás, os planos de fazer um cruzeiro marítimo (quem nunca quis?) foram adiados por tempo indeterminado após esses três filmes. 

Duas coisinhas pra você fazer hoje: participar do meu tradicional bolão do Oscar (tem o grátis e o pago), e comprar meu livro de crônicas de cinema. Obrigada!




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