Pois é, apesar da historinha ser meio chinfrim, ninguém vai prestar atenção. Afinal, todo mundo tá de volta: o Tobey Maguire, a Kirsten Dunst, o diretor Sam Raimi... E somos brindados com um elenco coadjuvante que só um arrasa-quarteirão pode reunir. O James Franco, que faz o mini Duende Verde, tá começando a ficar bonitinho só agora (um dos primeiros orgasmos coletivos da platéia foi ele sem camisa. O sujeito do meu lado cobriu os olhos da namorada pra que ela não se entusiasmasse muito com músculos alheios). Outra gracinha é o Topher Grace, como fotógrafo adversário do Peter Parker (dizem que o Topher esteve numa série que nunca vi, “That 70s Show”, e no “Sorriso de Mona Lisa” e “Traffic”, mas não lembro de jeito nenhum). Tem a Bryce Dallas Howard (“Manderlay”, “A Vila”) como rival da Mary Jane, a Theresa Russell como ex-mulher de bandido, e o excelente Dylan Baker (“Felicidade”) totalmente desperdiçado, fazendo um professor que fala algo que a gente já sabe faz séculos. Mas parece, pode ser, quem sabe, que talvez ele venha a ser um vilão, o Lagarto, numa próxima seqüência. E tem o Thomas Haden Church como Homem Areia. Ele já tinha sido muita areia pro meu caminhãozinho em “Sideways”, mas aqui tá a cara do Raul Gazolla, fazendo uma só expressão, a de homem atormentado. Como a melhor cena do filme, disparado, envolve seu personagem, ele se salva. Inclusive, o nascimento do Homem Areia seria poético, bonito até, se o meu vizinho de poltrona não estivesse narrando suas aventuras particulares durante aquele show de efeitos especiais.
É, a platéia foi um espetáculo à parte. No primeiro filme da série o público chamou o Aranhudo de gay por ele não querer beijar a MJ no final. Agora invocaram com o cabelo dele. Não podem ver um cara de franja sem que brotem os impulsos homofóbicos. Era emo pra cá, emo pra lá, seguido de insultos. Noutro momento, o mordomo diz pro Duende, “Eu amava seu pai”, da forma mais paternal possível, e a horda de adolescentes histéricos quase teve um treco. Nas regras deles, homem não pode amar homem. Esses espectadores aplaudiam toda vez que o super-herói salvava Nova York, mas até eles se sentiram um pouco incomodados pelo pouso forçado que o Aranha faz em cima de uma bandeira americana. Houve um princípio de vaia.
Claro que a aventura tá cheia de boas sacadas, como o humor físico do dono do jornal e do restaurante francês, o Tobey imitando o John Travolta, e a abundância de metalinguagem (o herói pergunta “de onde vêm esses vilões?”; a MJ reclama que “esse era o nosso beijo”). Mas o roteiro é um tanto quanto preguiçoso. A gosma preta que vem do espaço precisa grudar logo no aracnídeo? A MJ protagoniza o caso de glória e queda mais rápido que já vi. Num instante ela é estrela da Broadway, e no outro é garçonete. Falando na MJ, eu posso passar mal se vir mais um carro ameaçando despencar em cima dela. Aliás, o que era aquilo? Uma estrada no céu? E, embora o filme seja longo demais, outras coisas, além da MJ, ficam no ar. Não tá bem explicado por que o Aranha cai em desgraça com o povo de NY. É porque ele muda a cor do uniforme, de vermelho/azul (cores da bandeira americana) pra preto? E os momentos mortos da trama (sermão de tia é chato) fizeram com que o guri atrás de mim concluísse que eu e todos em volta dele vamos ao cinema para ouvi-lo falar dos seus hábitos sanitários. “Eu tomo dois banhos por dia”, disse ele à parceirinha enquanto o Peter Parker se ensaboava. Nessas horas eu pensava, pô, que pena que o Aranha não mata ninguém. Ele é tão bonzinho que todos os vilões que morrem perto dele cometem suicídio. E se ter três ou quatro vilões no mesmo longa já atrapalha bastante, pior é um deles declarar “Não sou uma pessoa ruim, só tive má sorte”. Deixa que a gente decida, por favor.
Mas enfim, pelo menos a mensagem do filme é que perdoar é importante. Uma lição de tolerância prum público que meio que me fez perder a fé na humanidade.