CRÍTICA: MATADORES DE VELHINHA e TERMINAL / Dois filmes de auteur, um ator
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CRÍTICA: MATADORES DE VELHINHA e TERMINAL / Dois filmes de auteur, um ator


Hoje vou falar não de um, mas dois filmes, e a única coisa que eles têm em comum é o Tom Hanks. O primeiro é “Matadores de Velhinha”, refilmagem de uma comédia britânica de humor negro de 55, que eu vi faz muito tempo (não na década de 50, mais tarde) e não lembro nadinha além de que é bem divertida. Bom, este “Matadores” de agora não é muito legal, e se você acha que estou sendo condescendente, acertou – você precisava ver a cara dos meus colegas espectadores, que odiaram o negócio com todas as suas forças. Pra ser sincera, eu tinha esquecido de quem era a direção, e os créditos iniciais não disseram, mas não precisei mais que dez minutos pra concluir que só podia ser dos irmãos Coen. Não que “Matadores” seja uma obra autoral (é, em parte), mas é que só alguém com a reputação lá em cima pra tardar tanto pra começar um filme. Não é exagero assumir que a comédia demora dois terços do seu tempo pra ter início. O terço final até que é engraçadinho, mas antes de chegar lá o público já tá espumando por causa de tanta exposição de personagens que não são necessariamente interessantes. Precisa mesmo mostrar uma missa gospel inteira?
Eu sou fã número um dos Coen, “Fargo” é uma obra-prima, “Arizona Nunca Mais” quase, e até seus projetos mais comerciais, como “O Amor Custa Caro”, são agradáveis. Mas “Matadores”, sobre um grupo desastrado que assalta um cassino, certamente pertence ao lado B da filmografia deles. Cinco minutos de “Um Peixe Chamado Wanda”, em que a ex-trupe Monty Python tem que liquidar uma velhinha e acaba, sem querer, eliminando seus três yorkshires, já são infinitamente superiores a qualquer cena desta última investida dos Coen. Tom Hanks se sai bem num papel atípico, mas seu personagem de fala erudita dá nos nervos por contribuir com a enrolação. Como eu disse, eu gostei do terço final, se bem que até lá metade da platéia já tinha deixado o cinema xingando a mãe dos Coen.

O segundo filme do Festival Tom Hanks que assola o país é “O Terminal” que, apesar de não ser uma comédia deslavada, faz rir muito mais que “Matadores”. Nessa aventura do Spielberg, o Tom faz um pacato carinha de um país fictício que chega a Nova York e acaba morando no aeroporto durante meses. Ou seja, uma situação à la Capra em que o Tom encarna o James Stewart direitinho. Dizem que a trama é baseada numa história real de um iraniano que tá vivendo no Charles de Gaulle há quinze anos. Olha, eu até posso acreditar que isso aconteça na França, mas nos EUA pós-11 de setembro, com toda aquela paranóia e trogloditice com os estrangeiros?! Duvido. Todo mundo é bonzinho com o Tom, tirando o chefe de segurança interpretado pelo Stantey Tucci, que também não é má gente. E mesmo assim vem um superior dele pra recordar que os EUA são a terra da oportunidade, um país famoso pela sua, ahn, compaixão (diga isso pros iraquianos que tiveram sua nação salva, embora alguns milhares deles tenham tido que morrer no processo, mas é o preço da liberdade etc). A vida do Tom no aeroporto é melhor que a vida na maior parte dos países subdesenvolvidos. Ele até arranja um emprego ganhando 19 dólares a hora e, de lambuja, tem um caso com a Catherine Zeta-Jones. Quer dizer, é coisa de cinema, sem a mínima semelhança com a realidade. E no entanto “Terminal” é bonitinho, e a última linha diminui um tiquinho a patriotada. O filme é o contrário de “Matadores”: aqui a peteca despenca no seu terço final, mas até lá o Tom já nos conquistou.

Não é um grande Spielberg, claro, apesar de ser mais “autoral” que seus dois últimos (e ótimos) filmes, “Minority Report” e “Prenda-me se For Capaz”. Pelo menos o diretor consegue destilar toda sua confiança na natureza humana. E quem mais adequado pra fazer um sujeito puro e simples que o Tom? Em “Matadores” ele também faz um sujeito puro e simples, só que com um vocabulário um tanto esquisito. Quando ele põe seu desempenho puro e simples no nível mais avançado a gente recebe a carga tóxica de “Forest Gump”. Mas, com exceção desses momentos difíceis na história da humanidade, o Tom é sempre bom.





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