CRÍTICA: MINORITY REPORT / Olho nos olhos
Geral

CRÍTICA: MINORITY REPORT / Olho nos olhos


Não sou do tipo que detesta o Spielberg porque ele é rico, ou que despreza o Tom Cruise porque ele é divinamente lindo. Tampouco odeio filme americano só porque é americano. Isso posto, posso declarar com todas as letras que gostei um monte de "Minority Report – A Nova Lei", mais um título não-traduzido a entrar no panteão da pronúncia errada dos brasileiros que não falam inglês. Estarei chutando alto se imaginar que 95% do pessoal se referirá ao filme como "Minóriti Rêpórti", oxente?

É interessante ver Spielberg e Tom enfim juntos, mas se "Mainority" (pronúncia correta) funciona, é por causa de outro nome: Philip K. Dick. É dele o conto em que o longa é baseado, assim como são de sua autoria as idéias por trás de "Blade Runner" e "O Vingador do Futuro". Uma coisa em comum nos heróis desse escritor morto em 1982 é que eles sempre desconhecem algo relevante da sua própria personalidade. Outra coisa é que, mais que heróis, eles são homens comuns. Aí chega Hollywood e quem ela escala pros papéis de homens comuns? Ué, Harrison Ford, Schwarzza, e agora Tom Cruise. Porém, se as três produções citadas estão bem acima da média, isso se deve à criatividade de Dick. E a sua obsessão por temas fascinantes como, ahn, olhos.

"Mainority" já começa a todo vapor, com o detetive Tom prevenindo um crime microssegundos antes que ele ocorra. Nessa seqüência eletrizante, ouve-se repetidamente "não posso ver sem eles". A gente ainda não sabe se estão falando de olhos ou óculos, mas o mote é claro. A visão será lembrada durante o filme inteiro. Bom, acho que é tradicional nesse ponto contar um tiquinho da história, pra quem não viu o trailer não ficar perdido. Estamos em 2054, em Washington. Não acontece um só assassinato na cidade há seis anos, desde que três "precogs" (mistura de profetas e cobaias de laboratório) foram colocados numa espécie de piscina para prever crimes. Daí, os policiais vão até o local e prendem o acusado antes que ele possa matar sua vítima. O Tom trabalha lá e acredita no sistema – até que os precogs anunciam que ele precisa ser detido antes de matar um cara que ele nunca viu antes. Ele passa o resto do filme fugindo, só que fugir não é nada fácil numa época em que a identificação se dá através da íris. Por exemplo, não parece assustador entrar numa galeria e ouvir os telões, painéis, outdoors e outras parafernálias publicitárias falando o seu nome e oferecendo produtos? "Lola, não deixe de comprar o novo celular que cabe no seu dedo". É um horror esse futuro. A única boa notícia é saber que viveremos num mundo sem óculos escuros. Ah, e tem os carros também, que andam sozinhos. Mulheres, ainda este século não teremos mais problemas pra estacionar!

Há outras cenas de tirar o fôlego, como a da cirurgia do Tom, a das aranhinhas invadindo o prédio, a da fuga no shopping... Tudo vai super bem até a derradeira meia hora. Diria que não gostei do final, mas alguém poderia me perguntar: "qual deles?". Pois é, precisa ter tantos fins? Será a síndrome de "Inteligência Artificial"? Meu Deus, o que aconteceu com o Spielberg que sabia terminar um filme?! "Mainority" é bárbaro enquanto os temas discutidos são "vale a pena sacrificar as liberdades individuais pela eficiência do estado?", ou "como uma pessoa pode ser considerada assassina antes de assassinar?", ou mesmo um negócio que ninguém menciona, que é a reabilitação dos condenados. No entanto, quando a idéia central passa a ser "precog também é gente", a história se perde. E piora quando um personagem que nem sequer existia surge do nada pra salvar o herói, né?

Mas "Mainority" tem inúmeras qualidades e deve ser visto, nem que seja pra presenciar uma enfermeira realizando o sonho de metade da humanidade (traduzindo: pegando no bumbum do Tom), ou pra gerar uma bela polêmica num grupo de bar mais tarde. Só não recomendo pra quem esteja com a cirurgia pra miopia marcada ou pra quem tá aprendendo a usar lente de contato. Tem olho demais no admirável mundo novo dickiano.





- Melhores Filmes Da DÉcada Em Cada Categoria – Parte 1
Depois de apresentar três listas com as contribuições de diretores importantes para o cinema na década que vai de 2000 a 2010 (tenho que incluir o ano 2000, que oficialmente pertence à década de 90, porque quando fiz a lista dos anos 90, o último...

- Cri-crÍtica De Trailer: Hancock
Leia as críticas do filme aqui e aqui. Gostei do trailer. Não sei se vou gostar do filme, porque ele parece misturar demais os gêneros pro meu paladar. Anyway, esse mix de aventura de ação, comédia e até drama social (o protagonista é alcoólatra)...

- CrÍtica: O Pagamento / Ajuda-me A Esquecer
Fomos ver “O Pagamento”, última empreitada do John Woo, aquele um que é considerado mestre do cinema de ação, e, referindo-se ao título, o maridão quis saber sobre os críticos profissionais que chamaram essa meleca de obra-prima: “Você acha...

- CrÍtica: Demolidor / Herói De Bengala
Nada como uma coincidência irônica pra animar nosso dia! “Demolidor – O Homem sem Medo” estreou aqui em plena epidemia de conjuntivite, e o maridão compareceu ao cinema de óculos escuros, em homenagem ao super-herói da Marvel e ao vírus recém-adquirido....

- CrÍtica: Ai InteligÊncia Artificial / Mais Artificial Que Inteligente
Era uma vez um cineasta bilionário que sofria da síndrome de Peter Pan. No futuro, a gente vai se referir ao Spielberg deste jeito. O Steven é um adulto em miniatura, uma criança com barba. Esta infantilidade excessiva lhe serviu muito bem em “ET”...



Geral








.