CRÍTICA: O AVIADOR / Mais um excêntrico voador
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CRÍTICA: O AVIADOR / Mais um excêntrico voador


Sempre pensei que a maior contribuição do Howard Hughes pra história da humanidade foi ter inventado um sutiã pra Jane Russell, mas agora, depois de ver “Aviador”, descubro que não. Ele também financiou o desenvolvimento de aviões e quebrou uns recordes de velocidade. E eu com isso? Ainda vou precisar de muito esforço pra me convencer que ele foi importante. Porque, sabe, só porque Hollywood pega a vida dele e faz um filme que leva onze indicações pro Oscar não o faz um sujeito valoroso ou interessante. Aliás, eu disse “pega a vida dele”? Em termos. Parece que, na vida real, o sujeito era bissexual, racista e anti-semita, e a Miramax deve estar rezando pra que os membros da Academia (judeus em sua maioria) não leiam a biografia do carinha, ou as chances de estatuetas vão pelos ares.

“Aviador” se concentra em só um pedacinho da vida do Howard, entre 1927 e 47. Começa com o menino sendo banhado pela mãe e doutrinado sobre as impurezas do mundo. Ele cresce, vira o Leonardo DiCaprio, um rapagão cheio de energia e criatividade pra torrar os milhões de dólares que herdou dos pais. Ele basicamente usa a fortuna para fazer filmes independentes e construir aviões. Aí vem aquela velha fórmula: se o Howard fosse pobre, seria tido como um louco varrido. Como é rico, é excêntrico. Ele morre de medo de ser contaminado por germes, e eu fiquei me lembrando de outros hum, excêntricos, tipo o Michael Jackson ou o Woody Allen, que jamais tomariam banho no banheiro aqui de casa. Vamos admitir: essa gente não leva uma existência das mais felizes. Posso provar. “Ai” termina em 47, quando o Howard já tão tá nada bem. Sabe quando ele morreu? Em 76! Quer dizer, ele viveu mais três décadas em total reclusão, assombrado por micróbios. Perguntei pro maridão: “E tudo isso por causa da mãe dele?”, ao que ele respondeu: “Quem mais poderia ser?”.

Pois é, não deve ter sido por causa das beldades que ele namorou. O playboy tinha um bom currículo amoroso: Jean Harlow, Katherine Hepburn, Ava Gardner (e Cary Grant, não no filme). Mas a verdade é que achei o Howard assexuado em “Aviador”. Ele é mostrado mais jantando com as atrizes do que propriamente, como direi, jantando as atrizes. A Cate Blanchett, favorita ao Oscar de melhor coadjuvante, faz uma caricatura da Katherine Hepburn. Deve ser a coisa mais simples prum ator fazer: imitar uma pessoa. Ou seja, ela fala com o nariz pra cima. Vê-la, e também a Kate Beckinsale no papel de Ava, só me fez pensar em como as estrelas de antigamente eram mais bonitas. O Leo tem charme e segura seu personagem enquanto dá, mas ele é jovem demais pra interpretar um Howard de 40 anos. Resultado: a Cate Blanchett acaba parecendo a mãe dele.

O filme é cansativo e se arrasta no seu terço final. Mas vou tentar uma explicação porque muitos críticos, homens, americanos, adoram “Ai”. Primeiro, porque o personagem foi pra cama com todas as estrelas de cinema que eles idolatram. Segundo, porque “Ai” é do Martin Scorcese, de quem todo cinéfilo gosta. Mas esta é das produções mais impessoais, mais sob encomenda, do Scorcese. Em seu favor, posso dizer que ele não pinta o Howard como um grande herói (compare com o visionário de “Tucker”). Pelo contrário, “Ai” tem um ranço de culpa católica, típico do Scorcese, e o pecador-mor termina sendo punido. Mas, pra mim, e sem querer eximir de culpa o Scorcese, o problema é mais com o personagem que com o filme. Howard podia ter usado sua fortuna em prol de atividades mais nobres, como, por exemplo, financiar o fim das baratas no planeta (elas carregam micróbios, não carregam?). Tenho mais que fazer que admirar um capitalista selvagem cujo único mérito foi não precisar de milhagens aéreas pra poder voar. Depois de “Em Busca da Terra do Nunca” e este “Aviador”, não agüento mais ver excêntrico voador.





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