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CRÍTICA: O TIGRE E O DRAGÃO / Eles são muitos, mas não podem voar
Sinto-me até meio constrangida comentando "O Tigre e o Dragão", já que não gosto de artes marciais, sou da paz, desprezo espadas, não sei falar chinês mandarim, minha vida romântica não é exatamente épica, e ainda não aprendi a voar. Ou seja, não me identifiquei com o filme que está sendo elogiadíssimo pela crítica internacional e meio desprezado pela local. Não que "TD" não seja interessante. É só que eu, Tartaruga Manhosa, não ligo pro gênero. E daí se este for o filme definitivo sobre lutas marciais? Me avisem quando fizerem o filme definitivo sobre jujubas amarelas, que dá na mesma. Um breve intervalo informativo para parecer que consigo escrever algo inteligente. O wu xia é um mito chinês, similar aos samurais no Japão e aos faroestes americanos. Envolve toda uma tradição de guerreiros que, acredita-se, são tão bem treinados e iluminados que são capazes até de levitar. "TD" trata desta lenda, através das histórias de amor de dois casais – um formado por exímios lutadores quase se aposentando, que têm dificuldade em revelar sua paixão, e outro composto por uma princesa boa de combate e um pirata do deserto. É sabido que o diretor Ang Lee tentou vender "TD" como uma espécie de "Razão e Sensibilidade" (outro filme seu) com artes marciais. Pronto. Este é o último fato útil que você vai ouvir de mim. De agora em diante o artigo rola ladeira abaixo. Esteja avisado.
O que mais me impressiona nestes épicos são os apelidos dos personagens. A única vilã chama-se Raposa Jade, o pirata é Nuvem Escura, e deve haver algum Dragão Escondido e Tigre Agachado como promete o título original, mas acho que perdi a concentração e as legendas naquele momento. Demorei um tempão pra descobrir que Destino Verde era uma espada, não um espadachim. É claro que meu marido, o Velho Touro Sentado, confundiu todos os nomes. Nas suas palavras, "tudo que me lembro é que tinha alguém chamado Chulé".
Também me recordei do maridão, que por ventura estava assentado ao meu lado, numa das grandes cenas românticas do filme. O pirata e a princesa conversam, e ele conta que quando menino procurava uma estrela cadente. Agora ele é um homem, e encontrou a estrela mais brilhante de todas, diz olhando fixo pro seu amor. Bem que o Touro Sentado poderia fazer uma declaração dessas pra mim. Com sua dose de sarcasmo, ele não deixaria de apontar pro céu logo após o comentário e concluir: "aquela estrela ali, tá vendo?".
Como dá pra reparar, eu não prestei tanta atenção na película. Talvez porque o esquema diálogos-intercalados-com-luta me cansou um pouco. É como um musical: o pessoal fala, fala, fala, e aí vem o número da dança, que foge totalmente da realidade. Em "TD", os melhores guerreiros voam, saltitam nos telhados e se equilibram sobre galhos de bambu. Isso tudo carregando uma espada e imitando os gemidos do Guga ao mesmo tempo. Eu já tinha visto isso em "Matrix" e em, óh Deus, óh vida, "As Panteras". O coreógrafo é um só. Mas, em "Matrix", o kung-fu virtual tinha alguma razão de ser, e acho que eles usavam mais câmera lenta, que permitia a compreensão dos movimentos. Em "TD" é tudo rápido demais. Só vi um monte de pernas e braços se mexendo.
"TD" claramente vai ganhar o Oscar de filme estrangeiro, e quiçá uma ou outra estatueta técnica, se estas não forem pra "Gladiador". O que me leva a apostar minhas fichas em "Tráfico". Não é possível que o Oscar não tenha conseguido indicar um só grande filme. Ou é? Qual foi o grande filme do ano passado, se é que houve algum? "Tráfico" é minha última esperança. Deve ter havido uma safra pior na história do cinema do que o ano 2000. Hipóteses levantadas para esta coluna, por favor.
Mas "TD" valeu a pena por um motivo. Ao sair da sala de exibição, vi o gerente parodiando golpes de kung-fu. Muito divertido. Também presenciei um espectador despedir-se com um sayonara. Imagino que os chineses adorem ser confundidos com japoneses. Deve ser como chamar brasileiro de argentino. A Tartaruga Manhosa fica por aqui.
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