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CRÍTICA: PONTO FINAL / Um Woody Allen gigante
O mais recente Woody Allen, “Ponto Final”, começa enfocando uma rede e uma bolinha de tênis. A voz em off diz que tem vezes que a bolinha pára na rede, e que a sorte decide de que lado da quadra ela cai. Se cair do lado do adversário, você ganha, senão... E o filme termina – desculpe, mas vou ter de contar – com eu e três amigas em Floripa gritando histericamente “Amei! Amei!”. Tem crítico falando que este é o melhor Woody da última década. Geralmente esse comentário é seguido por um “Mas também...”. Bom, no meu caso, sou grande fã do diretor. Até as comédias meia-boca dele são superiores ao que é produzido em Hollywood. Tudo bem, detestei “Todos Dizem Eu te Amo”, e não compartilho do entusiasmo por “Tiros na Broadway”. Mas o cara é um fenômeno: se recuperou de um escândalo sórdido, segue lançando uma obra todo santo ano, e consegue patrocinadores na Europa mesmo quando americano não vê mais nada dele. E não tem muita gente que pode se gabar de ter tanta coisa louvável no currículo: “Hannah e suas Irmãs”, “Crimes e Pecados”, “A Rosa Púrpura do Cairo”, “Zelig”, “Manhattan”, “Annie Hall”, “Maridos e Esposas”... E agora “Ponto Final”. Pois é, pra mim “Ponto” entra na galeria das obras-primas dele. E é também o melhor filme do ano passado. É pouco ou quer mais? “Ponto” mostra um Woody singular, quase irreconhecível. Sai Nova York, entra Londres, e o suspense substitui a comédia. Mas traz as mesmas dúvidas existenciais de sempre. A diferença é que ninguém discute na tela se Deus existe. Quem vai ter de fazer isso é o público – depois da sessão, pelamordedeus! Tá, o drama trata de um ex-tenista profissional e agora professor de tênis (Jonathan Rhys-Meyer, ó três nomes!) recém chegado a Londres. Como em “Por um Lugar ao Sol”, o sujeito é ambicioso. Ele não apenas lê “Crime e Castigo”, como também um livro que explica Dostoievski tintim por tintim. Ele adora ópera, e não tem um tostão. Logo ele faz amizade com o que ele está treinando e quer tanto ser (rico), se envolve com uma moça rica, o pai dela arranja um emprego pra ele numa de suas empresas. Quando ele e a moça se mudam pra um apartamento maravilhoso com vista pro rio Tames, eu ouvi duas coisas: o público suspirar “Ahhhh” e o Joel Grey em “Cabaré” cantando “Money”. Só que o carinha também se envolve com a Scarlett Johansson (de “A Ilha” e “Encontros e Desencontros”), uma mulher que sabe do seu fascínio sobre os homens. E mais não posso contar pra não entregar a história.
Ecos de “Crimes e Pecados”, lógico, mas lá a trama do oftalmologista e sua amante inconveniente é só um pedaço. Aqui é o filme inteiro, sem direito a piadinhas como a do Woody reclamando que a última vez que entrou numa mulher foi quando visitou a Estátua da Liberdade. “Ponto” não tem um só passo em falso. A história vai indo, vai indo, e de repente você tá no meio do maior suspense, se perguntando “Desde quando o Woody se inspira no Hitchcock?!”. Eu me peguei dialogando com a tela, sussurrando “Não acredito que esse personagem vai fazer essa presepada!”. E pior: torcendo pro crápula que engana as mulheres se safar. Aí vem o fim, totalmente imprevisível e brilhante, tão brilhante e bem-escrito que só podia gerar a nossa reação de “Amei! Amei!”. Que “Brokeback Mountain”, que “Munique”, que “Capote”, que nada! O filme de 2005 que vou me lembrar com carinho será “Ponto Final”. Bem-vindo à velha forma, Woody!
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