Ok, então o que mais a Lolinha viu quando não estava pensando no pingolim encolhido do Super? Viu uma historinha meio chinfrim, mas adequada pra apresentar o paizão dos super-heróis a toda uma nova geração que nem respirava em 87. Na realidade o Super vem de 1938, e isso se nota porque, no universo onde ele vive, o povo se informa através do Planeta Diário, não da Rede Globo. E também porque ele troca de roupa em cabines telefônicas. Como as cabines estão tão extintas quanto os dinossauros, agora ele tira a roupa no meio da rua mesmo. Mas tirar a roupa é fácil, apesar de caro. Quero ver é colocar a roupa. Não sei se o salário do Clark Kent dá conta de tanta camisa jogada fora no poço do elevador. De qualquer jeito, o Super é tão antigo que o maridão narrou que ele e os amigos faziam enquetes na década de 60 pra eleger qual herói voava melhor... e elegiam o National Kid. Eu devia ter pulado essa parte.
Mas pra qualquer um que vivia em 78 a música do John Williams traz uma carga emocional muito forte. Eu me senti com onze anos de novo. O elenco da vez tá bem razoável. O Gene Hackman fez o Lex Luthor definitivo, mas Kevin Spacey também tá bem. Os diálogos mais divertidos são os dele. Todo mundo ri quando ele pergunta pra Lois Lane: “Você tem certeza?”. Ou ele esclarecendo pra amante que o Super sabe quando uma mulher finge. Ou ele dando uma peruca prum menininho e dizendo, “O resto é meu”. Desta vez o Lex quer uma ilha só pra ele, o que tiraria espaço de metade dos EUA. O mapa não mostra direito, mas desconfio que parte da gente aqui (talvez o Nordeste) também seria coberta pelas águas. Felizmente nosso herói salva Porto de Galinhas.
Já o Brandon Routh, que faz o Super, tem uma missão mais difícil. Tem ocasiões que ele parece o Christopher Reeve, noutras um boneco de cera, mas quem ele mais parece mesmo é a Sandra Bullock. Sério, gente, coloca uma peruca nele e temos a Sandra. E ainda assim precisamos tirar o chapéu pro Brandon. O rapaz não tá apenas substituindo o maravilhoso super do Christopher, mas entrando no lugar de um astro canônico, que já era santo antes de morrer, desde o acidente que o deixou tetraplégico. O Brandon conquistou meu coraçãozinho cínico na minha cena preferida, quando ele e a Lois saem pra voar. Ela diz pra ele que seu namorado sempre a leva pra voar, ao que ele retruca “Mas não assim”. No momento seguinte ela sussurra “Tinha esquecido como você é quentinho” (e se o Super não fosse tão sério ele corrigiria: “Quentão! Quentão!”). Até guri de dez anos consegue sacar a conotação sexual.
A Lois não é um papel fácil, até porque o Homem de Aço poderia namorar qualquer uma das 3,5 bilhões de mulheres do mundo e, ouso dizer, uma enorme parte da população masculina, e a gente deve acreditar que o Super Fiel só tem olhos (e capinha, e collant) pra Lois. Aliás, preciso me lembrar de nunca pegar o mesmo avião que a Lois. Tudo bem que o Super a salva, mas ô mulher pra se meter em encrenca. Melhor anotar no meu caderninho pra nunca estar no mesmo país que a Lois, só pra garantir. A Kate Bosworth que faz a Lois é jovem demais. A Margot Kidder parecia mais inteligente. Sei lá, eu até acreditaria se a Lois da Margot ganhasse o prêmio Pulitzer. Mas gostei da Lois, ressentida, escrevendo artigo pichando o Super. É bom pros homens saberem do que uma mulher deixada pra trás é capaz. Se o maridão me abandonar, publico um artigo no jornal chamado “Porque o Mundo não Precisa do Maridão”. E ainda ganho o Pulitzer.
Acho que, de retorno a retorno, prefiro o do Batman, mas este “Superman” dá um bom caldo. Lá pelas tantas um pacotinho tímido despenca do céu e a gente pensa: é um pássaro caindo? Um avião? Nessas horas difíceis minha mãe se confunde e grita: “Não! É o Homem-Aranha!”. Homem de collant é tudo igual.