CRÍTICA: TROPA DE ELITE 2 / Pede pra sair, reaça!
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CRÍTICA: TROPA DE ELITE 2 / Pede pra sair, reaça!


Capitão Nascimento antes de perder as ilusões.

Momentos de emoção! Primeira vez que volto ao cinema após ver A Origem! Essa ausência se deve ao trabalho insano e também à falta de grandes atrações nas telonas. Mas muit@s leitor@s exigiram minha crítica sobre a produção mais polêmica da temporada, e aqui estou eu: a última pessoa a falar de Tropa de Elite 2.
Antes preciso tratar um tiquinho do filme de 2007, até pra lembrar dele. Vi o fenômeno no computador, pois eu vivia nos EUA quando todo mundo passou a falar do troço. E gostei muito. Tem um ritmo excelente, boas interpretações, diálogos que viraram moda. Mas nem por isso deixei de achar o tema fascista. Ele glorifica um grupo policial, o BOPE (Batalhão de Operações Especiais), tão incorruptível quanto justiceiro, que não tem problema algum em sair matando criminosos sem julgamento. E, numa cena chave, espanca um usuário de drogas da zona sul que vai à favela comprar maconha. Defender tortura e execuções sumárias e tirar sarro da defesa de direitos humanos são, sim, ideias fascistas, e perigosas. Mas é perfeitamente possível condenar a mensagem e gostar do mensageiro, não? Por exemplo, um dos clássicos do cinema que eu mais amo é Laranja Mecânica ― que me lembra Tropa porque alguns ex-membros da gangue do protagonista viram policiais (violentíssimos, lógico). Mas o tema de Laranja é pra lá de duvidoso.
Bom, certamente Tropa 2 é muito mais complexo que Tropa 1. Logo na primeira sequência eu já fiquei apreensiva com o tratamento que seria dado aos “intelectuaizinhos de esquerda”. Quem narra é o herói, Capitão Nascimento (Wagner Moura), que, após dez anos de trabalho árduo, continua comandando o BOPE. Diante de uma rebelião de presos em Bangu I, tudo que o capitão gostaria seria deixar que todos os presos se trucidassem entre si, ou autorizar a entrada de sua tropa pra dar sua ajudinha no genocídio. Mas ele reclama que não pode fazer isso por causa de Fraga (Irandhir Santos), um professor de História e ativista de direitos humanos. E a montagem vai intercalando a violência dentro do presídio com uma palestra de Fraga (em que ele faz uma conta absurda provando como, em 2080, todos os brasileiros estarão na cadeia) com a narração condenatória do capitão, que odeia tanto os bandidos quanto os ativistas que defendem direitos humanos para esses bandidos. A pessoa chamada para interceder e evitar que Bangu I se transforme num novo Carandiru é Fraga, e aí eu pensei: ihhh, o filme vai deixá-lo mais ridículo ainda ― ou ele vai se corromper ou se borrar de medo. E não, nada disso acontece. Pelo contrário: Fraga é corajoso, sabe negociar, entra na linha de fogo, recusa colete de balas, não titubeia um momento sequer. Quando tudo dá errado e um policial do BOPE atira no presidiário, Fraga dá entrevistas às redes de TV e faz uma pergunta importante: a gente quer uma polícia que tenha a caveira como símbolo? O capitão critica a exploração da camiseta em inglês do Human Rights Watch manchada de sangue, mas quer saber? É Fraga o herói do filme. Ele não vai embora. Ele se casou com a ex-mulher do capitão e agora cria seu filho. Até o final, não vai haver um só fato que o desabonará ― ele se elege deputado estadual, depois federal, chefia CPI, bate de frente com a corrupção, colabora com a imprensa, é ético e idealista (parece que o personagem foi baseado no deputado estadual pelo PSOL do Rio, Marcelo Freixo).
Enquanto isso, o capitão é apresentado como um homem amargurado, solitário, cheio de dúvidas, que na maior parte das vezes não sabe o que está acontecendo. O filme mostra o seu aprendizado. O seu adeus às ilusões. E, claro, não às ilusões da esquerda, personificadas por Fraga, mas às ilusões de direita. Depois do massacre em Bangu I, o capitão é aplaudido de pé ao entrar num restaurante de luxo, o que responde à pergunta sobre o tipo de polícia que queremos. Ele é promovido a subsecretário da segurança e tirado das ruas para servir à inteligência (espionagem). Com a sua força, o BOPE invade favelas e mata um monte de traficantes. E então, o Rio se transforma num paraíso? Não. O sistema é corrupto e tem a manha de se reinventar. Quem toma o poder nos morros é a milícia. Favelado deixa de ser explorado pelo traficante pra ser explorado por uma máfia composta de policiais e políticos. O capitão assiste a tudo, impotente.
E o vilão no filme pode ser o sistema, como repete um de seus dois heróis, o capitão. Mas o vilão também tem rosto, mais especificamente duas caras: o apresentador de programa sensacionalista que vira deputado, e o policial chefe da milícia. Pra mim, a cena mais apavorante é uma em que o poderoso chefão anda de revólver em punho, discursando e dançando, tudo segurando uma arma.
Tropa 2 tem um certo fascínio pela violência explícita, mas até aí, qual filme não tem? Um momento fascistóide que deve provocar grande prazer ao espectador é quando o capitão organiza uma blitz para parar um deputado, o arranca do carro e o espanca até nocauteá-lo. Vi a produção num cinema vazio, mas suponho que, num fim de semana, esta cena deve causar uivos na plateia. Ao mesmo tempo, o filme é até anticlimático por não punir certos personagens como gostaríamos. Não vemos diretamente o que ocorre com os vilões. Eles nem sofrem!
Tropa 2 é ótimo pra constatar qual a ideologia de cada um. Quem é de direita vai odiar Fraga porque odeia defensor de direitos humanos e, consequentemente, poderá detestar o filme que faz dele um herói. Um comentarista do tio Rei, que é quem melhor representa a direita no nosso país hoje, com suas ideias Tradição, Família e Propriedade, sem tirar nem por, disse que saiu do primeiro Tropa louco pra encontrar uma passeata pela paz pra dar porrada, mas desta vez se decepcionou (tio Rei detestou Tropa de Elite 2, e afirmou que o Capitão Nascimento só faltou se filiar ao PSOL). Normal: a direita acredita que a criminalidade é causada unicamente por escolhas individuais, não por problemas sociais, que bandido bom é bandido morto, que polícia deve atirar primeiro e perguntar depois, que vale tudo pra proteger a propriedade, e que maconheiro também merece apanhar, pra deixar de ser bicho-grilo com camiseta do Che. Isso tudo foi louvado em Tropa 1. Mas desapareceu de Tropa 2.
Como diz o slogan do filme, “o inimigo agora é outro”. São vocês, reaças.




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