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CRÍTICA: WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS / Puxa-saquismo
- Não deixem de visitar meu parque!
Esses dias vi o pior filme (até agora) de toda a safra Oscar 2014. Detestei muito Walt nos Bastidores de Mary Poppins, título ridículo para o título original medíocre Saving Mr. Banks (veja trailer legendado). Aliás, o único deleite que tive vendo essa porcaria foi me divertir com as legendas em português mais catastróficas dos últimos tempos (eu vi no computador: essa é minha vida de pirata atualmente, sem tempo pra ir ao cinema). Numa hora que a personagem da Emma Thompson diz algo como "You think Mary Poppins saved the children?" ("Você acha que Mary Poppins salvou as crianças?"), o tradutor não quis nem saber e tacou na tela um "Você acha que Mary Poppins economizou as crianças?" Ele provavelmente traduziria o título original para Economizando o Sr. Bancos (e por mim tudo bem). Foram os Estúdios Disney que fizeram o troço. O que quer dizer que é um dos maiores casos de puxa-saquismo já vistos nas telas de cinema. Walt (interpretado por Tom Hanks -- e sempre que o Tom interpreta um personagem da vida real, o cara automaticamente ganha um upgrade. Se algum dia fizerem um filme sobre a minha vida, quero ser interpretada pelo Tom) é um visionário, um patrão maravilhoso, um pai incrível, e até um filho sem rancor que perdoou o pai dele que o obrigava a entregar jornais no meio da neve aos oito anos de idade. Economizando o Sr. Bancos é praticamente uma hagiografia do Walt, feita por seus funcionários mais dedicados. E gente, vamos admitir: Mary Poppins, o filme, envelheceu mal. Não virou clássico. Isso vindo de alguém que considera qualquer musical (Evita, A Pequena Loja dos Horrores) um clássico. Faça o teste: qual música bobinha de Mary Poppins ainda é cantada hoje, cinquenta anos depois? (o filme foi lançado no mesmo ano em que os militares brasileiros deram o golpe contra a nossa democracia). Sem falar que o filme é uma completa mentira
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Julie Andrews, Walt Disney e P. L. Travers na premiere de Mary Poppins |
P. L. Travers, autora da série de livros infantis Mary Poppins, odiou com todas as forças -- quase tanto quanto eu odiei Economizando Sr. Bancos -- a adaptação que os Estúdios Disney fizeram. É verdade que ela chorou na estreia de Mary Poppins. Mas não foi exatamente por estar comovida. Ela ficou tão, tão furiosa que não só nunca mais vendeu os direitos pra qualquer um de seus livros pra Disney, como deixou no seu testamento que, se uma produção teatral fosse feita de Mary Poppins, ninguém do filme poderia estar envolvido. Talvez a cena mais embaraçosa do Economizando Sr. Bancos seja ver Paul Giametti, um ator que normalmente é ótimo, reduzido a chofer e única pessoa que gosta da escritora. Ele personifica o puxa-saquismo diligente do filme no momento em que vê Walt Disney receber Travers na Disneylândia (outra cena que nunca existiu na vida real). Paul vê seu patrão de braços abertos, receptivo, e diz, admirado, "Hot dog!" (uma gíria datada para "Puxa vida!", que as legendas em português, óbvio, traduziram como "Cachorro quente!"). |
Maior sacanagem com o Paul Giamatti |
Até me chateio por ter desgostado tanto de um filme escrito por duas roteiristas mulheres (se bem que uma delas é responsável pelo roteiro de 50 Tons de Cinza) e que, bem ou mal, tem uma mulher como protagonista. Mas a personagem é insuportável. E o filme está cheio de flashbacks da infância dela que não funcionam. Só interrompem a história. E olha que pra me fazer chorar com uma trama de pai e filha é a coisa mais fácil do mundo. Mesmo assim, não me comovi. Quer um só exemplo de como Economizando o Sr. Bancos naufraga? Pense na cena, bem no início, em que Travers chega a sua suíte de hotel na Califórnia e a encontra lotada de bichinhos de pelúcia da Disney. Podia ser uma cena engraçada. Podia ter um pouquinho de humor físico, ao mostrar Travers tentando se livrar de todos aqueles bonecos. Mas não. É uma cena que não serve pra nada. A impressão que fica é que fizeram um filme ruim desses pra mostrar que existiu alguém mais esquisitão que o cara que se congelou antes de morrer pra poder voltar depois. Ok, esse é só um mito sobre Walt Disney (na realidade ele foi cremado, em 1966), uma lenda urbana. Mas ele foi anti-semita e machista (como anunciou Meryl Streep numa cerimônia dos críticos em Nova York no começo de janeiro. Embora uma neta de Walt concorde, os conservadores não gostaram de ter um de seus ídolos criticados e a chamaram de vagabunda, dizendo que Streep não deixará legado nenhum, ao contrário de Disney. Eu tive que ler várias vezes pra acreditar que eles estavam falando da Meryl f*cking Streep, mulher mais indicada na história do Oscar e tida como a melhor atriz americana de sua geração). Eu pessoalmente não tenho muito interesse em falar mal do Walt. Pô, meus pais até me mandaram pra Disneylândia quando eu era adolescente. Mas me incomoda muito que o estúdio dele faça um filme pra canonizá-lo, ao mesmo tempo que vilifica uma mulher que queria ter controle criativo sobre a obra dela. |
- Estão falando o quê da minha amiga Meryl?! |
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