No papel de Zuzu, a Patrícia Pillar dá um show. Gostei principalmente da voz, e a atriz tá cada dia mais bonita. A cena mais comovente é ela com a foto do filho durante um desfile. Mas podiam ter mais cuidado com uma narração em off no início, dizendo que a Zuzu “costurava pra fora”. Não sei o significado disso há três décadas, mas hoje a platéia ri. Outra coisa que me incomodou foi o racismo. Quer dizer, certamente não foi intencional, mas como a gente tá tão acostumada a não ver negros na tela, é chato colocarem um logo no papel desprezível de torturador (sem falar que é irônico a Zuzu pedir ajuda do Kissinger. A CIA foi de muita valia em instalar a ditadura por aqui, inclusive ensinando técnicas de tortura pros agentes). E o menino que faz o Stuart pequeno? Além de feinho é mau ator. Os três guris que aparecem brevemente recitam suas falas. Bom saber que um deles cresce pra virar o deslumbrante Daniel de Oliveira (de “Cazuza” e da novela das sete). Chega uma hora em que ele também vai recitar e soar bem falso. É o dueto entre ele e a Leandra Leal contra os porcos imperialistas. Entendo que precisem resumir discurso ideológico, mas ficou meio ridículo. O mesmo caráter “didático” também destoa quando a Zuzu dá bronca num padre que diz que não há tortura, só uns choquinhos elétricos à toa que não matam ninguém. A Zuzu não precisava explicar que ele não representa a igreja. E a homenagem à Elke Maravilha não funciona. Mas o filme é sempre interessante, não abusa da narração em off, e os flashbacks não cansam.
E não dá pra acusar “Zuzu” de ser meloso. Pra mim, pelo menos, não fez chorar. E olha que me fazer chorar no cinema é mais fácil que tirar pirulito de criança. Se tivessem posto a magnífica música do Chico Buarque durante o filme, não nos créditos, e adicionado algumas imagens, pronto, eu traria o dilúvio ao cinema. Agora sem brincadeira, considero não usar mais a canção do Chico um erro. A maior parte das pessoas não sabe que ele compôs “Angélica” pra Zuzu, mas repare na letra: “Quem é essa mulher / que canta sempre esse estribilho? / Só queria embalar meu filho / que mora na escuridão do mar”. É linda a canção, como, aliás, tudo que o Chico faz. Inclusive não vou perder a oportunidade de esfregar no nariz das minhas queridas-mas-definitivamente-arrasadas leitoras que possuo um autógrafo escrito “Lola, eu te amo. Chico Buarque de Hollanda”. Tá aqui emoldurado na parede da sala, embaixo de dois holofotes. Mas enfim, “Zuzu” conseguiu me fazer lembrar mais do Chico de “Cálice”, com a fumaça de óleo diesel, método de tortura comum na época, que do Chico de “Angélica”. E isso não é tão bom. Sei lá, fico imaginando o dia que fizerem a minha cinebiografia. Não vão usar as dezenas de canções que o Chico compôs comigo em mente? (atenção aos desafetos: Geni não é uma delas). Pode até ser que deixaram “Angélica” de fora porque a Zuzu não a ouviu em vida. Mas não justifica, já que nem tudo no drama passa pela ótica da protagonista. Eu aplaudiria essa licença poética.