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Cuba, Irã e os midiotas nativos
Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
A notícia mais importante da quarta-feira (15/4), em toda a imprensa mundial, é a oficialização da iniciativa do presidente americano, Barack Obama, de retirar Cuba da lista de países que apoiam o terrorismo. Trata-se de uma decisão corajosa e ao mesmo tempo pragmática, que, como registrou a revista Época na reportagem de capa que circula nesta semana, faz de Obama um personagem destacado da História contemporânea. Assim, o segundo mandato do atual presidente dos Estados Unidos vai se caracterizando como um período de distensão, o que inclui a perspectiva de uma reconciliação com o Irã.
A imprensa internacional de maior relevo acompanha essas iniciativas com a cautela de quem conhece o poder das forças conservadoras no Congresso americano. Ao mesmo tempo, boletins econômicos dirigidos a investidores começam a incluir um novo cenário geopolítico no qual a redução de algumas tensões regionais pode estimular a retomada do crescimento da economia neste lado do planeta, que se convenciona como ocidental. O capital vislumbra a chance de mais lucros com o fim do ciclo de confrontos que caracterizou a era Bush.
Por aqui, nas extensas terras consolidadas em 1750 pela diplomacia de D. João V de Portugal, a política segue no rumo contrário: com o patrocínio e o apoio da imprensa hegemônica, as forças partidárias que perderam a eleição presidencial de 2014 seguem tentando transformar manifestações de seus militantes em jurisprudência para romper as regras constitucionais. O coro dos golpistas repercute no Congresso Nacional, onde parlamentares oposicionistas ameaçam propor um processo de impeachment da presidente da República.
Como já se afirmou aqui (ver “A operação Datafolha”), não há como prever as consequências de tal aventura, principalmente se as propostas de ajuste econômico forem aprovadas sem tocar nos direitos trabalhistas. A cena que hoje é desfavorável à chefe do Executivo pode virar completamente, colocando nas ruas a militância que por enquanto apenas observa. O choque entre petistas e ativistas do partido Solidariedade, ocorrido no centro de São Paulo na terça-feira (14/4), é um sinal de advertência.
Teorias conspiratórias
Os jornais martelam quase diariamente a tese da interrupção do mandato presidencial, com base em argumentos produzidos pela própria imprensa. O mais recente nasce de uma entrevista concedida à Folha de S. Paulo por um ex-representante de uma empresa holandesa que admitiu ter pagado propina em seis países, inclusive o Brasil, para fazer negócios com petróleo. O informante diz que a Controladoria Geral da União atrasou o processo de denúncia para não prejudicar a campanha eleitoral de Dilma Rousseff.
A imprensa omite o fato de que o denunciante tentou chantagear a empresa onde trabalhava, cobrando US$ 3 milhões para não denunciar a política de subornos, e agora tenta obter esse dinheiro processando seus antigos empregadores.
Essa espiral se move conforme a seguinte lógica: um jornal entrevista alguém, que faz uma denúncia, que é tornada oficial pela declaração de um político interessado na questão, vira tema de editorial e artigos, e volta ao noticiário como verdade absoluta. Não se questiona a origem, ou seja, o fato de que o autor da denúncia lucra – eventualmente, um bom dinheiro –, com sua história.
A sucessão de factoides só vai terminar com o julgamento do processo no Supremo Tribunal Federal, o que pode levar três ou quatro anos. Enquanto isso, a imprensa trata de manter a presidente da República em posição defensiva, à custa da governabilidade. O objetivo mais ambicioso é interromper seu mandato por meio de uma manobra no Congresso, mas, se isso não funcionar, vale o efeito colateral de minar sua reputação e ampliar a rejeição de seu partido nas camadas médias da população.
O processo se fundamenta na desinformação: reportagem do jornal Valor Econômico publicada na segunda-feira (13/4), colhida nos protestos contra o governo (ver aqui, para assinantes e leitores cadastrados), revela como muitos manifestantes são movido por teorias de conspiração estapafúrdias.
Essas alucinações vicejam nas redes sociais, no rastro de postagens dos colunistas pitbulls que atuam regularmente na mídia tradicional e que espalham o vírus delirante da insanidade entre seus seguidores. Uma delas diz que um avião Hércules da Força Aérea Brasileira, fretado pelo Partido dos Trabalhadores, importou 300 venezuelanos com a missão de defender o governo contra o impeachment. Outra dessas teorias afirma que também estão sendo trazidos para o Brasil ativistas de Cuba e até do Haiti, que formariam um exército de militantes prontos para entrar em ação.
Também há aqueles que juram ter conhecimento de que os médicos cubanos trazidos pelo Ministério da Saúde são, na verdade, agentes secretos que aguardam uma ordem do governo para implantar no Brasil o comunismo bolivariano.
Os midiotas acreditam piamente nessas histórias, são manipulados pela imprensa e apresentados como a “base popular” pelos golpistas.
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