Cunha sobreviverá à quebra de sigilo?
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Cunha sobreviverá à quebra de sigilo?


Por Altamiro Borges

O cerco ao correntista suíço Eduardo Cunha aumenta a cada dia que passa. Nesta sexta-feira (8), o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do presidente da Câmara Federal, de sua mulher, Cláudia Cruz, da filha Danielle e das várias empresas ligadas à família. A decisão atende ao pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e servirá para mapear as suspeitas movimentações financeiras do achacador entre 2005 e 2014. O líder da cruzada golpista pelo impeachment de Dilma é investigado na Operação Lava-Jato, acusado de ter recebido propina para viabilizar contratos da Petrobras. Também serão investigadas as contas que o deputado e a família mantinham no exterior. Será que Eduardo Cunha resistirá à devassa fiscal?

Investigações da Receita Federal confirmam que o deputado e a sua família acumularam uma fortuna "incompatível com a renda declarada" entre 2011 e 2014. O patrimônio ilegal seria de R$ 1,8 milhão. As empresas do lobista, como a 'Jesus.com' e a 'C3 Produções e Rádio', também receberam depósitos suspeitos neste período. "Os montantes dos indícios apontados estão significativamente influenciados pelos gastos efetuados com cartão de crédito", afirma o relatório do órgão. Eduardo Cunha segue na estratégia de negar as acusações - chegou a afirmar que "não possuo patrimônio a descoberto", o que agora foi desmentido pela Receita Federal - e de tentar desqualificar o procurador Rodrigo Janot.

"Mais sortudo do que um ganhador da Mega Sena"

Este, por sua vez, parece que finalmente perdeu a paciência diante dos ataques do agressivo lobista. A Folha deste sábado (9) divulgou um relatório da PGR devastador para o ainda presidente da Câmara dos Deputados. "Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi mais sortudo do que um ganhador da Mega Sena ao lucrar R$ 917 mil com papéis no mercado de capitais, apontou a Procuradoria Geral da República em documento protocolado no STF. Ao mesmo tempo em que lucrava, os negócios geraram perdas a um fundo de pensão de servidores públicos do RJ. As transações suspeitas ocorreram entre abril de 2004 e fevereiro de 2005 e foram alvo de uma investigação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)".

Os "lucros indevidos" foram obtidos com os papéis da Prece, o fundo de pensão dos funcionários da Cedae, a companhia carioca de água. "A Prece operava na época em sete fundos de investimento por meio de diversas corretoras, entre as quais a Laeta, que tinha Cunha como um dos clientes. No curso de um inquérito que tramita no STF, derivado da Operação Lava Jato, a PGR teve acesso ao inquérito que investigou os lucros de Cunha... Segundo a PGR, a apuração da CVM constatou que as taxas de sucesso de Eduardo Cunha nas operações foram de 100% no mercado de dólares e de 98% em outro papel. Cunha teria atuado em 23 pregões", registra a Folha.

Irônica, a PGR concluiu: "Para se ter uma ideia, a probabilidade de se obter taxa de sucesso de 98% ocorre em uma vez para cada 257 septilhões. Sabendo-se que a chance de ganhar a Mega Sena quando se faz a aposta mínima é de 1 em 50 milhões, verifica-se que a chance de uma taxa de sucesso de 98% é praticamente nula e decorre claramente de uma fraude". O esquema fraudulento consistia em privilegiar alguns clientes em detrimento dos próprios fundos. "Em outras palavras", aponta a PGR, "todos os prejuízos ficavam para os fundos e todos os lucros para determinados clientes das corretoras, dentre eles Eduardo Cunha". Para a PGR, havia um esquema "preordenado e preparado dentro de cada uma das corretoras e distribuidoras intermediárias envolvidas".

"Esqueceu de mim?", pergunta o lobista

Em outra linha de investigação, a Polícia Federal apresentou também na semana passada um relatório que aponta as tentativas do deputado carioca de obter grana para sua campanha junto à empresa OAS, investigada na Operação Lava-Jato. "Esqueceu de mim?", pergunta Eduardo Cunha em um dos e-mails vazados. "O relatório apresenta a íntegra das mensagens trocadas entre o presidente da Câmara e o então presidente da construtora OAS, Leo Pinheiro, e revela uma intensa troca de favores entre os dois. São 94 conversas entre 2012 e 2014, antes da prisão do empreiteiro em novembro daquele ano. Na época, Eduardo Cunha ainda não era presidente da Câmara", descreve o Jornal do Brasil. 

O relatório da Polícia Federal tem 108 páginas e foi concluído em 12 de agosto do ano passado. Ele foi encaminhado à PGR devido às citações de políticos com foro privilegiado. "Eduardo Cunha é a figura que mais aparece nas conversas. De acordo com a PF, o parlamentar teria feito 27 pedidos a Pinheiro, e recebido 26 pedidos deste... Uma conversa entre os dois acabou levantando suspeitas sobre a concessão do aeroporto de Guarulhos, administrado por um consórcio integrado pela OAS. No dia 29 de agosto de 2014, Cunha reclamava que o então presidente da empreiteira teria repassado “5 paus” para Michel e Moreira - vice-presidente Michel Temer e o ex-ministro Moreira Franco -, e deixado de ajudar Cunha, Henrique Alves, e o primeiro-secretário do PMDB, Geddel Vieira.

Fim de carreira do achacador?

As denúncias sobre as várias maracutaias de Eduardo Cunha são bem antigas. Muitas delas, inclusive, resultaram em reportagens nos jornais, revistas e emissoras de televisão. Durante a fase mais recente, a mídia oposicionista preferiu abafá-las. Apostava na agressividade do presidente da Câmara Federal para viabilizar o impeachment de Dilma. Com a descoberta das contas na Suíça do deputado e de sua família, a situação se complicou. Ele virou um estorvo para os golpistas - até os fascistas mirins, que nas suas marchas carregaram as faixas "Somos todos Cunha", ficaram órfãos e perdidos. Descartado como bagaço, as denúncias voltam à tona. Será que Eduardo Cunha resistirá a esta nova devassa?

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